domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pela Verdade - A ação do Espírito sobre a Matéria, de Luiz de Mattos

TRECHO:
Prefácio
PELA VERDADE vem a público como obra de luta, mas de luta construtiva, como foi
toda a vida de seu imortal autor.
Há aqui a demonstração eloqüente da capacidade e brilho com que Luiz de Mattos
tecia as suas campanhas, afirmando sempre a sua personalidade invulgar de construtor
sadio, que lança os lampejos da sua inteligência sobre a multivariedade dos assuntos que
mais diretamente a solicitam, para desbravá-los, com a sua indiscutível boa vontade de
esclarecer seu semelhante.
Abrangendo, na sua pesquisa, campos de outros mais conhecidos, ainda assim o seu
talento polimorfo se afirmou como um colaborador sensato e honesto, rasgando caminhos
novos em setores científicos ainda ignorados.
No terreno do psiquismo, abandonado pelo materialismo ortodoxo aos planos
secundários e desprezíveis do misticismo e da superstição, Luiz de Mattos traçou, com
pulso firme de Mestre, um vasto programa de estudos, que culminaram numa melhor
compreensão do homem, da vida e do Universo.
Sem estudos médicos que !he outorgaram uma bagagem desses conhecimentos, pôde,
ainda assim, à maneira de Pasteur, tornar-se o descobridor de causas novas de doenças,
desbravando um terreno inculto pela desídia dos homens de ciência, e proclamando, com
dados objetivos, que a atividade mental do individuo influi, poderosamente, tanto na sua
saúde, quanto na doença. É bem verdade que há muitos séculos se fala, discute e afirma em obras médicas, que
o psiquismo individual pode, por si só, ocasionar distúrbios da mais variada natureza.
Verificamos, porém, que as vozes que se têm erguido nesse sentido, pela
unilateralidade dos seus conceitos, foram postas à margem, por não terem encontrado a
acústica precisa para assertivas de tão alto teor.
Vencer sempre aquele outro ponto-de-vista, também unilateral, de encarar o lado
psíquico do homem, como subalterno da matéria, e assim mais acentuadamente se vinculou
o espírito ao corpo, ou a alma à matéria.
Com Luiz de Mattos, começamos a ter uma visão de conjunto, uma idéia mais
harmônica e precisa das correlações existentes entre a alma e o corpo. Tudo isso, bem
interpretado, nos leva àquela unidade do ser que os nossos tempos, de mais liberdade de
raciocínio, deixam antever.
Assim, começamos a dar, por uma medida de reconhecida justiça, o devido valor aos
estudos admiráveis que nos levaram ao conhecimento completo da matéria, e senhores de
outros dados, avançamos, resolutos e decididos, no estudo sistematizado e científico
daquela parte invisível do homem.
No terreno da saúde, já sabemos quais as causas físicas, microbianas, químicas e
tantas outras das inúmeras doenças que a Medicina estuda. Mas, a estas, podemos
acrescentar, dada a sua importância capital, a força psíquica, ainda hoje discutível, mas
absolutamente impossível de ser negada. Foi exatamente visando essa demonstração, que
Luiz de Mattos escreveu estas páginas, convidando os homens da ciência ao estudo
criterioso da psique humana.
Criaturas pouco afeitas à ponderação e ao justo raciocínio, não compreenderam bem
a obra do grande lidador, estigmatizando-a, logo, como malsã, por verem na crítica
altamente construtiva que ele fazia à medicina materialista, na parte em que esta se
sobrepunha à transcendência dos assuntos atinentes à Força, o ataque ao médico.
Os princípios do Racionalismo Cristão, fundado por Luiz de Mattos, têm, como
origem, o estudo científico do homem, como base, a cultura e, como fim, a espiritualidade
dos seres.
Podemos ainda, em breves palavras, definir essa obra grandiosa como tendo o estudo
individual por princípio, o enobrecimento da família como base e a espiritualização dos
povos como fim.
Os seus princípios basilares demonstram o desejo de que as criaturas esclarecidas e
fortes abram caminho na vida, construindo existências úteis, sadias e valorosas,
sobreexcedendo-se a si mesmas, dando, cada vez mais, o melhor de si próprias, alargando
o raciocínio, cultivando a inteligência e enobrecendo a existência humana.
Luiz de Mattos não regateia aplausos e elogios á obra de muitos médicos e à ação
salutar e meritória da Medicina, que a Humanidade beneficiada reconhece. Seu objetivo é
dizer que a obra da Ciência é infindável e como processo contínuo não pode estacionar
nem anatematizar aquilo que ignora, pelo simples fato de não querer pesquisá-lo.
Os redutos acadêmicos, em matéria de estudos psíquicos, têm agido, em regra, de
maneira anticientífica, prelecionando sobre fatos que não estudam, achando mais cômodo
condená-los, do que entendê-los.
Esses mentores do saber organizado e inatacável são prejudiciais à humanidade,
porque sem a sua indolência, não haveria tanta superstição e tanta religiosidade malsã a
arruinar almas e corpos.
Cabe à Ciência tudo estudar. Não lhe é permitido, em nosso século, dogmatizar,
porque as Academias não são Concílios onde os guardiões dos dogmas revelados se
reúnem para decretar, como puros e certos, os sofismas esdrúxulos da fé.
Ciência significa estudo, pesquisa e Verdade. Sendo assim, não admite atitudes
defensivas, porque ela se alteia aos interesses de classes.
Luiz de Mattos, em toda a sua vida, nada mais pediu aos homens de Ciência que não
fosse o estudo daquilo que ele lhes apresentava.
Lutou, valentemente, mas não logrou ser compreendido. Não teve, como Pasteur, a
glória de ver os redutos acadêmicos aplaudi-lo e homenageá-lo, mas aqueles que lhe
secundam a obra, esperam vê-la um dia no seio das próprias Academias, compreendida e
acatada como merece.

Introdução
As novas gerações ouvem ou lêem que Luiz de Mattos foi jornalista destemido em sua época, que suas campanhas e polêmicas despertavam grande interesse a tinham larga
repercussão no seio do povo. Entretanto, a não ser que procurem nas bibliotecas os jornais
daquele tempo, num trabalho interessante, mas exaustivo, ou nas coleções do seu jornal A
RAZÃO, atualmente mui pouco encontrariam sobre tais assuntos. É que livros de sua autoria que reuniam seus escritos sobre as campanhas que
realizou, como Cartas ao Chefe do Protestantismo no Brasil, Cartas ao Cardeal Arcoverde,
Cientistas Sem Ciência e outros, estão com suas edições esgotadas e não mais serão
reeditados.
A época é outra, tudo evoluiu, e até a singular linguagem usada por Luiz de Mattos
hoje seria diferente, segundo alegam os seus editores.
Mas a sua campanha sobre o aparecimento da obra A Cura dos Nervosos, de autoria
do Prof. Austregésilo, também nome de grande evidência naquela ocasião, recebe, agora,
nova edição, por ser o motivo da polêmica, embora antigo, sempre novo, e continuará
ainda a sê-lo por muito tempo, até que a Ciência, reconhecendo a existência da Força e
sua predominância sobre a Matéria, aceite a tese defendida pelo grande doutrinador, há
mais de cinqüenta anos, de que existem enfermidades nervosas provocadas por um agente
que atua sobre o espírito do enfermo, cujo afastamento será bastante para promover a sua
normalização.
Na verdade, a ciência e o espiritualismo não chegaram ainda a um acordo sobre as
controvertidas questões da imortalidade da alma e da lei das reencarnações e, por isso,
pensam os editores que esta reedição ainda vem "sanar uma lacuna", como é de hábito
escrever-se, nessas circunstâncias.
Outro ponto que também contribuiu para o lançamento agora de PELA VERDADE
foi o de tornar conhecida a linguagem característica do Autor que, embora escrevendo
diariamente – sua seção diária intitulava-se NOTA e saía sempre no mesmo lugar do
jornal – atraia a atenção dos leitores doutrora, como há de despertar os de hoje, movidos
pela curiosidade de conhecer os velhos adágios, os antigos provérbios, as expressões da época, que entremeiam a contestação dum livro árido de medicina, como que amenizando
assunto tão sério para ser tratado num diário. ¾ Viria daí a simpatia, a popularidade, a razão do sucesso do escritor?
A Verdade é que ele como que polarizou o jornalismo da época com suas tão
discutidas e controvertidas alegações, e sua fundação – o Racionalismo Cristão – persiste,
até hoje, na defesa e explanação dos princípios por ele disseminados há sessenta e cinco
anos, cada vez mais atuante, numa ascensão vitoriosa de seus propósitos.
Rio, 1977.

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