sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Revolutionary Road

Sinopse: Um casal jovem e promissor, Frank e April Wheeler, vive com os dois filhos num subúrbio próspero de Connecticut, em meados dos anos 50. Porém, a aparência de bem-estar esconde uma frustração terrível resultante da incapacidade de se sentirem felizes e realizados tanto no seu relacionamento como nas respectivas carreiras. Frank está preso num emprego de escritório bem pago mas entediante e April é uma dona de casa frustrada por não ter conseguido seguir uma promissora carreira de actriz. Determinados a identificarem-se como superiores à crescente população suburbana que os rodeia, decidem ir para a França, onde estarão mais aptos a desenvolver as suas capacidades artísticas, livres das exigências consumistas da vida numa América capitalista. Contudo, o seu relacionamento deteriora-se num ciclo interminável de brigas, ciúmes e recriminações, o que irá colocar em risco a viagem e os sonhos de auto-realização. Yates oferece um retrato definitivo das promessas por cumprir e do desabar do sonho americano.

Quando penso na eterna discussão sobre se um livro é melhor que um filme ou vice-versa, lembro-me constantemente da grande quantidade de livros que já li pura e simplesmente porque alguém se lembrou, em boa hora, de os levar ao grande ecrã. Os exemplos são muitos, começando pelo meu favorito, "O Senhor dos Anéis", passando por "Expiação", e acabando neste "Revolutionary Road". Ao contrário dos dois primeiros exemplos, ainda não vi este último - todas as críticas apontam para um excelente filme, com uma boa história e boas interpretações, mas quis ler o livro primeiro.

A frase final da sinopse, "Yates oferece um retrato definitivo das promessas por cumprir e do desabar do sonho americano", resume muito bem do que trata este livro. Richard Yates, falecido em 1992, publicou este livro em 1961, constituindo a sua estreia como escritor. O livro é um retrato da classe média americana dos pós-2.ª Guerra Mundial, mas acima de tudo, é um livro que fala sobre a acomodação aos modelos e valores socialmente bem aceites, sobre ir ao fundo do nosso coração e tentar perceber se levamos a vida que realmente desejamos e não aquela que os outros desejam.

Escrito num tom levemente humorístico, o livro é por vezes muito pesado emocionalmente e definitivamente dramático. Frank e April são duas personagens fenomenais: ele, que conhecemos mais profundamente, é um homem que luta para sair da futilidade, sem grande sucesso; ela, que mantém sempre uma aura misteriosa, luta silenciosamente contra os seus próprios demónios num estado de sítio que apenas podemos imaginar. Todas as personagens secundárias que compõem este retrato contribuem para a construção deste cenário de ilusão, com exclusão de John, um louco que funciona como uma espécie de consciência, dizendo aquilo que todos pensam mas que ninguém se atreve a dizer.

As reflexões que impomos a nós próprios depois de terminada a leitura são inevitáveis e perturbadoras. Apesar de ser um livro sobre uma época específica, num país diferente, suscita perguntas que farão sempre parte da vida que levamos, independemente do tempo ou do local.

Tentei, mas decerto não consegui transmitir por palavras o quão bom é este livro. Só posso recomendar a sua leitura.

9/10 - Excelente

[Livro n.º 8 do meu Desafio de Leitura]

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