segunda-feira, 31 de agosto de 2009

F Ú R I A

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Do céu, enquanto raios de desgraça
Lampejam, com furor, na noite escura,
As nuvens, que nasceram ameaça,
Derramam-se em torrentes de água pura.
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Ressoa, com fragor, por toda a parte,
A voz tronitruante de Vulcano,
Mais forte que a irada voz de Marte,
Capaz de intimidar qualquer humano.
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O vento, que fustiga em desespero
As copas dos coqueiros desgrenhados,
Mergulha de rochedos escarpados;
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Num silvo, que enfurece o mar severo,
Encontra, no rugir da profundeza,
Mais eco do que tem na natureza.
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Autor: VÍTOR CINTRA
Do livro: PEDAÇOS DO MEU SENTIR
Editora: Temas Originais, Lda.

Duas Irmãs, Um Rei - Philippa Gregory



Iniciado em 1521, este “Duas Irmãs, Um Rei” é o 2º volume da série Tudor, série essa que, obviamente, se pode ler de um modo separado mas que, quanto a mim, tem um sabor mais intenso quando lido respeitando a ordem de volumes que é também a ordem temporal dos acontecimentos narrados por Gragory.

Em “Catarina de Aragão” vimos como Catarina, infanta espanhola, filha dos célebres reis Católicos Fernando e Isabel, se torna Rainha de Inglaterra ao casar com Henrique VIII. Seguimos então a senda de Catarina rumo ao trono.

Em “Duas Irmãs, Um Rei” a acção temporal inicia-se em 1521, 12 anos após o casamento entre Catarina e Henrique.

O Rei continua apaixonado pela sua rainha, mas durante 12 anos Catarina não teve qualquer filho homem, a única criança que sobreviveu às inúmeras gravidezes foi Maria (1516) a enfezada menina que poucos davam alguns anos de vida.

Cientes da importância de um filho varão, a corte enche-se de intrigas e maledicências. A encabeçar essas intrigas está uma família poderosa: Os Bolena/Howard. E é neste círculo de tramas que toda a história deste livro avança.

Ana e Maria Bolena são duas aias da Rainha Catarina. Conforme costume em qualquer corte europeia da época, essas aias são responsáveis por entreter a rainha, jogando-se também em namoricos e mexericos com vários nobres que frequentavam a corte. Entre esses homens, o Rei que, em faustosos banquetes, ele próprio namoriscava com várias aias da rainha diante da beneplacência da mesma.

A descrição destas andanças é extraordinária. Philippa Gregory consegue-nos situar na corte, consegue-nos transmitir as imagens fazendo-nos crer que estamos presentes.

É desta forma que a família Bolena, através do seu seu influente tio, Thomas Howard, imagina uma forma de Maria Bolena ser notada pelo rei e, dessa forma, ir parar à cama do rei. Benefícios: Ganho de influência e poderio da família Bolena/Howard, assim como ganho de propriedades e títulos. Uma rede de influências e interesses nasce assim, originando um trama horrível de enganos, prostituição, sexo e assassínios.

Pessoalmente gostei mais do livro “Catarina de Aragão”, porém achei fenomenal como Gregory constrói e conduz todo o trama, como vai colocando as várias personagens, colando-as aos acontecimentos Históricos.

Ao nível Histórico, o livro é irrepreensível. Brilhante a ordem temporal, até os pequenos pormenores estão explorados. De notar a forma clara, que muito me ensinou, como a autora explica o percurso de simpático rei a tirano de Henrique VIII. É “engraçado” como constatamos que Ana Bolena foi a grande responsável pela mudança de religião, pela forma como Henrique se rebelou contra o Vaticano para, depois, ela própria ser uma das vítimas dessa tirania que, repito, ela construiu.

Um breve olhar sobre Henrique VIII.

Conforme tinha sido descrito em “Catarina de Aragão”, Henrique não passava de um vaidoso, arrogante e mimado menino grande que, vendo-se com todo o poder nas mãos, se transforma num horrível e sanguinário tirano. Nestas obras não se olha muito para o Rei Henrique enquanto político, mas sim enquanto homem e a perspectiva que temos não o favorece muito. Mas o que sobressai é que ele foi aquilo que quiseram que ele fosse, ou seja, foi apenas um produto de pessoas ambiciosas e sem pejo em afastar quem se opusesse aos seus interesses.

Em suma, mais um excelente e aconselhável obra de Philippa Gregory.

Classificação: 5

O Livro Sem Título De Um Autor Sem Nome, de Dr. Jorge Adoum / Mago Jefa

TRECHO:
NOTAS PARA UM ENSAIO

(Sobre a filosofia mística através dos tempos, por ocasião do último livro
do Dr. Jorge E. Adoum)

1.
Foi FREUD quem trouxe ao mundo a sua palavra que funcionou como
bofetada definitiva nos velhos ídolos de barro, quando descobriu para
nós o profundo e obscuro enraizamento sexual das religiões. Junto ao
fantasma da libido colocou o fantasma branco do misticismo
impenetrável, misterioso, ultraterreno. quele que se acreditava santo œ
no sentido torcido de uma castidade equívoca œ o velho professor
atrevia-se a julgar como a sublimação daquele mesmo impulso que fazia
com que a Humanidade se reproduzisse. —Totem e Tabu“ faria, então
com que lábios amedrontados se abrissem para o grito estentóreo do
escândalo e da blasfêmia... E em paralelo com o masoquismo dos
silícios e o desvio das beatas e mártires, as ideologias místicas tiveram
por fim uma raiz humana, tão humana quanto a carne e seus prazeres.
Especialmente humana como a tortura do desejo condenado a
satisfações imperfeitas. O sexo transfigurado em mito, em símbolo de
perfeição.
2.
Foram MARX e ENGELS que desenvolveram, novamente, a história da
Humanidade. O materialismo dialético encontraria a razão de ser dos
homens e dos povos. Dali ao fator econômico decisivo na história como
luta de classes ou como produto do meio, não havia senão um passo
correlato, lógico e imediato, ao escalão seguinte. LUCIEN HENRY, em
seguida, à luz do materialismo histórico, escreveria suas —Origens da
Religião“. Demasiado extremista, talvez. Demasiado extremista, porque
denigre o fundo místico de todas as religiões, como se em todos os ritos
só houvesse observado as vestimentas; como se, na comunhão dos
cristãos, em suas consciências íntimas e geralmente reunidas em torno
de uma confusão que não estão interessados em destruir, não tivesse
encontrado nada, a não ser uma poeira fina ou um vinho embriagador. E
o próprio ENGELS, ao investigar a origem da família, assinalaria, no
prólogo de apresentação às descobertas de MORGAN, BACHOFEN e
MAC LENAN os dois grandes motores da história: o sexo e o meio social
do desenvolvimento, os quais estariam comprovados, desde suas
origens, na religião primitiva das tribos da América e da Austrália.
3.
Indubitavelmente, o florescimento das filosofias místicas sobre o globo
tem sua explicação individual e social. Não terão, acaso, para nós, uma
explicação histórica, um imperativo social gerador, a criação de Brahma,
o —Evangelho do Senhor Buda“ ou o —Livro da Senda e da Linha Reta“
escrito por LAO-TSÉ, o ancião das barbas cor de neve? Têm para nós,
homens do século XX, a mesma transcendência que para os habitantes
das margens do Ganges ou do Yang Tse Kiang, antes de Cristo? Ou
para os que se extasiavam ante os transbordamentos do Nilo, face a
mística superstição de Èsis ou Osíris ou face à branca e radiante abertura
dos lótus sobre as águas ou ainda ante o sagrado e voluptuoso
desenvolvimento das serpentes? Tais coisas, que permanecem como
relíquias imperecíveis em nosso arquivo œ melhor ainda como estilos de
arquitetura humana, face aos fenômenos internos e externos da
Natureza œ perderam, parcial ou totalmente, para nós, seu peso de tabu,
seu pavoroso poder de encadeamento e cegueira. Sentimo-las, sim,
como o atavismo que permaneceu dormindo e sonhando em nosso
sangue e que desperta ante uma freira jovem, ante um incensório
fumegante ou ante a mãe que confia na oração que aprendeu, apesar de
inútil e frágil como os rolos de fumaça.
4.
Mas resta em todas elas um apoio. Um apoio mais humano e mais perto
do alcance do homem, como as moedas de um centavo. Resta essa
compenetração lírica. Quem poderá assinalar, definitivamente, a linha
demarcatória aonde termina a filosofia e começa a poesia? Aonde
encontrar a fronteira divisória entre o místico e o lírico? E como se não
soubesse œ ou não pudessem saber œ sua nacionalidade de origem, os
grandes iludidos permaneceram vivendo dentro dessa ilusão até os dias
de hoje. PLATÀO œ fantástico visionário œ criando seu mundo utópico,
dando cores a uma lenda como a do mágico de Oz ou de Alice no País
das Maravilhas, fica pequeno ou invisível ante líricos maiores. Seu
mundo das idéias não está, acaso, para as crianças, no mesmo nível
simples e sublime das Fadas e dos Gnomos? E a construção da sua
República, quem poderia afirmar se não ficaria melhor colocando figuras
de chumbo sobre um tabuleiro azul ... !? E viria um outro, séculos mais
tarde, igualmente iludido. Um velho doente e sem rumo que alguém
acreditou ser filósofo. O que encontraria as origens da tragédia. O que,
mergulhando nas águas profundas, iria —Além do Bem e do Mal“. O que
encontraria as origens da tragédia. O criador do Anticristo. Aquele que
pintou o ocaso dos deuses. Em que página de NIETZSCHE não
encontramos um poema, de igual profundidade lírica œ não na forma,
mas no que tem de profundo œ quanto os escritos por LEOPARDI ou por
RILKE, o poeta que morreu por cortar rosas para sua mulher? Filosofia
obscura, transcendente, insone em algumas de suas linhas. KANT seria
o mestre de DESCARTES. Filosofia ou desintegração do humano.
5.
E em todos os mestres e discípulos uma obsessão constante: o super-
homem, a superação humana. Sempre a busca œ infrutífera? œ do
caminho reto. —A vida é um sofrimento eterno e não vale a pena ser
vivida“, diria o mestre da Èndia. —Mata o desejo de viver“, eis a fórmula da
superação, após grandes transmigrações de alma para alma. E viria um
outro: —Amai-vos uns aos outros“. —Vende tudo que possuis e reparte-o
entre os pobres, toma a tua cruz e segue-me“. Era tudo que se precisava
fazer para obter a salvação ... .E viria o grande poema da humanidade
futura: —Assim Falou Zaratustra“. E nos rincões do Oriente, GIBRAN œ
imaginação oriental, por fim œ visualizaria —O Profeta“.
6.
E dizemos agora, em resumo: se tudo aquilo foi produto de uma época,
que já não tem para nós o poder da regeneração, mas que continua,
ainda hoje, trabalhando e girando em nós a gigantesca turbina de nosso
instinto sexual, dando origem ao místico, e se todos estamos
convencidos de que devemos preparar o homem da nova era, que
caminho nos resta? ... Pergunta angustiante, Pergunta que traz, a
reboque, uma caravana de contradições íntimas e que nos liberta de
qualquer resquício de fanatismo. Se é imperativa a necessidade de criar
o homem-arquétipo, o homem que represente o avanço acelerado dos
séculos, que linha reta devemos seguir, que evangelho pregar, se tudo
já nos chega apenas com cheiro de antiguidade e contextura de
porcelana? Quem será nosso Mestre? Buda ou Confúcio? Lao-Tsé ou
Maomé? Jesus ou Zaratustra? Ou, talvez, por estar mais próximo de
nós, o profeta de GIBRAN? Ou seria necessário um novo evangelho
—Século XX“? Ou serviria, apenas, para eletrizar as consciências, a obra
de ENGELS? Ou seria o caso de se estabelecer uma nova moral -
estação final de todos os caminhos - calcada nos princípios do
Marxismo? E, até que ela exista, por onde irão nossos passos, após a
agonia do Cristianismo, de que nos falou UNAMUNO ou após a
constante ruptura de relações com os deuses?
7.
Afirmar que —O Livro Sem Título de um Autor Sem Nome“ é o evangelho
tipo —Século XX“ soa demasiado atrevido. Talvez porque só o tempo œ
essa pequena praça que se estende à frente de um edifício de grandes
proporções œ possa dar a perspectiva suficiente para julgar se existe a
necessidade de um novo evangelho ou se esta ou outra obra representa
o símbolo esperado para o misticismo atual. No entanto, esta nova obra
de Jorge Adoum contribui œ e para dizê-lo não precisamos que os anos
se escoem - para a conformação moral do individuo novo. A verdade é
que hoje em dia a grande massa humana vive despreocupada no que
tange a religião como rito ou como filosofia. É que já tínhamos
construído nossas bases e alicerces éticos quando nossa infância se
desenhava entre cabeleiras cacheadas e olhos brilhantes. Há que
buscar uma nova moral, sem preconceitos ridículos, e um novo
Evangelho sem —mistérios“, nem —milagres“ para a conformação das
novas infâncias.
8.
Eu dizia que não era este o livro esperado. Não é, porque sempre
apresenta algo de individual, algo que é próprio de Adoum. Seu pecado
juvenil, a política, o faz exteriorizar conceitos que poderiam não estar de
acordo com o momento eminente e decisivamente político, nem com o
resto dos homens. Seria difícil aplicar seus conceitos políticos a
Mirabeau e Danton, a Espártaco, aos Gregos, a San Martín, a Bolívar ou
a Lenine. E, noutros temas, prevalece sua personalidade sobre o
universal... isto, no entanto, encontra sua razão de ser no fato de que
Jorge Adoum não é um profeta, nem um enviado. É, simplesmente, um
artista que, nesta sua última obra, supera a si mesmo de um modo
notável. Supera a si mesmo, porque é uma obra para todos. Não para
todos e para ninguém, como o evangelho de Zaratustra, com o qual
muito se assemelha. Para todos, porque todos podem e devem
compreende-lo. Em seu relato Adoum degusta o extraordinário, como se
não tivesse encontrado elementos artísticos na vida diária. Seus
personagens não vivem sua própia vida, mas aquela que Adoum lhes
empresta. E todas as cenas terminam biblicamente. Há um fecho moral
em todos os relatos que œ como se disse certa feita œ pode cumpriu uma
missão, mas diminui os quilates da arte contista. Esta é uma grande
obra, eminentemente moralizadora, profundamente reflexiva,
amenamente filosófica e agradavelmente lírica. Com muito de si mesmo,
é bem verdade. Onde, porém, ficaria o matiz característico de cada autor
e de cada obra se tal coisa viesse a ser destruída? A fantasia platônica,
muito semelhante à de Garcia Lorca, por seu feminismo, poderia ser
explicada sem estudar, antes, a conversão sexual de ambas? O
—Emílio“de Rosseau, assim como toda a sua filosofia, poderia ser
explicada sem conhecer sua evasão íntima rumo à solidão ou a
existência de seu doloroso masoquismo? Poderíamos decifrar a obra de
Proust e do apóstolo Dostoiewsky sem, antes, analisar sua
personalidade anormal?
9.
E eis que Jorge Adoum não nos vem trazer a —palavra do Senhor“. Ele
vem refletir e fazer-nos meditar sobre a vida que gira à nossa volta,
sobre os homens a quem vemos todos os dias. Sobre os problemas
diários e ainda sem solução.
Sua obra, que considero a melhor, a mais integral e completa,
vista em conjunto é obra moral e filosófica feita consoante a
sensibilidade da humanidade de hoje. De qualquer raça e de qualquer
continente. De qualquer tendência... Quase, até, de qualquer idade. É
uma contribuição ao monumento que amanhã havemos de conseguir
erigir: o super-homem verdadeiro e não a ínfima redução humana, o
—super-homem“ que eletrizou o mundo durante tantos anos. Não a
criação de mitos para ignorantes, mas a superação de débeis e
enfermos, assim como de sadios, para chegar àquela meta que todos,
alguma vez, nos propusemos alcançar, sem lograr prosseguir. É
somente, uma contribuição. Até que venha œ quem sabe quando e
donde? œ aquele que dite o evangelho definitivo que todos,
absolutamente todos os seres humanos sigam conscientemente.

Quito, maio de 1945.
JORGE ADOUM (FILHO)

Está quase...

Quando o mês de Agosto se despede e chega Setembro, está tudo quase a começar... As aulas, o regresso ao trabalho, as novidades editoriais... Vamos deixar de andar por aí para passarmos a ir onde é preciso.

Ainda falta muito?, de Carla Maia de Almeida e Alex Gozblau (Caminho) foi um dos álbuns que se destacaram na época estival, e a que podemos regressar quando tivermos saudades. Saudades dos cheiros, das cores, das viagens de descoberta e reconhecimento, do tempo sem pressas. Quando estivermos ansiosos, como o irmão mais novo da narradora, que pergunta, a cada passo, a cada duas páginas, se "ainda falta muito?"... para chegar a casa da Avó, na aldeia.
A partir de uma expressão comum às crianças em viagem, a narrativa oferece-nos uma experiência em dois planos, que começam por se intercalar e se cruzam a determinado ponto do percurso. A protagonista recorda a casa da avó, a aldeia, os animais e as brincadeiras com o filtro subjectivo dos sentidos e da curiosidade. Ao mesmo tempo, os pais respondem à vez à pergunta do irmão, que ecoa como um refrão: "Ainda falta muito?" Passo a passo, compõem o itinerário, introduzindo elementos da ruralidade e afastando outros do meio urbano que deixam para trás.
A certa altura, as informações dos pais estimulam a imaginação e sentido crítico da menina, que partilha, no seu diálogo com o leitor, novas questões e apreciações a propósito das semelhanças entre montanhas e pontes, da utilidade das amoras para deixar um rasto pelos caminhos da aldeia, ou das lagartixas que irá conduzir pelos campos.
Por um lado o seu discurso soa simples e directo como é comum a uma criança, convocando o seu interlocutor através de interpelações («Perguntem ao meu irmão, que ele diz.» Ou mais à frente: «(...)mas digo-vos já o que faço.»). Por outro, congrega um ritmo e um sentido imagético que lhe conferem uma poeticidade bucólica - atentemos nesta passagem: «Gosto de andar de carro,/ porque é correr sem parar.// Não tão depressa como o sol,/ que gira sempre a meu lado,/ girassol muito apressado.// O vento é quente e doce/ cheira a urzes e a estevas.// E aos meus cereais com mel.»
O tratamento gráfico demonstra nesta página, como nas outras, imenso cuidado e uma leitura muito precisa da intenção narrativa, o que se verifica pela disposição do texto, cuja mancha visual se associa a estrofes de um poema. Efectivamente, a construção retórica do diálogo entre o irmão mais novo e os pais sublinha o lirismo do álbum através da sucessão e repetição de metáforas por parte ora do pai, ora da mãe, que surgem aqui numa cumplicidade que sempre se complementa, o que não é de todo um elemento menor a reter dos múltiplos sentidos do álbum.
Ainda falta muito? fala-nos de e para um lugar íntimo onde memória significa eco e magia: fragmentos que se associam em sensações nem sempre fiéis à realidade mas que permanecem, até nova experiência.
Assim se passa com esta família, em que o irmão mais novo se estreia, a irmã se entusiasma com o seu papel de guia e os pais enriquecem o universo simbólico dos dois filhos. O desfecho confirma, através da narradora, a relação equívoca que existe muitas vezes entre a memória e a realidade, afectada pela dinâmica do tempo. Ao chegar, as imagens da aldeia não correspondem integralmente ao que agora vê. «Se calhar é assim mesmo./ Tudo muda, como eu mudei,/ naturalmente.» No entanto o diálogo entre a mudança e o reconhecimento segue logo na página seguinte, a última, quando a menina identifica no irmão um comportamento que também ela já teve, quando era mais pequena.
A viagem é por isso um pretexto para ver para dentro e contemplar, descobrir e relacionar, crescer e fortalecer laços e afectos. A viagem é um tempo e os seus vestígios, o que fica, o que é dito, o que se deseja partihar e o que nunca se repete.
O que ficamos a saber destas personagens, muito chega-nos através da ilustração de Alex Gozblau. Justo será até dizer que sem ela este álbum perderia grande parte do seu sentido. Cada expressão ou movimento da menina transpira felicidade, seja quando fecha os olhos por trás dos enormes óculos redondos que a tornam ainda mais curiosa, seja quando os abre, assim como a boca e as mãos em plena explicação, seja quando voa, enorme, por cima do carro e das flores com o mesmo tamanho, quase alcançando as núvens. O cabelo ao vento, os olhos de espanto e temor, ou dúvida, a atenção, a pose...
Corpos e objectos são trabalhados através de uma teia cromática, de luz e sombra, proporções e texturas, onde podem constar desenhos figurativos a carvão, fotografias ou colagens, que colocam as figuras humanas em contextos profusos em estímulos, sem nunca as minimizarem. Pelo contrário, a dimensão de cada espaço aplica-se à perspectiva da personagem, nunca o contrário, porque este é o seu mundo e não o mundo em que vivem, o que é bem diferente.

Novo livro de Mário Zambujal nas novidades da Planeta

A Planeta preparou uma rentrée de grandes títulos que serão publicados até ao final do ano.

Destaque para o regresso à ficção de Mário Zambujal . Uma Noite não são Dias é o novo livro do incontornável jornalista e escritor português que, ao longo de anos de sucessos editoriais, conquistou um público fiel com o seu estilo pautado de humor e sensibilidade. Na Avenida Vertical, nome de uma torre habitacional de 98 andares no ano de 2044, ocorrem dois misteriosos assaltos, e ali nascem paixões, intrigas e descobertas surpreendentes.

A Planeta edita ainda, até final de 2009, o novo romance histórico de um autor que é já uma referência no género: Sérgio Luís de Carvalho assina O Destino do Capitão Blanc, a história tumultuosa e apaixonada de um militar português que presencia um massacre em França, no final da Primeira Guerra Mundial. Baseado em factos reais, este romance retrata a árdua vida das trincheiras, as batalhas, as revoltas e o quotidiano de homens em luta, bem como o sofrimento das mulheres e as esperanças perdidas de toda uma geração, entre a guerra e o amor.

Depois de publicar Lya Luft, Iza Salles e Fernando Morais, a Planeta segue o seu percurso na divulgação junto do público português grandes nomes da cena literária brasileira. Jornalista e professor há quase 40 anos, Zuenir Ventura trabalhou como repórter, redactor e editor em vários jornais e revistas e viu a sua obra premiada com as maiores distinções. A Planeta reedita o clássico Inveja - Um Mal Secreto, que convida o leitor a entrar num universo por tantos negado mas por muitos vivido, o da inveja. Ao investigar sobre este tema tão complexo, o autor esbarrou em histórias fascinantes de amor, medo e morte. Sobre a obra, Miguel Sousa Tavares comentou: «O Zuenir esmagou a inveja, tendo o dom de não pertencer ao número dos que se deixam esmagar por ela».

Esmagador e aterrorizante é o livro de culto que inspirou cineastas e impressionou gerações, Drácula, de Bram Stoker. A Planeta vai publicar agora a sequela oficial deste clássico, que será levado à tela. Drácula, O Morto Vivo, escrito a partir das notas descobertas acidentalmente pelo seu sobrinho, Dacre Stoker, e reconhecidas pelos seus documentaristas oficiais, retoma a história 25 anos depois e segue os passos de Quincey Harker, filho de Jonathan e Mina.

No género policial, cada vez mais popular entre os leitores, a Planeta lança em Portugal mais um autor premiado, vencedor do prémio Crime Writer’s Association Debut Dagger. A Talentosa Flávia de Luce, de Alan Bradley, tem como personagem principal uma menina de onze anos. A original detective, com habilidade para fabricar venenos no seu laboratório caseiro e desvendar segredos de família, é um sucesso internacional que já inspirou um clube de fãs na Internet.

No âmbito da ficção internacional, a editora vai publicar um dos maiores nomes das letras espanholas. Paraíso Inabitado é o mais recente livro de Ana Maria Mamute, nascida em 1926
e consagrada com os prémio Nadal e Planeta, ainda nos anos 50, o início de uma carreira continuamente aclamada pelo público e pela crítica. Depois de 8 anos de silêncio literário, a prestigiada escritora assina a sua obra mais autobiográfica, uma ode à infância e à fantasia, num mundo frio e em ruptura.

O Mapa do Tempo de Félix J. Palma, considerado um dos escritores mais surpreendentes da nova geração em Espanha, traz aos leitores portugueses a possibilidade de viajar no tempo. Uma história de amor, mistério e suspense, que cruza várias épocas, entre a Inglaterra vitoriana, a Londres sombria de Jack O Estripador e o globalizado século XXI. Nesta alucinante aventura, o inventor das viagens no tempo, o escritor G Wells, é uma das personagens .

A Planeta publica também várias obras de não-ficção, procurando oferecer livros sobre temas da actualidade que interessam ao grande público. Do Meu Bairro da Lata a Hollywood, publicado já em vários países, é a história de vida de Rubina Ali, a menina de 9 anos que nasceu num bairro pobre de Bombaim e se viu no centro do glamour de Hollywood, ao protagonizar Latika no filme Quem Quer Ser Bilionário, vencedor de 8 óscares em 2009. Um testemunho na primeira pessoa recolhido pela conceituada jornalista francesa Anne Berthod, onde a jovem actriz fala da sua vertiginosa vida e esclarece todas as polémicas levantadas pelos media em torno da sua vida actual.

E em vésperas do mundo voltar os olhos para a África do Sul, por ocasião do Mundial de Futebol de 2010, a Planeta edita Um Arco-Iris na Noite, de Dominique Lapierre. Autor de Oh Jerusalém, este notável investigador traz-nos a história épica da construção de uma nação, desde o século XVII, até aos nossos dias, relatando com rigor e mestria narrativa a aventura dos primeiros colonos, os grandes conflitos, a construção do regime do apartheid, a resistência de uma população oprimida e a vida extraordinária do seu líder, Nelson Mandela.

Um tema ainda no centro das atenções, a crise económica, continua a gerar debate e reflexão. Depois do sucesso de A Crise Ninja, de Leopoldo Abadia, a Planeta edita O Crash de 2010, de Santiago Niño Becerra. O respeitado professor catedrático de Economia, com ampla presença nos media espanhóis, aborda de forma desarmante o tema, partindo da premissa que o maior impacto desta crise ainda não foi sentido.

Na literatura juvenil, será publicado o terceiro livro da série Crónicas Vampíricas, Fúria, de L. J. Smith.

Na literatura fantástica, para um público mais maduro, destaque para a publicação de A Cidade dos Ossos, de Cassandra Clare. Este é o primeiro volume da série Caçadores de Sombras, uma obra incontornável da literatura fantástica, dirigida a um público urbano e adulto, que mergulha o leitor num universo que combina cenários cosmopolitas e modernos com as lutas ancestrais entre anjos e demónios. A série mereceu já a aprovação internacional do público, da crítica e os elogios de Stephenie Meyer.

O Nome do Vento lançado pela Gailivro a 22 de Setembro

No dia 22 de Setembro chega às livrarias um dos livros que mais causa furor em todo o Mundo: «O Nome do Vento», de Patrick Rothfuss.
Segundo a editora, Rothfuss é um autor de excepção e de uma fantasia épica que tem reunido os maiores elogios de críticos e leitores. Best-seller do The New York Times, com direitos de tradução vendidos para 26 países, vencedor do Prémio Quill para o melhor livro de literatura fantástica, foi considerado pela Amazon como uma das “dez jóias ocultas” de 2007. A não perder!

Sinopse:
«Da infância como membro de uma família unida de nómadas Edema Ruh até à provação dos primeiros dias como aluno de magia numa universidade prestigiada, o humilde estalajadeiro Kvothe relata a história de como um rapaz desfavorecido pelo destino se torna um herói, um bardo, um mago e uma lenda. O primeiro romance de Rothfuss lança uma trilogia relatando não apenas a história da Humanidade, mas também a história de um mundo ameaçado por um mal cuja existência nega de forma desesperada. O autor explora o desenvolvimento de uma personalidade enquanto examina a relação entre a lenda e a sua verdade, a verdade que reside no coração das histórias. Contada de forma elegante e enriquecida com vislumbres de histórias futuras, esta autobiografia de um herói rica em detalhes é altamente recomendada para bibliotecas de qualquer tamanho», Library Journal

Novo livro de Judite de Sousa apresentado dia 2

“A Vida é um Minuto – O Poder e a Imagem” é o título do novo livro de Judite Sousa, que será apresentado no próximo dia 2 de Setembro, na livraria Bulhosa, em Entrecampos.
O novo livro da jornalista, que será editado pela Oficina do Livro, vai ter a apresentação de Marcelo Rebelo de Sousa e António Vitorino, também autores do prefácio da mais recente obra da jornalista.
"A Vida é um Minuto - O Poder e a Imagem" vai abordar questões e acontecimentos políticos, nacionais e estrangeiros. Situações como a demissão do ministro da Economia Manuel Pinho, caso Freeport, serão alguns dos temas abordados.
Este é o segundo livro da jornalista. O primeiro, editado em 2002, tem como título “Olá Mariana - O Poder da Pergunta”, que, para quem é uma amante de jornalismo como eu, recomendo vivamente.

Ulisses

Ulisses é, provavelmente, a mais conhecida obra do escritor irlandês James Joyce e é considerada pelos principais críticos uma das mais relevantes obras literárias de todos os tempos.
Em primeiro lugar queremos referir que a edição que tivemos oportunidade de ler é da Difel e que corresponde a uma tradução brasileira da obra, o que desde logo representou um entrave à leitura do livro, face às evidentes diferenças entre edições portuguesas e brasileiras.
Em segundo lugar, não podemos deixar de dizer que efectivamente Ulisses é uma verdadeira epopeia da literatura mundial. Com mais 500 páginas, Joyce transporta-nos a um mundo proto-mitológico de uma enorme abstracção.
O estilo polido e profundamente erudito deste autor tornou-se, ao longo das páginas, conflituoso com o bom acompanhar da narrativa e um estorvo para quem procura encontrar um fio condutor para a estória.
Nunca tínhamos passado tanto tempo de volta de um livro como aconteceu com Ulisses. Nunca, ao longo das suas centenas de páginas, nos conseguimos sentir motivamos pela obra. A evidente sapiência do autor não foi suficiente para nos cativar e este livro foi-se tornando, ao longo das suas páginas, um verdadeiro suplício.
Não queremos com isto por em causa o brilho da obra. Certamente que centenas de críticos ao longo de quase 100 anos não estarão errados, mas não conseguimos atingir o nível de Joyce e Ulisses tornou-se uma obra incompreensível.
Naturalmente, esta não é uma obra que aconselhemos aos nossos leitores. A sua complexidade implica um domínio da literatura clássica (Odisseia de Homero) e uma capacidade de abstracção e concentração ao alcance de poucos.

Orgulho Asteca

Autor: Gary Jennings
Título Original: Aztec (1.ª metade)
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 448
ISBN: 9789728839932
Tradutor: Carlos Romão

Sinopse
Este é considerado pela crítica mundial como o melhor romance histórico sobre a desaparecida civilização Asteca e um dos melhores romances históricos do Séc.XX. Gary Jennings, mudou-se para o México e durante 12 anos investigou e viveu apenas para a sua criação: o Asteca, deixando-nos uma obra inesquecível. Gary era famoso por ser um dos escritores mais rigoros e com mais trabalho de pesquisa por trás dos seus romances.
Em 1530, depois de quase extinguir o povo Asteca pelas mãos de Hernán Cortés, o Imperador Carlos, Rei de Espanha, pede ao bispo do México que lhe faculte informação acerca da vida e dos costumes do povo Asteca. O bispo, frei Juan de Zumárraga, decide redigir um documento, baseado no testemunho de um ancião. Um homem humilde e submisso que vai chocar a moralidade e os preconceitos do mundo civilizado. O seu nome é Mixtli - Nuvem Obscura.
Mixtli, um dos mais robustos e memoráveis astecas, relata com detalhe toda uma vida: a sua infância, a mentalidade e os costumes do seu povo, o sexo e a religião, a sua formação e os seus amores, sempre tormentosos e trágicos. Esta é a sua empolgante e maravilhosa história, que representa o choque entre civilizações com formas inconciliáveis de ver o Mundo.
A História de Mixtli é, em grande parte, a história do próprio povo Asteca: épica e de uma dignidade heróica. Este é o princípio e o fim de uma colossal civilização.

Opinião
Há livros que nunca teria lido se não fossem as opiniões positivas que leio de colegas bloggers e no nosso fórum, e este é um bom exemplo. Depois do entusiasmo do Iceman e do Rui Bastos, a que se seguiram várias opiniões muito positivas lá pelo fórum, decidi finalmente pegar em "Orgulho Asteca", que é a primera metade do original "Aztec", a obra mais conhecida do escritor americano e que é fruto de 12 anos de pesquisa.

"Aztec" é um romance histórico que se inicia alguns anos depois da chegada dos espanhóis e que é composto dos relatos de um velho asteca, de seu nome Mixtli, que são enviados para o rei Carlos I de Espanha, para satisfazer o seu interesse e curiosidade relativamente aos costumes e história da civilização Asteca. Deste modo, Mixtli começa a narrativa da história da sua vida, que se entrelaça com a do povo a que pertence.

A pesquisa histórica presente neste livro é simplesmente notável; é uma autêntica viagem no tempo. Gosto muito de romances históricos e não sabia muito sobre a cultura azteca, por isso sem dúvida que este livro é uma grande mais-valia. Confesso que não tinha ideia do grau de desenvolvimento da sociedade azteca e não deixa de ser triste perceber que muito foi destruído pela ganância de conquista de terras e da intolerância religiosa dos espanhóis (e dos portugueses e outros povos também, noutros locais), mas a essa parte da história ainda não cheguei. Para além do aspecto cultural, o livro possui também uma grande dose de violência e sensualidade, que nunca se tornam gratuitas, mas que ajudam a compôr um retrato mais fiel dos costumes deste povo.

Para além do factor histórico, a parte ficcionada deste livro prende o leitor e só nos dá vontade de virar página atrás de página. Apesar de longo, este livro tem raros momentos mortos e mantém-se sempre interessante. Para já estou a adorar, mas vou guardar a minha pontuação final para quando terminar a 2.º metade.

A conjura - José Eduardo Agualusa

Título: A Conjura

Autor:
José Eduardo Agualusa


Edição/reimpressão:
2008

Páginas: 160

Editor: Leya

Colecção: BIS




Sinopse:

Entre 1880 e 1911, na velha cidade de S. Paulo da Assunção de Luanda, histórias se passaram que a História não guardou. Histórias de amores e de prodígios: rumores que persistem em antigas canções. Nessa época, de turbulentos sucessos e mudanças, quando nas ruas de Luanda se cruzavam as tipóias dos nobres senhores africanos com as quibucas de escravos e os degredados víndos do Reino se entranhavam pelos matos em busca de fortuna, nessa época todos os sonhos eram ainda possíveis. A Conjura conta um desses sonhos. Talvez o maior...



A minha opinião

Foi uma surpresa este livro de José Eduardo Agualusa. Numa trama que me fez lembrar um pouco o Equador de Miguel Sousa Tavares, com um cheirinho a África, Agualusa transporta-nos para uma Angola de fins do século XIX, inícios XX, numa altura em que já se falava da independência da colónia portuguesa. Muitas histórias, divididas por seis capítulos, relatam a vivência dos senhores, dos escravos e dos criminosos vindos da metrópole, naquela época. A história de Alice cruza-se com a de Caninguili, passando por Carmo Ferreira, Severino, Afonso Vieira Dias, Saturnino… entre muitas outras. A história desenrola-se até ao fatídico dia 16 de Junho de 1911, dia da primeira tentativa falhada para obter a independência de Angola face a Portugal.


domingo, 30 de agosto de 2009

Ensinamentos De Uma Mulher Santa: Ananda Moyi Ma (Considerada Manifestação De Kali), de Prof. Dr. R. D. Pizzinga

TRECHO:
Abstract
Esta Monografia Pública de Illuminates Of Kemet, Brasil (IOK-BR)
apresenta ensinamentos de Shri Ananda Moyi Ma, mulher santa da India a
quem Paramahansa Yogananda dedicou o capítulo 45 de seu famoso livro
"Autobiografia de um Yogi".

Novo livro de Sveva Casati Modignani publicado pela Porto Editora nas livrarias a 11 de Setembro

No dia 11 de Setembro, a Porto Editora lança mais um livro de uma das minhas escritoras preferidas, Sveva Casati Modignani. O Jogo da Verdade, assim se chama o livro, tem como personagem principal
Roberta, uma jovem livreira em plena crise existencial e conjugal - e Oscar, o marido, com quem casou contra a opinião de toda a gente, que se revela incapaz de responder às suas necessidades e de assumir as responsabilidades de uma família.
Uma dolorosa reflexão leva Roberta a percorrer o passado e a descobrir as raízes do seu mal-estar, que remontam à infância, passada no meio dos afectos envolventes da família paterna, onde a mãe, Malvina, brilhava pela ausência. Feminista convicta no período turbulento de 68, Malvina escolhera viver de acordo com os seus princípios e confia a filha ao companheiro. Desta situação vão nascer, ao longo do tempo, dramas, mal-entendidos, conflitos mal resolvidos e também segredos há muito guardados. E é apenas ao dissipar estas sombras que Roberta vai conseguir superar a crise e reconciliar-se consigo mesma.
Uma história de ligações profundas e paixões intensas em que Sveva Casati Modignani, através do confronto entre duas gerações de mulheres, nos conta como éramos antes e como somos agora.

Pode ver as primeiras páginas aqui

O Assassino Inglês - Daniel Silva

Título: O Assassino Inglês

Autor:
Daniel Silva

Editora: Bertrand Editora

P.V.P. 17,96€



Sinopse:

Espião ocasional e restaurador de arte, Gabriel Allon chega a Zurique para restaurar a obra de um Velho Mestre, a pedido de um banqueiro milionário. Em vez disso, dá por si no meio do sangue do cliente e injustamente acusado do seu homicídio. Allon vê-se inesperadamente a braços com uma voraz cadeia de acontecimentos, incluindo roubos de arte pelos nazis, um suicídio com várias décadas e um trilho sangrento de assassínios - alguns da sua autoria. O mundo da espionagem que Allon pensava ter colocado de parte vai envolvê-lo uma vez mais. E ele vai ter de lutar pela vida com o assassino que ajudou a treinar.



A minha opinião

Em O Assassino Inglês, Gabriel Allon é chamado a desvendar o misterioso assassinato de Augustus Rolfe. Nesta nova aventura, Gabriel é contactado pelo próprio Augustus, sobre o pretexto do restauro de um quadro de Rafael. No entanto, quando Allon chega a casa de Augustus em Zurique descobre que este foi morto com um tiro no olho e, ao mesmo tempo, toma conhecimento de que Rolfe lhe queria contar algo importante, e que esse mistério pode estar na causa da sua morte. Na tentativa da descoberta do porquê do assassinato de Rolfe, Gabriel descobre que o banqueiro suíço, além de coleccionador de arte, pode ter sido um aliado de Hitler e Himler. Será que a colecção de arte desaparecida de casa de Rolfe, no momento da sua morte, é tão legítima quanto isso? Será que esses quadros não seriam provenientes de diversos saques a que se viram sujeitos os judeus pelos nazis? Um livro muito interessante que revela muitas das crueldades impostas aos judeus por parte de Hitler e seus aliados.




Novo livro de Sofia Marrecas Ferreira chega às livrarias dia 3 de Setembro

Título: O Sangue da Terra
Autora: Sofia Marrecas Ferreira
Págs.: 224
P.V.P.: 15€

O Sangue da Terra dá-nos as cores, os cheiros e as vozes do Alentejo em páginas que celebram a mulher e a sua capacidade de recuperar para a vida.

O novo livro de Sofia Marrecas Ferreira, O Sangue da Terra – uma história que a autora oferece às mulheres, sobre o alento daquele que muitos identificam como o verdadeiro e único sexo forte, chega às livrarias no próximo dia 3 de Setembro.

Tomasa, a mãe, e Catarina, a filha: entre Lisboa, o Alentejo e Paris, duas gerações de mulheres em busca da felicidade e de sentido para as suas vidas; duas mulheres que, através do trabalho, das suas opções e do seu talento, tentam ultrapassar a solidão, a loucura e a morte.
O Sangue da Terra é um hino às mulheres, à força com que se entregam ao amor e às suas paixões, à coragem com que assumem as suas escolhas e a sua liberdade. Uma força e uma
paixão que estão presentes na escrita de Sofia Marrecas Ferreira, influenciada também pelo
ar, pelo calor, pela imensidão da planície alentejana e por toda uma atmosfera que acaba por envolver os leitores.

Sobre a autora:
Sofia Marrecas Ferreira estudou Línguas e Literaturas Românicas na Universidade clássica
de Lisboa, licenciou-se na Universidade de São Paulo, Brasil, e obteve o mestrado no King’s
Colledge, em Londres (onde reside), com uma tese sobre «O Lisboeta Queirosiano».
O Sangue da Terra é o seu quinto romance, depois de Mulheres de Sombra (Prémio Máxima
de Revelação), Uma História de Família, Da Cor dos Seus Olhos e Só por Amor.

Os Mistérios do Seu Gato -. Gary R. Sampson e Dick Wolfsie

Título: Os Mistérios do Seu Gato

Subtítulo:
Soluções Simples para os Problemas do Dia-a-Dia Autores:
Gary R. Sampson e Dick Wolfsie

Colecção: Cães, Gatos, Periquitos & Companhia

Preço: 14.86€




Sinopse:

Conheça Fritz, o gato que preferia fazer as suas necessidades no fato de flanela azul do seu dono em vez de usar o caixote. Otis, que escondia os cigarros e fósforos da sua dona. E Mel, que expressava o seu aborrecimento da forma mais despropositada possível. Em Os Mistérios do Seu Gato, os donos de gatos irão aplaudir a abordagem criativa do Dr. Gary Sampson para resolver os problemas comportamentais mais «gatastróficos» possíveis. O Dr. Sampson emprega exemplos da vida quotidiana, retirados da sua experiência com o comportamento animal, para ajudar o leitor a: - Compreender os motivos por detrás do comportamento do seu gato. - Tomar medidas simples e inovadoras para corrigir o problema. - Prevenir maus comportamentos num futuro próximo. Cada capítulo tem uma lição prática que pode aplicar ao relacionamento que tem com o seu gato. Estas histórias vão fazê-lo rir e, mais importante ainda, deixá-lo um pouco mais sábio no que diz respeito a definir um comportamento apropriado para o seu melhor amigo.



A minha opinião

Comecei a ler este livro não porque a minha gata (Betinha) se porte particularmente mal, mas porque vejo na minha gata a minha melhor amiga e, como tal, adoro ler histórias sobre os felinos. Fartei-me de rir com as asneiras de Dominó, que guardava com unhas e dentes a sua casa-de-banho; Fritz que fazia questão de fazer chichi no fato do seu dono, sempre que ele chegava da missa; as chamadas de atenção de Mitzi, entre muitos outros. Para quem tem um gato em casa que faz as mais diversas asneiras, este livro ajuda a compreender melhor o seu animal de estimação. Tudo o que ele faz tem uma explicação que poderá ser solucionada para o bem de todos. Além de exemplos, Gary Sampson exemplifica o que se deve fazer mediante determinadas situações. Um óptimo livro para quem adora animais, sobretudo gatos, como eu.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Os Corpos Sutis: Uma Contribuição Aos Estudos Espíritas, de Prof.a. Dra. Eliane Moura Silva

TRECHO:
INTRODUÇÃO:
O movimento espírita kardecista, ao surgir na segunda metade do século XIX, afirmou-se enquanto doutrina espiritual, filosófica e científica, centrada na relação com a morte, no contato sistemático e regular com os espíritos dos mortos, nas manifestações conscientes destes mesmos espíritos e nos ensinamentos por eles transmitidos. Foi um novo influxo segundo os princípios positivos da ciência de sua época. O movimento espírita sempre incentivou o estudo, a aquisição de novos conhecimentos, o aprimoramento intelectual, moral e a transformação do homem, enfatizando a realidade e a permanência da vida espiritual bem como a sua continuidade, antes e depois da morte do corpo físico, revestimento adensado constituído por matéria grosseira, vista como decorrência natural condicionada por fatores e limitações, biológicas, vivenciais e kármicas. Corpo Material de que se reveste o Corpo Espiritual.
É justamente a crença convicta e absoluta nestes pressupostos que permite manter e aprofundar o diálogo com seres que, em algum período, estiveram nesta terra “encarnados”.
Provavelmente devido ao fácil acesso às sociedades e instituições dedicadas a prática e ao estudo, os Centros, hoje em número crescente, e a farta literatura encontrada facilmente nos mais variados pontos, locais e livrarias (literatura esta de valor frequentemente questionável), pode o leitor iniciante, curioso ou o ocasional observador, deixar-se levar, iludido pela aparente simplicidade advindas de “palestras” e “literatura”.
É neste sentido que apresento, procurando adotar a forma mais simplificada e resumida possível, este estudo sobre os corpos sutis, segundo os milenares ensinamentos hinduistas e budistas e que, acredito, poderão ser de valia para ampliar os limites e conhecimentos sobre a natureza espiritual daquilo a que chamamos de existência, tanto “encarnada” como “desencarnada”.

De volta...

Olá a todos.
Já sei, já sei... podem zangar-se à vontade e com toda a razão porque aqui as meninas foram para a aldeia e nem avisaram antes. Não voltamos a repetir a façanha, a sério. E agora até já estamos de volta, já temos outra vez computadores, telefones, telemóveis e todas essas geringonças da era moderna que lá na nossa aldeia não servem para nada.
Hoje estamos algo derrotadas mas amanhã já são de esperar novidades e mais opiniões literárias aqui na Sombra.
Obrigado por tudo e... desculpem qualquer coisinha....

Andar por aí V

Estamos quase a deixar de andar por aí, agora que o mês de Agosto termina. Mas ainda há tempo para dar um salto à livraria da Assírio e Alvim, na R. Passos Manuel, em Lisboa, e visitar a Feira das Viagens. Só até 2ª feira, incluindo amanhã.

Dos passatempos

Ultimamente, têm sido comuns os passatempos com ofertas de livros em blogs e outros sites. O que é muito bom para nós, leitores, porque são oportunidades de alimentar o vício e poupar uns trocos. Também aqui na Estante temos feito vários e, se repararem, fazemos questão que as regras dos passatempos sejam o mais claras possível, para que todos os participantes estejam em pé de igualdade aquando do apuramento dos vencedores.

Vem isto a propósito de um passatempo que decorreu no blog dedicado à colecção de livros de bolso da Leya (Bisleya), em que eram oferecidos 5 packs com os livros mais recentes da colecção. Para isso, os participantes teriam que criar frases com um máximo de 150 caracteres. Ora lá estive eu a puxar pela minha cabecinha pouco imaginativa e mandei a minha participação. Ontem, foram conhecidos os vencedores, e como já estava à espera não ganhei. No entanto, 2 dos vencedores apresentaram frases que não cumprem a regra dos 150 caracteres, pelo que enviei um email para os responsáveis a perguntar o que se passou. A resposta, entre outras coisas, inclui um "Tem razão em relação ao número de caracteres, mas todavia este número servia apenas como referência para não termos respostas excessivamente longas, daí ter havido uma tolerância." Desculpem lá: se o número de caracteres era uma referência e iria haver tolerância, isso não devia ter sido referido à partida?

Vamos lá a ver uma coisa: se existem regras, são para ser cumpridas. É uma questão de princípio e justiça. De certeza que houve muitas pessoas que limitaram a extensão das suas participações de modo a cumprir as regras e é muito mais difícil dar uma resposta criativa com um limite de 150 caracteres do que se não houver qualquer limite. Mas mais grave do que errar é não assumir o erro. Não contem com mais participações minhas em passatempos futuros.

EDIT (31 de Agosto): os organizadores do passatempo decidiram premiar mais duas pessoas para fazer face a esta situação de injustiça. Fico contente por terem decidido corrigir a situação e por isso congratulo-me com o facto... Por vezes, ainda vale a pena demonstrarmos a nossa instatisfação :)

Estrela Distante

Autor: Roberto Bolaño
Título Original: Estrella Distante (1996)
Editora: Editorial Teorema
Páginas: 156
ISBN: 9789726958000
Tradutor: Jorge Fallorca

Sinopse
O narrador viu pela primeira vez aquele homem, em 1971, ou 1972, quando Allende era ainda presidente do Chile. Então, fazia-se chamar Ruiz-Tagle e deslizava com a distância e a cautela de um gato pelos ateliers literários da Universidade de Concepción. Escrevia poemas também distantes e cautelosos, seduzia as mulheres, despertava nos homens uma indefinível desconfiança. Voltou a vê-lo depois do Golpe, época em que até os poetas jovens de dezoito anos, como eles se viram de repente mergulhados numa repentina e sangrenta maturidade. Mas nessa ocasião, o narrador - que conta a história desde o limite entre o fascínio e a necessidade de saber, ou de fazer saber - , ainda ignorava que aquele aviador, Wieder, militar de carreira que escrevia com fumo versículos da Bíblia com um avião da Segunda Guerra Mundial, e Ruiz-Tagle, o péssimo aprendiz de poeta, eram uma e a mesma pessoa. Versículos que os prisioneiros nos estádios liam, e que já não leriam as irmãs Garmendia, duas das poetas que tinha seduzido e feito desaparecer.
E assim, num percurso pelas muitas bifurcações dos caminhos da história, das mitologias e das literaturas da nossa época, é-nos contada a fábula nada exemplar de um impostor (mas não somos todos impostores nalgum momento das nossas vidas?), de um homem de muitos nomes, sem outra moral a não ser a estética (mas não é esta a aspiração de qualquer artista?), dandy do horror, assassino e fotógrafo do medo, artista bárbaro que levava as suas criações até às ultimas e letais consequências.

Opinião
Ouvi falar pela primeira vez de Roberto Bolaño através numa entrevista do autor português João Tordo, que considerava o chileno um das suas grandes influências literárias. De facto, quem já leu os livros de ambos pode confirmar algumas semelhanças na forma de contar as histórias, mas corro o risco de ser injusto para o autor português, até porque, como sabem, gostei bastante dos seus livros. Além disso, não pude deixar de sentir todo o seu entusiasmo pelo lançamento das suas obras em Portugal, quer “Detectives Selvagens” (que depois da leitura deste passa a ser de compra obrigatória), quer do “2666”, livro monumental que, com as suas 1300 páginas, certamente me irá ocupar o resto do ano. Ou seja, o nome de Bolaño estava em toda a parte e a minha curiosidade era enorme, por isso não descansaria sem ler nenhuma obra dele.

Optei por ler o livro mais curto, mais como um aperitivo à sua escrita e posso dizer que degustei com um imenso prazer; fiquei com a sensação de me saber a pouco e quero repetir brevemente. A história de “Estrela Distante” gira à volta de uma personagem que suscita um fascínio, quase obsessão, e ao mesmo tempo um enorme ódio, no narrador. Carlos Wieder é um militar que escreve no céu, com um avião da Segunda Guerra Mundial, versículos da Bíblia, e que quando jovem, era Ruiz-Tagle, um medíocre e bastante discreto aprendiz de poesia, estudante de Literatura, com uma relação especial com as mulheres, principalmente com umas irmãs gémeas pelas quais o narrador estava profundamente apaixonado.

Seguimos o rasto do poeta-militar, através da curiosidade do narrador que vai construindo a vida de Ruiz-Tagle, mostrando um homem com múltiplas personalidades e vidas nem sempre belas como os poemas que escrevia no céu.

O livro é profundamente belo, é um romance mascarado de policial, muito político, debruça-se muito sobre as atrocidades do regime de Pinochet, tem passagens fabulosas de cortar a respiração, com descrições muito cinematográficas, percebendo-se que naquela obra nada está a mais nem a menos: o autor vai directo ao que pretende dizer, sem rodeios. Um autor a revisitar brevemente, que nos transmite a verdadeira paixão e o prazer pela literatura.

9/10 - Excelente

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Cinco ouvintes.

Pouca gente e muito sol na manhã de sábado, 25 de julho, na Ceilândia. As férias da garotada ainda estavam valendo e a gente perdeu a aposta de fazer o projeto acontecer num período em que antes, a gente também tirava férias. Na verdade, não perdemos nada. Ganhamos cinco ouvintes atentos para as histórias que escolhemos para aquele dia.

Nosso encontro começou com Raquel lendo NOITE ESCURA (Dorothee de Monfreid, Martins Fontes) para a turma, que não havia acompanhado sua leitura na semana anterior. Foi visível a melhora da sua leitura e seu traquejo em jogar com o livro. Conhecer a história é fundamental para que a mediação funcione a contento. Depois, o Tino começou a mediação com PINOTE, O FRACOTE. JANJÃO, O FORTÃO (Fernanda Lopes de Almeida, il. Alcy Linares, Ática) que logo conquistou a atenção da garotada com os abusos do personagem Janjão.

Depois, a brincadeira rolou solta com O LIVRO DA COM-FUSÃO deliciosa e engraçada parceria entre Ilan Brenman e o ilustrador (Brinque Book). O livro é uma grande brincadeira de juntar palavras e criar novos bichos sonoros e visuais. Demais. A mediação terminou com a leitura de ANJINHO (Eva Furnari, Ática), outro livro que brinca com a imaginação dos leitores e que eu e o Tino ADORAMOS por diferentes motivos.

Por fim, a turma foi fuçar na CAIXOTECA. Leram um pouco por lá e levaram outros livros para casa. Decidimos fazer uma pausa no sábado seguinte. Oportunidade para organizar o acervo, fazer um levantamento dos livros emprestados, perdidos, além de cadastrar as novas aquisições. Hatuna Matata.

Guerreiro da Luz, de Paulo Coelho

TRECHO:
No Caminho de Kumano
Desci do trem numa tarde de fevereiro de
2001, e encontrei Katsura, uma japonesa de 29
anos.
- Seja bem-vindo ao caminho de Kumano.
Olhei para o lado de fora da estação, para
o sol poente que batia diretamente no meu rosto.
O que era o caminho de Kumano? Durante a via-
gem, tinha procurado saber como é que aquele
lugar remoto estava incluído no programa de mi-
nha visita ofcial, organizada pela Japan Founda-
tion. A intérprete me disse que uma amiga minha,
a poeta Madoka Mayuzumi, fzera questão que eu
visitasse o lugar, mesmo que tivesse apenas cinco
dias, e precisasse viajar de carro a maior parte do
tempo. Madoka tinha feito a pé o Caminho de 4 5
Santiago em 1999, e achava que esta era a manei-
ra de agradecer-me.
Ainda no trem, minha interprete comen-
tou: “o pessoal em Kumano é muito estranho”.
Perguntei o que queria dizer com isso, e ela limi-
tou sua resposta a uma palavra. “Religiosidade.”
De minha parte, resolvi não insistir: muitas vezes
conseguimos estragar uma boa peregrinação por-
que lemos todos os folhetos, os livros, as indica-
ções na Internet, os comentários de amigos, e já
chegamos no lugar sabendo tudo que precisamos
conhecer, sem deixar espaço para o mais impor-
tante da viagem - o inesperado.
- Vamos até a pedra - disse Katsura.
Caminhamos alguns metros até um peque-
no obelisco, com inscrições em duas faces, encra-
vadas no meio de uma esquina - e disputando o
espaço com pedestres, uma loja de conveniências,
carros, e motocicletas que passavam. A partir dali, 4 5
o caminho de Kumano se dividia em dois.
- Se você seguir para a esquerda, irá fazer a
peregrinação pelo caminho que o imperador usa-
va antigamente. Se seguir pela direita, fará o ca-
minho das pessoas comuns comentou Katsura.
- Talvez o caminho do imperador seja mais
bonito, mas com certeza o caminho das pessoas
comuns e mais animado.
Ela pareceu fcar contente com a resposta.
Entramos no carro, nos dirigimos para as mon-
tanhas cobertas de névoa. Enquanto conduzia,
Katsura explicava um pouco sobre o lugar: Ku-
mano é uma espécie de península cheia de colinas,
forestas e vales, onde várias religiões conviviam
pacifcamente. As predominantes eram o budis-
mo e o xintoísmo (religião nacional do Japão,
anterior à infuência de Buda, e que consiste na
adoração das forças da natureza), mas ali podia
ser encontrado todo tipo de fé e de manifestação 6 7
espiritual.
- Quantos quilômetros de peregrinação? -
eu quis saber.
Ela pareceu não entender. Pedi que a inter-
prete traduzisse em japonês, mas mesmo assim
Katsura parecia perplexa com a minha pergunta.
- Depende de onde você saiu - disse fnal-
mente.
- Claro. Mas no caso do Caminho de San-
tiago, por exemplo, se você sair de Navarra são
aproximadamente 700 kms. E aqui?
- Aqui, as peregrinações começam quando
você deixa a sua casa, e terminam quando você
volta para ela. Neste caso, como você mora no
Brasil, deve saber a distância.
Eu não sabia, mas a resposta fazia sentido.
A peregrinação é uma etapa de uma viagem; lem-6 7
brei-me que depois de percorrer o caminho de
Santiago, na Espanha, só fui realmente entender
o que me acontecera quando passei quatro meses
em Madrid, antes de voltar para casa.
- A gente vê as coisas, e não compreende
de imediato - continuou Katsura. - É preciso dei-
xar em casa o homem que você está acostumado
a ser; ele fca lá, e apenas a parte boa continua a
ser alimentada pela energia da Deusa, que é mãe
generosa. A parte que lhe prejudica termina mor-
rendo por falta de alimento, já que o demônio
está muito ocupado com outras pessoas, e não
tem tempo de fcar cuidando de alguém cuja alma
não está ali.
Subimos por quase duas horas um pequeno
caminho sinuoso na montanha, até que a furgo-
neta parou numa espécie de albergue. Antes que
eu entrasse, Katsura comentou:
- Aqui vive uma mulher que não sabemos
quantos anos tem, por isso a chamamos de De-8 9
mônio Feminino. Vou descer até a aldeia próxi-
ma para chamar um lenhador que irá lhe explicar
como deve ser feito o caminho.
A noite já tinha começado a descer, Katsu-
ra desapareceu na bruma, e eu fquei ali, esperan-
do que o Demônio Feminino abrisse a porta.

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Manual clássico de bem governar

Já lhe chamaram o grande educador da Europa. É o resultado de uma obra em que perpassam os grandes valores do Homem, os do seu tempo e do tempo de sempre. E que, por isso, também devem tocar-nos nos dias de hoje – de tanta confusão política, ideológica, moral.
Há solução? Aconselha Plutarco alguém que a razão “incita a fazer política” e que pede “instruções políticas”, em primeiro lugar a colocar “no fundamento da acção política” uma orientação cujo princípio assenta no discernimento e na razão.
Dito isto, o filósofo desaconselha que a opção resulte de “qualquer disputa ou por falta de outras actividades”, uma vez que observou haver quem, sem nada de interessante para fazer em privado, se virasse para os assuntos públicos “usando a política como um passatempo”.
E há os que, uma vez nela embarcados por acaso – como no caso de um barco – acabaram por enfadar-se mas não conseguem sair facilmente e “já em alto mar, olham ao longe, nauseados e maldispostos, mas são obrigados a ficarem e adaptarem-se às circunstâncias”.
O problema, comenta, é que os assim feitos navegadores da política acabam a denegri-la, condenando-a e deplorando-a, “ou porque caíram em descrédito enquanto esperavam a glória, ou porque se debatem com situações perigosas e tumultuosas”.
Dos motivos para entrega à vida política afastado está, claro, o interesse ou o lucro, coisa que Plutarco exemplifica com a “ceifa de ouro” que Estrabocles e Dromoclides usavam para brincar com a tribuna.
Estas e outras palavras que o leitor descubra são de todos os tempos. Como a questão dos amigos, dos benefícios particulares, dos favores que “não atraem a inveja”, os “honestos e generosos” que não lhe repugnam. Condena, isso sim, “as petições indignas e insensatas”, que devem ser recusadas com suavidade, explicando com cuidado que são indignas pelo seu valor e reputação.
Bom, para resumir, Plutarco legou-nos um manual de boas maneiras e decência para orientação de todos e dos que à causa pública se dedicam.
Que fique mais uma máxima em vésperas destes sufrágios que mobilizam as atenções: “Nem sempre são as rivalidades sobre as coisas comuns que acendem a disputa na cidade, mas muitas vezes dissensões vindas de assuntos e conflitos privados que, passando para o plano público, semeiam o distúrbio por toda a cidade.”
O que estes gregos sabiam, não é?
__________
Plutarco
Conselhos aos políticos para bem governar
Publicações Europa-América, 14,90€