Antes de dar início às festividades e já em contagem muito decrescente, fica a última sugestão que é, simbolicamente, a da Mafalda. Mandei-lhe um email a desafiá-la a escolher um livro. Deixo aqui a sua resposta. Continuamos a trocar ideias, livros não tanto. Mas num jantar cá em casa, há um pouco mais de um ano, resistimos até às 5h da manhã a revisitar a obra do Saramago, de quem ela é uma fidelíssima leitora.
Quando me lançaste o desafio de escolher um livro que me tenha marcado, que me tenham oferecido ou que eu própria tenha dado como prenda a alguém, desatei freneticamente a dar voltas à cabeça para determinar exactamente qual o livro que mais me tinha marcado. Depois de algum tempo nesta luta, a rever mentalmente os livros que li e sobre os quais, na maioria das vezes guardo sensações agradáveis (e raramente a memória da história precisa) cheguei à conclusão que era muito difícil escolher "o" mais marcante. No entanto, lembrei-me de um livro que me surgiu no encalço de outro que li: "A história do Senhor Sommer". Sempre que me lembro deste livro sorrio. Já viste que boa sensação esta? Surgiu-me este livro depois de ler "O Perfume". Tal como referiste no teu post, foi um livro que li quase sem parar para respirar, na adolescência. Foi dos primeiros livros "para grandes" que li e foi tal o entusiasmo que resolvi ler todos os livros do autor. E quando me deparei com a "História do Senhor Sommer" fiquei rendida! Reli-o hoje a tarde, durante a sesta do Guilherme, porque (mais uma vez!) guardava na memória apenas sensações, mas não a história completa nem o "sempre importante" final. E voltei a perceber o fascínio deste pequeno livro, excelente prenda para miúdos e graúdos. Uma pequena narração que nos faz regressar às recordações da nossa infância, aos pequenos grandes dramas do dia-a-dia de uma criança, relatado num discurso de alguém que não esqueceu a visão mágica dos mais pequenos, nem a sua argumentação. Este livro tem como mote um rapazinho que habita uma aldeia onde vive também o Senhor Sommer, que anda a pé de um lado para o outro permanentemente, dia e noite, com sol ou neve, incansável num percuso interminável e sem razão aparente. Mas não é o enigmático Senhor Sommer o elemento de fascínio, mas sim o desenrolar dos dias do garoto, que nos leva a recordar aquelas perguntas que fazíamos apenas a nós mesmos e às quais respondíamos usando a nossa melhor e mais simples argumentação. Como no dia em que o pequeno vizinho do senhor Sommer aprende a andar de bicicleta: "Mas andar de bicicleta nunca me interessara particularmente. Este vacilante meio de transporte com apenas duas rodas magrinhas parecia-me de muito pouca confiança, até mesmo inquietante, pois ninguém conseguiu explicar-me por que razão uma bicicleta em descanso caía imediatamente, desde que não estivesse apoiada, encostada ou segura por alguém - mas não devia cair quando nela se sentava uma pessoa de trinta e dois quilos e nela passeava sem qualquer apoio ou suporte".De certeza que quando o li, te telefonei excitada a contar-te o quão encantador é este livro!
Mafalda Galhardas Pinto
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