Natércia Rocha
Caminho
A tradição oral: leitura colectiva e leitura individual
«O ouvinte entregava-se à história em situação de grupo; a versão final da história, na imaginação de cada indivíduo, nascia da fusão das participações cumulativas dos elemntos do grupo sobre a proposta do narrador. O ouvinte recebia a história tanto pelo seu sentir como pelo sentir dos outros, presos como ele ao fio desenrolado pelo narrador, pela leitura proposta por sugestões esboçadas na expressão facial, no ritmo e na sonoridade das palavras, na convicção transmitida. A leitura individual do contador de histórias fundia-se com a leitura colectiva e atingia-se por fim a interiorização em cada ouvinte, marcada pelas próprias condições do indivíduo receptor. Processo complexo que condiciona certos fenómenos como, por exemplo, a aceitação do terror quando partilhado. A existência do grupo tornava prazer o que poderia ser angústia em situação de isolamento.»
do 1º cap., "A relação criança/livro", p. 23
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