segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Livros que foram prenda... e outras prendas


Para Groucho, este será o ano da toupeira, aquele em que uma das recomendações de ano novo se prende com a regularização da flora intestinal. Ora a escolha literária é das melhores, só não sei como interpretá-la. Se me cingir ao tema, puro e duro, pressinto um ano com determinadas características... Já se pensar na estrutura narrativa...
Uma situação inicial (hybris) que obriga a toupeira, o nosso herói, a violar a ordem estabelecida e a desafiar os poderes instituídos. Com algum pathos (mas não muito, porque a história não é trágica), a nossa toupeira empreende uma missão extremamente penosa, contra a injustiça. Agón não há, porque vivemos numa sociedade pós-moderna, e a peripécia foi ligeiramente subvertida desde Aristóteles. Digamos que, neste caso, a peripécia se define apenas como uma sequência de situações a que poderíamos chamar aventuras, cada uma sempre frustrante, com a mesma cadência, o que não contraria a tese do filósofo, mas não a cumpre tragicamente. Mas o grande momento desta narrativa está no desenlace, pois claro! A anagnórise, ou reconhecimento, é mais ao estilo de Sherlock Holmes do que do romeiro em Frei Luís de Sousa, ou de Ulisses (quando é reconhecido pelo cão ou pela aia), mas não deixa de ser um reconhecimento, que acontece a par da última peripécia.
E finalmente... a Katharsis (catarse), em que a nossa toupeira liberta e purifica as suas emoções e paixões, para terror de alguém... Um belíssimo final!
Resta acrescentar que esta mesma história infantil poderia ser lida à imagem do marxismo, ou até do género policial. Agora, pensando em Grouxo Marx...

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