

Quando acabei de ler o livro, percorri, como é hábito, as estantes da secção. Eis senão quando me deparo com os pequenos livrinhos da Miffy, a coelha, de quem me lembro de leituras de tenra idade (aquelas em que ainda se lê apenas com a imaginação). O traço curvo era (ainda é) perfeito, a preto, cheio de laranja, azul, vermelho, amarelo ou verde. Apesar da simplicidade dos desenhos, com poucos elementos, estes livrinhos davam-me um prazer que hoje recordo mas não consigo descrever.
Gémeo Luís ou Miffy? Ruptura ou tradição na ilustração?
Será que qualquer tipo de ilustração é útil à leitura? Deveria haver limites para o não-representativo? Será que a principal razão de ser da ilustração para crianças deverá continuar a ser complementar, exemplificar a narrativa?
Creio que a arte, quer se dirija a crianças, quer a adultos, não deve ser pensada em função da sua recepção, do seu efeito, da sua utilidade. É evidente que há ilustrações mais acessíveis que outras, mais óbvias, mesmo que não sejam representativas. É evidente que cada criança, misteriosamente, se afeiçoa a imagens, a livros, sem que saibamos porquê, porque não há uma lógica intrínseca à escolha. O mais importante é, na minha opinião, que a criança contacte com diversas imagens, diversas técnicas, diversos tons e cores, diversas abordagens a elementos que reconhece, e elementos para os quais não encontra correspondência. A ilustração e a música, serão os primeiros discursos simbólicos com que a criança contacta. O desenvolvimento da sua criatividade, do seu sentido estético e crítico passam por um convívio curioso mas pacífico com o que não se percebe, com o que não se consegue arrumar ou catalogar segundo uma ordem lógica; a par do representativo. Dar à criança asas para voar é mostrar-lhe, sem medo de que não goste ou não perceba, várias possibilidades de ver o mundo.
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