quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Experiências em Ansião



Entre as Festas de Natal e os desejos da Passagem de Ano, rumámos quarta-feira a Ansião, para realizarmos o atelier Experiências com Letras. Desta vez o nosso público não foi uma ou duas turmas e sim um conjunto de jovens entre os 11 e os 13 anos que frequentaram o atelier juvenil por inscrição directa na Biblioteca Municipal e por iniciativa de ATLs que frequentam. Por isso alguns dos quinze participantes vinham acompanhados por animadoras que assistiram e participaram no atelier.
Para além dos livros com sentidos, o exercício de escrita criativa com que quebramos o gelo e que introduz o tema da leitura e do livro, o grupo fez o exercício das metades, votou nos seus livros preferidos e encontrou os elementos estranhos em seis poemas.
Os livros que despertaram mais curiosidade no grupo foram, como é habitual, As crónicas de Spiderwick e o O Bebedor de Tinta, mas Ynari, a menina das cinco tranças e Uma argola no umbigo receberam muitos votos. O grupo era heterogéneo quanto a preferências e a curiosidade fê-los votar em vários livros.
Fechámos bem o ano.

sábado, 23 de dezembro de 2006

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Livros que foram e podem voltar a ser prendas

Antes de dar início às festividades e já em contagem muito decrescente, fica a última sugestão que é, simbolicamente, a da Mafalda. Mandei-lhe um email a desafiá-la a escolher um livro. Deixo aqui a sua resposta. Continuamos a trocar ideias, livros não tanto. Mas num jantar cá em casa, há um pouco mais de um ano, resistimos até às 5h da manhã a revisitar a obra do Saramago, de quem ela é uma fidelíssima leitora.
Quando me lançaste o desafio de escolher um livro que me tenha marcado, que me tenham oferecido ou que eu própria tenha dado como prenda a alguém, desatei freneticamente a dar voltas à cabeça para determinar exactamente qual o livro que mais me tinha marcado. Depois de algum tempo nesta luta, a rever mentalmente os livros que li e sobre os quais, na maioria das vezes guardo sensações agradáveis (e raramente a memória da história precisa) cheguei à conclusão que era muito difícil escolher "o" mais marcante. No entanto, lembrei-me de um livro que me surgiu no encalço de outro que li: "A história do Senhor Sommer". Sempre que me lembro deste livro sorrio. Já viste que boa sensação esta? Surgiu-me este livro depois de ler "O Perfume". Tal como referiste no teu post, foi um livro que li quase sem parar para respirar, na adolescência. Foi dos primeiros livros "para grandes" que li e foi tal o entusiasmo que resolvi ler todos os livros do autor. E quando me deparei com a "História do Senhor Sommer" fiquei rendida! Reli-o hoje a tarde, durante a sesta do Guilherme, porque (mais uma vez!) guardava na memória apenas sensações, mas não a história completa nem o "sempre importante" final. E voltei a perceber o fascínio deste pequeno livro, excelente prenda para miúdos e graúdos. Uma pequena narração que nos faz regressar às recordações da nossa infância, aos pequenos grandes dramas do dia-a-dia de uma criança, relatado num discurso de alguém que não esqueceu a visão mágica dos mais pequenos, nem a sua argumentação. Este livro tem como mote um rapazinho que habita uma aldeia onde vive também o Senhor Sommer, que anda a pé de um lado para o outro permanentemente, dia e noite, com sol ou neve, incansável num percuso interminável e sem razão aparente. Mas não é o enigmático Senhor Sommer o elemento de fascínio, mas sim o desenrolar dos dias do garoto, que nos leva a recordar aquelas perguntas que fazíamos apenas a nós mesmos e às quais respondíamos usando a nossa melhor e mais simples argumentação. Como no dia em que o pequeno vizinho do senhor Sommer aprende a andar de bicicleta: "Mas andar de bicicleta nunca me interessara particularmente. Este vacilante meio de transporte com apenas duas rodas magrinhas parecia-me de muito pouca confiança, até mesmo inquietante, pois ninguém conseguiu explicar-me por que razão uma bicicleta em descanso caía imediatamente, desde que não estivesse apoiada, encostada ou segura por alguém - mas não devia cair quando nela se sentava uma pessoa de trinta e dois quilos e nela passeava sem qualquer apoio ou suporte".De certeza que quando o li, te telefonei excitada a contar-te o quão encantador é este livro!
Mafalda Galhardas Pinto

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Livros que foram e podem voltar a ser prendas

Não sei bem como, veio parar-me às mãos, há 36 anos atrás, Giovanni’s Room, de James Baldwin (autor negro, americano e homossexual, lutador incansável pelos direitos humanos, que morreu em 1987). Muito sucintamente: David é a personagem central do romance. Americano, branco, troca os EUA por Paris, e enquanto a namorada viaja por Espanha envolve-se com um barman italiano, Giovanni. Este relacionamento põe em causa toda a identidade sexual de David, ainda que este nunca assuma explicitamente ser bissexual. Quando Hella regressa a Paris (embora mais tarde a abandone, preferindo relações diversas, sobretudo com marinheiros), o relacionamento com Giovanni acaba com consequências dramáticas para os vários personagens que Baldwin nos revela ao longo do romance. A intensidade narrativa, a construção da trama, as emoções contraditórias, os sentimentos de culpa, a abordagem de (um) tema(s) ainda hoje passível(eis) de tantos preconceitos e incompreensões (imagine-se então há 36 anos atrás), o portentoso núcleo de personagens, marcaram-me profundamente. De tal modo, que (éramos tão jovens) ofereci o livro a alguém que se sentia perdido, discriminado, perseguido, devassado na sua privacidade e magoado pelo ostracismo a que a sociedade o votava. Este alguém era negro, homossexual, e uma das melhores pessoas que conheci até hoje. Este alguém disse-me, depois de ler o livro: «Que paz eu senti. A solidão já não me assusta. Acho que posso começar a viver.» Nunca mais consegui encontrar o livro, para o ter comigo de novo. Mas tenho muitas vezes o eco das palavras deste alguém, que nunca esqueci e que poucos mais anos viveu, mas a quem, pela minha mão, James Baldwin e o seu Giovanni’s Room mudou, qualitativa e quantitativamente, a vida.
Rita Pais

Livros que foram e podem voltar a ser prendas

Pelos 13 anos, as leituras que herdara da infância e pré-adolescência começavam a não me satisfazer. Já não sentia o prazer e a gula pelos livros, a ansiedade de nunca parar de os ler, aquele folêgo, aquela emoção, aquela entrega.
Alguns especialistas em Literatura Infantil consideram que não existe uma verdadeira literatura juvenil, já que na adolescência e juventude os leitores têm já adquiridas as competências básicas de leitura para poderem ler livros de adultos. A questão prende-se muitas vezes com o desinteresse por certos temas ou estilos, bem como o treino da concentração. Por isso a literatura juvenil mais não seria do que a adaptação de um tema, uma narrativa, um assunto ao contexto simplificado dos jovens. Não tenho muitas certezas quanto a estes argumentos mas percebo que há um rol de usos retóricos na escrita para a infância que dão aos textos níveis de leitura, ritmos e efeitos do belo próprios da ideia literária, em geral.
Contudo, a experiência que desenvolvi no Natal dos meus 13 anos parece aproximar-se daqueles que defendem a passagem da literatura infantil para a literatura para adultos.
Não sabendo como escolher os livros a pedir no Natal, resolvi recorrer ao meu manual de Português, e dele seleccionei um conto e uma crónica de que tinha gostado particularmente. Assim foi, integrei na lista Os novos contos da montanha, do Miguel Torga, e Deste mundo e do outro, de José Saramago.
Li-os aos dois. Na época lembro-me que fiquei bastante entusiasmada com o livro do Saramago. Tinha um misto de narrativa linear e mistério. O 'realismo mágico', que ainda não conhecia e nunca aprofundei, espantou-me. Ao contrário de Torga, cuja angústia compreendia e partilhava pela leitura, com Saramago questionava. Foi talvez o meu primeiro contacto com a literatura para adultos: aquela que já não se torna leve na memória, aquela que faz experiências connosco.
Curiosamente, não voltei a ler um único livro de Saramago até muito mais tarde, no 1º ano da faculdade, ser (ainda bem) obrigada a ler O memorial do convento. Gostei muito, mas continuo a não ser sua leitora regular.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Livros que foram e podem voltar a ser prendas


LIVROS EMBRULHADOS

Livros e prendas de Natal sempre foram sinónimos, ainda que não exclusivos. Com as memórias um bocado baralhadas, acho que o primeiro livro que me recordo de ter recebido no Natal era um livro ilustrado dedicado à época natalícia. Calculo que ainda não tenha sido transferido cá para casa, porque não o consigo encontrar, o que significa que não me vou lembrar do título ou do autor. Mas lembro-me bem da capa azul escura com uma árvore de Natal rodeada de crianças que cantavam. A história era uma espécie de calendário do advento, explicando algumas tradições natalícias de diferentes países e as ilustrações ainda tinham aquele traço ‘antigo’, quase clássico, e faziam-me regressar todos os anos à contagem decrescente até ao dia 24.
Mais tarde, recordo uma colecção do Círculo de Leitores que incluía três títulos que li e reli, e que continuam a pertencer à lista das mais agradáveis memórias de infância: O Pequeno Fantasma, de Otfried Preussler, Konrad, ou o Menino Que Saiu de uma Lata de Conservas, de Christine Nostlinger e Emílio e os Detectives, de de Erich Kastner.
Um ou dois anos depois, houve o embrulho com três álbuns do Tintin, de Hergé, os primeiros álbuns de banda desenhada que recebi, ainda sem saber que a banda desenhada me continuaria a acompanhar de modo tão regular ao longo dos anos. Eram eles O Caranguejo das Tenazes de Ouro, O Ceptro de Ottokar e A Ilha Negra. Todas estas prendas natalícias foram oferecidas pelas minhas mães (não é gralha), assim como uma série de muitos outros livros que aqui não caberiam.
Os livros-prendas de Natal continuam a ser um hábito. E sempre em regime de surpresa. O que significa que já estou a contar os dias para os livros que aí virão na noite de 24...

sábado, 16 de dezembro de 2006

Leituras


O Livro do Meio
Maria Velho da Costa e Armando Silva Carvalho
Caminho, 2006

Acabei na noite passada este 'romance epistolar'. Tal como me aconteceu com a Odisseia, fiquei com aquela sensação de vazio, que se tem quando entramos na narrativa, nas personagens, nos espaços.
A correspondência entre os dois escritores relata a infância de ambos, entre comentários e apontamentos sobre o quotidiano. Mas o que este livro tem de especial é um mistério, uma alma que não se desvenda, mas sempre se vislumbra, na leitura. A intenção do livro, bem como a sua metodologia é desvendada pelos narradores, por isso não se trata de um recurso oculto de organização do texto. Tudo é revelado. Com o tempo de leitura, distinguimos as personagens, distinguimos os estilos dos narradores, entramos e imaginamos o universo rural da infância de Silva Carvalho ou o ambiente citadino burguês de Velho da Costa. Fica porém um silêncio, um véu entre o que se diz e não diz, e a minha condição de leitora resvala entre a cumplicidade permitida e os seus limites. E disso também falam os autores.
Quando Mega Ferreira e Isabel Allegro apresentaram o livro, ambos falaram em 'tom', e na sua importância. Agora identifico o sentido deste ritmo: o romance epistolar cria duas personagens cuja vida nasce e se alimenta em diálogo. Não são as memórias de dois escritores, não são duas infâncias em oposição, são um romance no sentido em que as partes, sozinhas, não existem. Aqui reside o tom, aqui reside o mistério, aqui reside o limite da palavra para a alma.
«Sangue e tinta, em transfusão mais perpétua que nós.» (última frase)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Pais empenhados

Quando se pede a participação dos pais nas actividades de Promoção da Leitura, chega-nos um email da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica do 1º Ciclo de Valado dos Frades. Esta Associação pede-nos que contribuamos com a oferta de um ou mais livros para a biblioteca da Escola, que serão entregues durante a festa de Natal, no próximo sábado, dia 16.
Ficámos curiosos, pelo que perguntámos em que situação se encontrava a biblioteca. Soubemos então que o espaço da Biblioteca é actualmente partilhado com a sala de professores e o apoio pedagógico. A recém-criada associação comprometeu-se a adaptar o espaço para que as crianças se sintam mais confortáveis, visto que a própria escola sofre de carências básicas ao nível das instalações e equipamentos. Através de diversas iniciativas, a Associação já conseguiu uma carpete para forrar parte do chão da sala, uma televisão e dois computadores usados.
Quanto aos livros, "Uma criança, um livro de presente para a Biblioteca Escolar" está prestes a atingir o seu objectivo com a contribuição preciosa da Estampa e da Lusodidacta, assim nos disse a presidente, Carla Almeida. O agrupamento garantiu o concurso à Rede de Bibliotecas Escolares, mas até lá é fundamental construir um espaço cultural, saudável e lúdico que as crianças identifiquem como seu.
Mas os pais querem dinamizar o espaço e têm em projecto a realização de uma semana da leitura, levando um escritor à escola, e uma iniciativa com um nome apelativo: "Pais, contem-nos histórias".
Um exemplo a reter.
Se alguém quiser contribuir com um livro para a causa, a morada é a seguinte:
Associação de Pais e Encarregados de Educação
Escola Básica do 1º Ciclo de Valado dos Frades
Rua Professor Arlindo Varela
2450 Valado dos Frades

A Casa da Árvore


«A Casa da Árvore» é um projecto multidisciplinar que se desenvolve em interacção com o público a partir de um livro com o mesmo nome. A autora, Margarida Botelho, explicou-nos como nasceu e funciona o projecto:
«A Casa da Árvore nasceu como um livro e é na realidade uma edição de autor, (em que eu sou a autora do texto e das ilustrações). Anexo ao livro existe um projecto de teatro e de ateliers artísticos. Neste momento aluguei um espaço (uma sala) na Fermento a qual serve de galeria de exposição das ilustrações originais do livro (que são maquetes e marionetas). Neste espaço também estão as ilustrações de outros livros, nomeadamente do livro "Meia-bola" ilustrado pelo André da Loba. Durante um mês temos uma programação com oficinas para adultos (durante a semana) e crianças (durante o fim de semana). Até 18 de Dezembro estaremos sempre neste espaço, depois a ideia será percorrer (com a árvore e o cenário do livro) vários lugares, promovendo o mesmo tipo de actividades à volta da Casa da Árvore. Estamos sempre abertos das 11h às 20h (também domingos e feriados).»
Vale uma visita no próximo fim de semana, para quem esteja em Lisboa.
Deixamos também o site, para mais informações: http://www.boxdesign.info/a_casa_da_arvore

Qual o futuro do livro?

Um dos assuntos na ordem do dia é o do futuro do livro tal como o conhecemos. A evolução tecnológica, comprovada pela profusão de novas plataformas de leitura, de audição, coloca este objecto e as editoras perante uma encruzilhada. De que forma se poderá avançar para uma adaptação a esta nova realidade? Quantos mais anos fará sentido continuar a editar livros na sua forma actual? Até que ponto assistiremos à sua substituição definitiva por audiobooks, e-books e afins?
O site do The Institute for the Future of the Book apresenta uma série de textos de professores universitários norte-americanos que abordam estas questões. Ao mesmo tempo, apresenta um conjunto de links para uma série de sites que nos permitem estabelecer um contacto mais próximo com algumas destas novas abordagens ao livro.
Numa opinião muito pessoal, motivada por razões de ordem cultural e afectiva, parece-me difícil a substituição total do objecto-livro por audiobooks, e-books, etc... No entanto, se pensarmos que as gerações futuras se caracterizam, também, pela facilidade na utilização de ferramentas informáticas, das quais derivam os suportes destes "novos livros", e se observarmos que, hoje em dia, um dos factores de aproximação dos jovens às Bibliotecas reside na possibilidade de contactar com um computador, neste caso, teremos que aceitar como provável uma verdadeira revolução no campo editorial. Voltarei mais tarde a este assunto. Entretanto, a caixa de comentários encontra-se disponível.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Livros que foram e podem voltar a ser prendas

Nesta época não se foge às prendas, às sugestões, às memórias de anos passados.
Por isso recordamos alguns livros que recebemos ou oferecemos no Natal. O convite estende-se a todos os que queiram partilhar uma memória. Podem fazê-lo enviando-nos um mail, que será publicado no blog.

Desde cedo que os livros fazem parte da minha lista de Natal. Em tempos idos, a minha lista era estrategicamente concebida de acordo com a da Mafalda, minha amiga de infância, de forma a que os nossos presentes nunca se repetissem e pelo contrário, se complementassem.
Quando entrámos na fase das colecções, escolhiamos os números dos livros que cada uma pedia. Lembro-me da colecção da Patrícia, acho que era da Verbo, que nós adorávamos. Apesar de serem livros de aventuras de um grupo de adolescentes, as descrições e a intriga era já um pouco mais complexa que a dos Cinco ou de Uma aventura. Depois de receber as prendas, quando me deitava, levava comigo vários livros e tentava explorá-los a todos, deliciava-me a escolher e nessa noite lia sempre muito pouco, de tal maneira era difícil e exigente optar entre a sinopse da contracapa, a ilustração, o início da narrativa, os capítulos...
Depois, logo no dia seguinte, dia de Natal, eu e a Mafalda actualizávamos a informação ao telefone, e o entusiasmo crescia até ao dia do reencontro... Entretanto, adiantávamos serviço, lendo cada uma o primeiro livro que escolhera. Para mais tarde partilhar.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

David Mourão Ferreira na Biblioteca Municipal de Sines


A Biblioteca Municipal de Sines dedica o mês de Dezembro à obra de David Mourão Ferreira. O programa inclui uma exposição biobibliográfica patente ao público desde o passado dia 6, uma conversa com uma especialista na poesia do autor, hoje pelas 21h30, um documentário (nos próximos dias 14 e 21), e uma leitura encenada, no dia 22. Mais informações aqui.
De realçar que as iniciativas acontecem todos os meses sob a mesma designação genérica, o que permite uma progressiva familiaridade por parte do público: Exposição; "Os livros em cima da mesa"; Documentário; "Leituras em voz alta". Assim, cada um (individualmente ou organizado em grupo) poderá atempadamente preparar a sua visita, de acordo com a iniciativa que melhor responde à sua curiosidade ou necessidade.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Visão de contexto, precisa-se

A propósito do debate que a denominada sociedade civil tem vindo a alimentar entre si e com o governo sobre as alterações no Ensino Superior, recomenda-se uma visita ao blog manchas, de Luís Mourão. Desde a véspera do 'Prós e Contras', e em confronto de ideias com Eduardo Pitta, Luís Mourão continua a bater-se por uma reflexão séria sobre a matéria, expondo argumentos, dando exemplos, evidenciando os paradoxos que resultam de propostas impensadas que não se sabe a quem servem, se é que servem alguém.
A minha sugestão pode parecer estranha aos princípios orientadores do bicho dos livros, mas 'isto anda tudo ligado', e estas ligações são mais sérias e profundas do que parecem. Grande parte dos problemas do ensino em Portugal, para além de derivarem de medidas políticas muitas vezes irreflectidas e até pouco sérias, são da responsabilidade dos professores. Não é a mesma responsabilidade que se lhes imputa quando o aluno tem más notas. É uma responsabilidade cívica, até corporativa, se assim alguns quiserem chamar. Como não concordo com o corporativismo, entendo-a como um princípio de integração no mundo.
Acontece-me com alguma frequência ouvir os professores de um determinado ciclo queixarem-se que os alunos que recebem vêm cada vez mais mal preparados. A culpa é do professor do ciclo anterior - é um argumento imediato que resolve em absoluto todas as questões. E não pensemos que isto acontece apenas por parte do secundário relativamente ao básico, ou do 2º ciclo para com o 1º. Enquanto aluna, também o ouvi na Faculdade. Pois bem; o que sabe um professor universitário acerca do programa do professor de 1º ciclo? Ou de 2º? Ou até do 3º? E inversamente, o que sabe um professor do 2º ciclo acerca do programa do professor universitário? Nada, porque cada professor universitário tem um programa próprio (reporto-me à área das ciências sociais e humanas). Não seria útil que todos soubessem genericamente o que os outros andam a fazer, para além das directrizes dos programas que supostamente o prevêem? Não seria útil que no secundário os alunos aprendessem noções de ritmo, prosódia e retórica nas aulas de português para que quando chegassem a uma qualquer faculdade de letras e fossem confrontados com um professor que dá este conhecimento como adquirido, não ficassem para sempre coxos na análise de um texto literário? Ou, inversamente, se um professor universitário de literatura ou estudos literários o soubesse, poderia partir de um grau zero nesta matéria.
Outro caso: o inglês, como promessa eleitoral, está a ser inserido no curriculum do 1º ciclo, embora com carácter facultativo, já que nem todas as escolas têm condições para disponibilizar esta disciplina. O que pode fazer um professor do 5º ano, quando na mesma turma tem alunos que dominam a língua no seu nível mais básico e outros para quem a mesma é uma completa novidade?
Há uma tradição hierárquica no ensino que tem vindo a ser ameaçada com o progressivo aumento da escolaridade obrigatória e a diversidade de opções que se apresentam no ensino superior (nomeadamente com os Institutos Politécnicos): a escala de importância do docente.
O educador de infância estava na base da pirâmide, onde não tinha sequer estatuto de professor. Seguia-se o professor primário (que todos consideram basilar na formação para o futuro da criança!), depois os professores de 2º ciclo, 3º, secundário, e então os do ensino superior. Quando as escolas secundárias estavam separadas do ciclo, os professores mais antigos, que tinham o poder de fazer horários e turmas, escolhiam para si as turmas do antigo complementar, porque os alunos eram mais maduros. Nem todos o faziam, é certo. Hoje, que o 2º e 3º ciclo estão na maioria dos casos no mesmo espaço, há professores do mesmo grupo (português, por exemplo) que não trabalham juntos, mantendo a divisão entre 2º e 3º ciclos.
E os professores das antigas universidades vêem agora chegada a sua hora, depois de terem asistido placidamente ao descontentamento dos colegas dos outros níveis de ensino. É o efeito da democracia, felizmente. Infelizmente, neste caso, o dever democrático de participação e solidariedade não se fez sentir, e todos sofrem os efeitos da sua própria indiferença e desinformação.
Os textos de Luís Mourão são, por isso, uma pedrada no charco. São fruto não só de um interesse próprio em defesa da profissão de docente universitário, como de um sentido de responsabilidade. Não está sozinho. No dia-a-dia, encontramos professores empenhados, dedicados, atentos. Anónimos. Que lutam contra os poderes e as ideias instituídas. Honra lhes seja feita, sempre. Mas são poucos, ainda.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Livros 24 Horas por dia

Começou hoje a funcionar na Batalha um sistema inovador de empréstimo de livros que permite o acesso à leitura a qualquer hora do dia. Trata-se do Biblio Clube, uma máquina localizada junto ao posto de turismo da vila que "fornece" livros aos utilizadores que possuam um cartão anteriormente solicitado na Biblioteca Municipal. O utilizador dispõe então de dez dias para ler o livro e voltar a devolvê-lo à máquina.
O catálogo disponível apresenta 170 títulos de diversas áreas temáticas e pode ser consultada uma pequena sinopse de cada obra.
O design da máquina resultou de uma parceria com o Centro Português de Design.
Esta experiência permite colmatar as dificuldades de horários que alguns utentes da Biblioteca encontram e torna mais visível a oferta de leitura no espaço urbano.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Nuvem alta - II

Recebi hoje um email da prof. Manuela Caeiro. Em resposta à minha curiosidade acerca do funcionamento do blog que criou com o seu 5º7ª, a Manuela apresentou-me o projecto, com aquela infinita disponibilidade. Agardeço a partilha e espero que possa ser mais uma proposta para outros professores.
Aqui fica o texto.
«Reflexões de uma professora.... de Português

Ensinar é uma missão complicada... Porque não basta ensinar: é preciso que cada aluno queira aprender!...
Ora, em Português, esse objectivo pode tornar-se particularmente difícil de alcançar!... Porque temos de levar cada aluno a empenhar-se em ler e escrever, sobretudo se ele revela grandes dificuldades, sabendo nós que, portanto, o seu esforço terá de ser muito maior... e a sua vontade será, à partida, mais difícil de mobilizar...
Há que encontrar soluções para motivar estes alunos... E, do mesmo modo, há que encontrar formas de não deixar desmotivar todos os outros que têm essas competências já mais desenvolvidas e que devem ir mais além...
Percebe-se, pois, que gerir o trabalho numa sala de aula - onde estão mais de duas dezenas de crianças, onde cada um é tão diferente de todos os outros, onde as necessidades e interesses são muito variados, onde as atitudes face à aprendizagem são tão diversas... - é mesmo uma missão complicada...
Mas também não pode ser considerada “missão impossível”... e muito menos fazer-nos desistir!
É assim que, ao longo dos anos, tenho procurado traçar projectos, com os meus alunos, que os mobilizem para trabalhar: fundamentalmente, ler e escrever, tentando dar visibilidade às suas produções...
Fazer jornais impressos tem sido uma constante... Eles pesquisam e divulgam notícias, fazem entrevistas, reportagens, seleccionam ou criam passatempos, falam de filmes ou livros... A qualidade do trabalho varia de acordo com os “jornalistas” de cada turma, em cada ano... Mas o objectivo cumpre-se, a cada edição...
Há dificuldades... e insucessos...
(Haveria sempre!...)
Este ano resolvi fugir às dificuldades da impressão, da venda do jornal, da contabilidade... Perdemos assim uma boa oportunidade de doar a verba conseguida a uma instituição de solidariedade social ou de a destinar a uma visita de estudo... Em compensação, preservamos o Ambiente, poupando papel...
Mas, sobretudo, procurei criar um novo projecto...
Estamos na era da blogosfera. Sei de crianças de dez anos que já têm os seus próprios blogues...
Assim me surgiu a ideia de criar um blogue para a turma. Um sonho..., uma “Nuvem-alta”...
Eu sirvo-me regularmente dos computadores, mas... não sou particularmente hábil no seu uso. Nunca me tinha aventurado nesta área... Quis experimentar. Socorri-me da boa vontade e apoio de uma colega jovem, de passagem pela escola... numa substituição... a Elsa Neves.
Esta iniciativa foi acarinhada pelo meu 5º7ª...
...uma turma complicada... com meninos dos 9 aos 15 anos... alguns que ainda soletram... outros que dão, à vontade, três erros por palavra...
Os trabalhos publicados são (e serão sempre) todos da turma.
Até agora, uns foram feitos em casa. (Cada aluno, em Língua Portuguesa, tem de respeitar um Contrato de Trabalho Individual e deve apresentar, regularmente, um portfolio, o que facilita a selecção de trabalhos, quer pelo professor quer pelos colegas. Mas isto ainda não foi bem assimilado... e os portfolios começam a aparecer, paulatinamente...)
A maioria dos trabalhos foi feita em Oficina da Palavra: uma área não curricular, que é oferta de escola, leccionada pelo professor de Língua Portuguesa de cada turma. (Apenas 45m por semana...)
Um dos trabalhos editados foi escrito em Estudo Acompanhado... que eu também lecciono.
No futuro, poderemos divulgar trabalhos feitos em outras disciplinas ou áreas disciplinares. Porque agora o nosso blogue já tomou forma e foi divulgado ao Conselho de Turma.
À sexta-feira, a seguir a Oficina da Palavra, aí vamos nós para a biblioteca escolar, publicar os trabalhos escolhidos... Geralmente, vão os autores, todos orgulhosos, e um pequeno grupo de colaboradores que se está a tornar habitual. A minha presença é garantida: serve para coordenar e dar apoio.
Fazendo um balanço desta curta experiência, é inegável que tem sido grande o entusiasmo... de quem vê um trabalho seu escolhido para ser publicado... na Internet! E também é grande o entusiasmo de quem vai à biblioteca colaborar na sua edição, na escolha de uma imagem para esse texto... e que vê, em primeiro lugar, o blogue a crescer... com “novo visual”...
Incluindo eu...
Não é o “ovo de Colombo”...
Não resolverá todos os problemas desta turma... nem todos os meus problemas com esta mesma turma... Mas tenho gostado muito desta nossa experiência!

Acrescento que outros blogues estão a ser criados na minha escola. Indo à nossa página, ao
www.eb23-cmdt-conceicao-silva.rcts.pt, encontra-se uma secção, “A Palavra aos Alunos”, onde é dada voz aos jovens... Daí, há uma ligação para o blogue do 5º7ª... e para outras iniciativas. Nesta tarefa da construção da página WEB, e da nossa Sala de Estudo Virtual, há que destacar a colaboração da colega Isabel Ferreira.
Alunos... e professores... não param...
E, como dizia António Gedeão, “o sonho comanda a vida”...»

Maria Manuela Martins Caeiro
Professora de Língua Portuguesa
do 2º Ciclo
na E.B 2.3 Comandante Conceição e Silva,
Cova da Piedade,
Almada

domingo, 3 de dezembro de 2006

Feira do Livro de Autor

A Biblioteca Municipal da Amadora acolhe, desde ontem, uma Feira do Livro de Autor, onde todos aqueles que alguma vez escreveram e publicaram um livro podem participar. Aqui, à margem do mercado editorial, podem ser folheados outros livros, outras capas, outras propostas de leitura e composição gráfica, de acordo com as possibilidades e os desejos de cada um. A Feira não tem como principal propósito a venda mas a exposição. Está aberta das 9h às 19h, até dia 16.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Experiências em Albufeira


Mais livros imaginários...

O meu livro chama-se ATA.
Quando o leio, o sabor entra pela boca dentro. Tira-me a constipação ou gripe e faz-me cheirar o cheiro do meu livro. O meu livro conta-me a história quando não quero ler, faz-me sentir feliz quando estou em baixo. O meu livro deita um holograma, com o texto e imagens, em forma de planta e da família. Muda de tema de acordo com o que eu quero.
Alexandre Dias, 6º A
O meu livro chama-se Os cinco sentidos
O meu livro parece um gato com uma flor. Ao tocar nele sinto o pêlo dum gato e as penas de uma ave. Eu oiço o meu livro a contar histórias e anedotas. O livro sabe a morango e cerejas. O livro também cheira a gelado de morango e a bolo de bolacha.
Michaela Uscata, 6º A
O meu livro chama-se "Uma aventura em Viagem"
O meu livro come todos os dias uvas e ameixas para ficar com a capa roxa, depois põe perfume e toma banho na água salgada da Escócia. Ele gosta de cantar e rir, quando toco nele sinto tremer, e que está quente. Às vezes parece um monstro simpático e quando o levo numa viagem ele toma a forma de um castelo.
Rui Gonçalves, 6º A
O meu livro chama-se Saltibrinca
Ele sabe a amora no Inverno e na Primavera e a laranja no Verão e no Outono. Oiço o meu livro a cantar e a rir. Ele canta de dia e ri-se de noite. O meu livro parece risonho e brincalhão. Ele é risonho quando eu conto anedotas e brinca comigo quando estou triste. E cheira a gasolina e a frango. Quando anda em algum transporte cheira a gasolina e quando estamos a almoçar ou a jantar cheira a frango.
Vitor Almeida, 6º A

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Leituras... alheias

A Débora recomenda a colecção Os Mumins, que ao que parece está esgotada em Portugal, mas fez furor nos anos 70. Para além dela, também o Pedro nos falou desses livros. Estou muito curiosa, embora não saiba se os vou conseguir encontrar por cá.
De qualquer forma, fica o relato entusiasmado da Débora, no seu tue-tue. Percorrendo o blog, mais confiamos no seu juízo de leitora...
A foto foi 'roubada' à Débora do post Mumins, de 7 de Novembro.