quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Leituras

Um Clássico chamado Pinóquio

Um dos problemas dos Clássicos da Literatura, mesmo a infantil, é a profusão de adaptações dos textos, nomeadamente ao cinema e à televisão, para não falar das simplificações do texto original. Este risco chega a ser inibidor da leitura do original.
Por isso, nunca li o verdadeiro Pinóquio, de Carlo Colodi. Nunca, até agora. E percebi que as peripécias que acontecem ao pequeno boneco não são tão aleatórias como pensava, que o nariz só lhe cresce uma única vez, e não sempre que mente, até porque Pinóquio mente pouco, ao contrário do que me habituei a ver e ouvir.
Outro aspecto que considerei relevante, enquanto leitora adulta, foi as agruras que a família passa por causa da sua irresponsabilidade sem cura, e o arrependimento crescente da criança de madeira. Não sei quais são as sensações que os jovens leitores poderão ter ao ler a obra, mas a mim ela provocou-me uma certa ansiedade. Esta ansiedade é propulsora da leitura, é o tal bichinho da curiosidade que aumenta o ritmo para que mais depressa saibamos o desfecho de uma patetice, para quem mais depressa cheguemos ao fim de tantas desgraças.
Pinóquio não é um livro alegre, é uma história trágica que toca, por isso, o humor. E que tem no seu desenlace feliz uma moral que se vem repetindo ao longo da narrativa: não colocar os desejos individuais à frente do afecto e deveres para com os outros e consigo próprio.
Pinóquio é um dos livros escolhidos como leitura extensiva no 6º ano. Muitas vezes é preterido por Ulisses (uma adaptação do clássico Odisseia). Motivar para a leitura do Pinóquio, que tem duas centenas de páginas e a maioria das crianças (pensa que) conhece, não deve ser fácil. Mas creio que Pinóquio continua a ter as condições essenciais para cativar os mais novos. Quando, em ateliers, lhes levo a história tradicional Pedro Malasartes, riem-se a bandeiras despregadas. Aqui, acrescenta-se uma empatia crescente pelo boneco articulado, um envolvimento com o espaço e a fantasia dos impossíveis.
As aventuras de Pinóquio
Carlo Collodi
Editorial Caminho (ilustrações Manuela Bacelar)
Cavalo de Ferro (ilustrações Paula Rego; posfácio de Italo Calvino)

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