domingo, 31 de maio de 2009

O Herdeiro de Sevenwaters

Autor: Juliet Marillier
Editora: Bertrand
Páginas: 477
ISBN: 9789722518970
Tradutor: Ana Neto

Sinopse
Os chefes de clã de Sevenwaters são há muito guardiões de uma vasta e misteriosa floresta, um dos últimos refúgios dos Tuatha De Danann, as Criaturas Encantadas que povoam as velhas lendas. Aí, homens e habitantes do Outro Mundo coabitam lado a lado, separados pelo finíssimo véu que divide os dois reinos e unidos por uma cautelosa confiança mútua. Até à Primavera em que Lady Aisling de Sevenwaters descobre que está grávida e tudo se transforma.

Clodagh teme o pior, uma vez que Aisling já passou há muito tempo a idade segura para conceber uma criança. O pai de Clodagh, Lorde Sean de Sevenwaters, depara-se com as suas próprias dificuldades, vendo a rivalidade entre clãs vizinhos ameaçar as fronteiras do seu território. Quando Aisling dá à luz um filho varão o novo herdeiro de Sevenwaters, Clodagh é incumbida de cuidar da criança durante a convalescença da mãe.

A felicidade da família cedo se converte em pesadelo quando o bebé desaparece do quarto e uma coisa não natural é deixada no seu lugar. Para reclamar o irmão de volta, Clodagh terá de entrar nesse reino de sombras que é o Outro Mundo e confrontar o poderoso príncipe que o rege. Acompanhada nesta missão por um guerreiro que não é exactamente o que parece, Clodagh verá a sua coragem posta à prova até ao limite da resistência. A recompensa, porém, talvez supere os seus sonhos mais audazes...

Opinião
Como todos por aqui já devem saber, a Juliet Marillier é uma das minhas escritoras preferidas. Apesar de gostar, invariavelmente, de todos os livros que ela escreve, a trilogia Sevenwaters continua a ocupar o lugar mais especial pela história e personagens fantásticas que contém. Por isso, foi com uma enorme expectativa que comecei a leitura de O Herdeiro de Sevenwaters, que retoma a história 3 anos depois dos acontecimentos de A Filha da Profecia, desta vez contada na primeira pessoa por Clodagh, uma das filhas do Lord Sean de Sevenwaters.

Foi muito bom regressar às florestas de Sevenwaters, aos seres mágicos e às personagens já nossas conhecidas (apesar de, com muitas delas, apenas termos algumas referências). Continuo a gostar muito da forma envolvente como a Juliet conta as suas histórias, apesar de achar que se notam algumas diferenças a nível de escrita para a trilogia original, aproximando-se mais, como a Mónica muito bem reparou, dos últimos livros orientados para um público young adult.

Apesar de ter gostado do enredo, tenho de confessar que não senti uma ligação tão profunda às personagens principais como em livros anteriores, o que de certo modo criou alguma sensação de afastamento aos seus desafios, contrariedades e alegrias. O problema é que a fasquia está muito alta e torna-se ainda mais difícil atingir o nível de livros anteriores. No entanto, um livro menos conseguido desta autora em certos aspectos continua a ser um livro muito bom e este valeu essencialmente pelo regresso a um terreno conhecido e por vários momentos mágicos e personagens secundárias interessantes.

Uma nota final para a boa tradução. Depois de algumas escolhas infelizes em livros anteriores da Juliet, parece que finalmente estão a dedicar-lhe a atenção que merece, a nível de tradução e revisão. Já agora, deixo a informação que os próximos livros da autora serão publicados pela Editora Planeta (que publicou o Firmin, entre outros).

8/10 - Muito Bom

[Livro n.º 45 do meu Desafio de Leitura]

Sozinhos – Lisa Gardner

Título: Sozinhos

Autor: Lisa Gardner


Editora: Círculo de Leitores

Capa: Capa dura revestida a papel couché impressa a cores


N.º de págs.: 256

Formato: 13,8 x 22,2 cm

Preço: 17,40 Euros



Sinopse

A estranha beleza de uma mulher. De vítima a manipuladora, Catherine guarda uma negra história de abusos e violência. Quando o agente especial Bobby Dodge a salva disparando contra o marido, não sabia que os seus instintos de sniper mudariam para sempre a sua pacata vida. Entretanto, pelas ruas de Boston caminha agora em liberdade um perverso assassino. Num thrilher de inesperados e obscuros contornos, Lisa Gardner cruza de forma exemplar o caminho destas três personagens. Numa palavra: arrepiante.


Bobby Dodge é um dos melhores atiradores da unidade SWAT da polícia estadual de Massachusetts. Vive contudo uma pacata vida com a namorada, uma bela música. Inesperadamente, numa noite igual a tantas outras, observa pela janela uma cena de violência entre marido e mulher. O homem, armado, faz a mulher e o filho reféns e Bobby, agindo instintivamente, dispara para os salvar. A bela mulher que pensa salvar da fúria do marido é Catherine Gagnon. Quando a polícia começa a investigar o seu passado descobre contudo que há mais de vinte anos atrás ela fora raptada e vítima de abuso, tendo-se tornado uma perigosa manipuladora. Bobby não o sabia, mas o seu gesto irá levá-lo ao inferno...

Entretanto, depois de ter passado anos numa solitária, um perverso assassino é libertado. Cumpriu já a sua pena, mas isso não quer dizer que não congemine ainda planos de vingança e terror.



A minha opinião

Quando Bobby Dodge, polícia e um dos melhores atiradores da sua equipa, foi chamado para um caso de violência doméstica nunca pensou que a sua vida ia mudar radicalmente. Num instante passou de herói de uma mulher assustada, a assassino do seu marido. Quando o caso se torna conhecido, Bobby descobre que Jimmy, o homem que matou e que vira apontar uma arma à sua mulher, era filho de um reputado juiz, muito influente e que deseja que o carrasco do seu filho sofra pela morte de Jimmy. Ao mesmo tempo, Bobby descobre que poderá ter sido manipulado por Catherine, mulher de Jimmy, e que provavelmente o que ele viu naquela madrugada da janela de um apartamento em frente ao do jovem casal, pode não ter sido uma ameaça concreta do marido, mas sim da mulher, que desejava vê-lo morto e pode ter encenado aquele momento para que se pensasse precisamente o contrário. Catherine é de facto uma mulher misteriosa e complicada. Enquanto criança, foi raptada por um pedófilo e mantida cativa num gruta durante 28 dias, altura em que conseguiu escapar. Poucos dias depois, o pedófilo seria preso, numa pena que duraria 25 anos. Durante esse tempo, Mr. Bosu, assim se passou a chamar, Richard Umbrio engendrou, para quando saísse da prisão, os mais variados planos para se vingar e continuar com a sua vida de pedófilo sem que ninguém descobrisse. Quando esse dia aconteceu, viria a ser contratado por uma pessoa para exterminar várias personagens que estavam a atravessar no caminho da investigação. Um livro empolgante desde o primeiro capítulo, se bem que este não foi o que mais gostei de Lisa Gardner. No entanto, um livro, para quem gosta de policiais, a reter. Esta é uma das minhas autoras preferidas da área.




Sobre a autora:


Senhora de um especial talento para a construção de suspense e de um enredo que nos toma de medo, mas também de irresistível vontade de continuar a ler, Lisa Gardner cruza o caminho destas três personagens. Bobby perde a paz, Catherine revive uma obscura e perigosa paixão, um assassino volta à sua arte de terror. O que liga estas três personagens? Quem é afinal a vítima, quem são os verdadeiros assassinos?

Natural de Oregon, nos EUA, Lisa Gardner começou pelo romance editando sob o pseudónimo de Alicia Scott. Em finais dos anos 90 decidiu mudar de género e ao romantismo dos primeiros livros passou a aliar o suspense. Pesquisa alguns dos mais arrepiantes casos de psicopatas, inventa um enredo de pistas, aplica à escrita o rigor das pesquisas do FBI. «Minha até à Morte» - o seu primeiro grande sucesso – atinge os 6 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, tornando-a uma das mais aclamadas escritoras norte-americanas. Em Portugal foram editados, pelo Círculo de Leitores, alguns dos seus melhores títulos: «A Filha Secreta», «O Assassino das Sombras», «A Vingança de Olhos Negros», «O Clube das Sobreviventes», «A Hora da Morte».



Excertos:

"Quando puxei o gatilho... não me importeicom o nome do homem, do vizinho, do pai, nem com a sua história. Não sabia se ele batia no cão ou se dava dinheiro a orfanatos. Só sei que o indivíduo tinha uma arma apontada à cabeça de uma mulher e o dedo no gatilho. Tive de basear as minhas acções nas acções dele".





A FNAC

Depois de, não há muito tempo, a FNAC ter acabado com os 10% de desconto sobre o preço de editor nos livros, para quem não possuísse cartão de aderente, eis que voltaram a alterar as regras do jogo, desta vez nas condições de quem tem o cartão e afectando as pessoas que lá compram maioritariamente livros.
Agora, o cartão dá direito a 5% de desconto em pontos em todas as compras (com uma ou outra excepção) - ao fim de 100 pontos, ganha-se um vale de 5€ - e nos livros apenas se tem um desconto directo de 10%. Digo "apenas" porque com o sistema anterior, para além dos 10% de desconto, as compras de livros davam direito a acumulação de pontos no cartão, coisa que não acontece agora, explicou-me hoje uma funcionária da loja.
Ou seja, basicamente cobram-me 5€ por ano por um cartão em que não tenho benefício nenhum adicional na compra de um livro, livro esse que posso adquirir pelo mesmo preço no Continente e afins. E quem diz Continente, diz os sites das editoras. Muitas já praticam precisamente esse desconto de 10% sobre o preço de editor e nem cobram portes (casos da Saída de Emergência ou da Difel, por exemplo).
Era mesmo do que eu estava à espera para não voltar a renovar o cartão da FNAC. Para mim, já chega destas políticas de interesse duvidoso para o cliente.

Tigre Branco (O) – Aravind Adiga




Ao longo de sete noites, Balram Halwai (ele próprio o Tigre Branco), através de cartas por ele escritas ao Primeiro Ministro chinês Wen Jiabao que se prepara para visitar a Índia, empreende uma narrativa da sociedade indiana, de uma Índia desconhecida, atolada em desigualdades que, como ele refere, se divide em duas: a da Luz e uma outra, denominada de Escuridão.

Assim, num monólogo ou diálogo imaginário, Balram começa por narrar a sua infância marcada pela extrema pobreza e condições verdadeiramente sobre-humanas que lhe começam a moldar o carácter. Nascido numa das castas mais baixas (isso das castas é chocante), expõe de uma forma nua e crua uma Índia violenta, cheia de preconceitos, onde os pobres são sempre pobres, tratados como animais, criados e onde tudo é corrompido, literalmente tudo, sobretudo no campo político.

Nesta brutal obra, Aravind foca os grandes e eternos problemas da Índia. Sob o manto fictício da modernidade, do milagre económico, pinta-nos um retracto assombroso e medonho de um país profundamente desigual, dividido por tradições xenófobas que ninguém sabe a sua origem e por um sistema político corrupto que pisa tudo e todos, que não age em defesa do povo mas sim dos seus interesses pessoais.

É um livro corrosivo. A realidade é-nos disposta à frente sem dó nem piedade. Acham que a Índia é aquele país dos filmes de Bollywood? Essa Índia existe de facto, mas a Índia profunda, a Índia onde vive e sobrevive a maioria do seu povo, é uma Índia monstruosa, assustadoramente monstruosa.

Até o Rio Ganges é aqui desmistificado “sr. Jiabao, eu aconselho-o a não mergulhar no Ganges, a menos que queira ficar com a boca cheia de fezes, de palha, de bocados encharcados de cadáveres humanos, de carne putrefacta de búfalo, para além de sete tipos diferentes de ácidos industriais”.

O tom irónico, mordaz e corrosivo como toda a narrativa é conduzida, demonstra um profundo desencanto e desilusão de Aravind. Diria que este livro é quase um grito de desespero ao mundo e note-se que não é por acaso que é referido inúmeras vezes, de uma forma lírica, Mahatma Gandhi, homem que procurou lutar contra um sistema que, ao contrário que muitos defendem, não mudou em nada.

Um livro que me chocou dada a brutalidade daquela sociedade desigual. Desconhecia essa realidade, porém, confesso que me senti incomodado quando me deparei com o sistema corrupto, pois e pelo que sabemos da sociedade portuguesa, sobretudo ao nível dos meandros do futebol, se calhar “somos” mais parecidos com os indianos do que propriamente com os europeus.

Um livro soberbo, poderoso, a par de "A Estrada", é o melhor que li nesta década e que, afirmo eu, está destinado a ser um clássico da literatura.

Um livro que a par do filme “Slumdog Millionaire” deve ser um incómodo para o governo e outras estruturas políticas e sociais da Índia.


Classificação: 6

sábado, 30 de maio de 2009

Aos curiosos desparafusadamente sem juízo...

Queridos amigos... a MANATI disponibilizou em seu site as primeiras páginas do CADÊ O JUÍZO DO MENINO, meu primogênito literário que está para nascer. Ilustrado por MARIANA MASSARANI, o danado já entrou em trabalho de parto, foi para a gráfica e está lá colocando seus parafusinhos para fora aos poucos, dando cambalhotas, chutando a prensa e gritando para todo mundo: QUERO SAIIIIIIRRRRRRRRRRR!!!

Se vocês quiserem dar uma olhadinha, acessem ESTE LINK.

Aviso: O início não entrega o jogo e - segundo minha querida amiga LÍGIA PIN - serve para aumentar a curiosidade. Assim que estiver dispponível para vendas on line eu aviso a todos. Hatuna Matata.

Defender a língua portuguesa


O escritor Cristóvão de Aguiar traz para o formato livro a sua intervenção na blogosfera. O autor confessa: «nunca gostei de ver a nossa língua maltratada». Mas, nos jornais (e não só) as situações menos correctas são muitas. Começou por corrigir estas falhas recorrentes como autor do blogue A Destreza das Dúvidas.
Esse intenso trabalho passou agora a livro e quem ganha somos todos nós que queremos escrever melhor. São inúmeras as dicas e sugestões que este livro apresenta, sempre com o rigor e simplicidade. Útil, conciso, directo.
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Cristóvão de Aguiar
Charlas sobre a Língua Portuguesa
Almedina, 12€

Bernardo Carvalho | O Filho da Mãe


1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «O Filho da Mãe»?
R- Ainda não tenho a distância suficiente do livro para poder responder a essa pergunta. No geral, me parece que esse romance segue falando das mesmas questões que assombravam os anteriores, mas de uma forma diferente. E isso, principalmente, pelo uso do narrador em terceira pessoa, que antes eu não usava, por preconceito, por achar que era uma convenção ultrapassada. Em “O Filho da Mãe”, entretanto, eu acabei me permitindo usar esse narrador que, se não é propriamente onisciente, pelo menos vê tudo de fora, como um espectador de cinema, e acho que isso me deu muito mais liberdade do que nos livros anteriores. Acho que é um livro sem preconceitos literários, sem medo de ser sentimental.

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- O livro faz parte de um projeto concebido por um produtor de cinema, Rodrigo Teixeira, que convidou 16 escritores brasileiros a passar um mês em várias cidades do mundo e voltar com uma história de amor, que eventualmente seria transformada em filme. Por contrato, eu tinha que escrever uma história de amor que se passasse em São Petersburgo. É, portanto, um livro de encomenda. Não escolhi a cidade. Não falo russo nem nunca tive nenhum outro contato com o mundo russo além do que conheço pela literatura, pela música, pelo cinema e pelas artes plásticas. Quando me fizeram o convite, comecei a ler muito sobre a Rússia atual, mais livros de jornalismo e história do que literatura. E foi aí, pelos livros da Anna Politkovskaya, que acabei descobrindo o Comitê das Mães dos Soldados, uma ONG criada pelas mães dos soldados russos para salvar os filhos da guerra e dos maus-tratos do exército, e compreendi que havia naquilo um potencial dramático incrível. A partir desse momento, tudo começou a girar em torno da relação entre mães e guerras.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Acabei de publicar o livro. Tenho alguns projetos, que ainda estão muito incipientes. De qualquer jeito, desta vez todos os personagens serão brasileiros. Estou pensando em escrever um romance que tenha que ver com a idéia e a prática da justiça.
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Bernardo Carvalho
O Filho da Mãe
Cotovia, 12€

À espera do Acordo Ortográfico


O acordo ortográfico é polémico e vai causar muitas dúvidas sobre como continuar a escrever em bom português.
Para lá da discussão, importa perceber quais as mudanças mais significativas que estão previstas. Nesse âmbito, surgiram alguns guias de grande utilidade.
A Editorial Caminho lançou um vocabulário com as palavras que mudam, organizadas por ordem alfabética. Acresce ainda explicação breve e concisa sobre as novas regras.
A Porto Editora lançou um novo Dicionário de Língua Portuguesa já em consonância com as alterações introduzidas pelo acordo ortográfico. E lançou ainda um pequeno Guia Prático com as novas regras.
Agora, em caso de dúvida, basta consultar. Com estas três ajudas, será muito mais fácil.
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Acordo Ortográfico-Guia Prático
Porto Editora, 4,90€
Dicionário de Língua Portuguesa 2009
Porto Editora, 44,90€
Vocabulário-As Palavras que Mudam com o Acordo Ortográfico
Editorial Caminho, 12€

Ruy Duarte Carvalho | A Terceira Metade


1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «A Terceira Metade»?
R-....... permito-me, pela primeira vez, que que um livro meu apareça com a etiqueta explícita de “romance”, depois de muita escrita de poesia, ensaio, narrativa e mesmo ficção....... e é também a primeira vez que me atrevo a dar voz a um protagonista que habita uma pele que não é, explicitamente, a minha.......

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- ...... a de insistir, na sequência de Os Papéis do Inglês e de As Paisagens Propícias, em tratar literariamente, em língua portuguesa e através de uma certa ficção, questões comuns a todos os tempos e ao mundo inteiro no tempo e no lugar muito particulares e marcados em que as aprendi e apreendi vivendo, quer dizer, no sudoeste do continente africano e durante as últimas décadas......

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- ...... neste momento não estou propriamente escrevendo nada, estou tomando notas, fisgando ideias, perseguindo experiências, urdindo delírios, procedendo a leituras, recolhendo materiais, fotografando, desenhando e fazendo viagens com vista a acometer, dentro de alguns meses, a escrita de um novo livro de meia-ficção que poderá vir a ser também o roteiro de um filme que outrem rodará, talvez....
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Ruy Duarte Carvalho
A Terceira Metade
Cotovia, 28€

Sonhos lúcidos em 30 dias

« Sonhos lúcidos em 30 dias » ( Keith Harary e Pamela Weintraub )
46 páginas em word, pasta zipada com 110 kb

sonhos lucidos

Criar sonhos, estados alterados de consciência , sonho livre, alta lucidez, viagem astral, etc.
Ao seguir os exercícios apresentados neste livro, você aprenderá a forma de acordar no sonho.




No final do nosso programa de quatro semanas, será capaz de induzir e manter sonhos lúcidos, voar para lugares distantes, tomar parte em aventuras altamente excitantes, explorar as suas mais íntimas fantasias sexuais com vários amantes oníricos, pesquisar soluções criativas para problemas pessoais e profissionais e até incrementar o seu sistema imunológico para melhorar a saúde.


Você também poderá descobrir-se transcendendo as percepções comuns da realidade, na medida em que entrar em harmonia com as suas ideias e sentimentos mais íntimos e profundos sobre a morte, existencialismo e Deus.


Como prèmio, os participantes do Programa do Sono Criativo aprenderão o nosso método para induzir uma forma especialmente intensa da experiência do sonho lúcido - que é um estado alterado de consciência que chamamos de alta lucidez - baseada em princípios aplicados, originalmente, há séculos, pelos iogues do Tibete.

Beleza Silenciosa




A Minha Opinião:

Este livro trata-se de uma biografia da Brenda Costa, uma Modelo de origem brasileira. Mas, trata-se de uma biografia especial... Esta Brenda Costa tem uma coisa que a distingue de todas as manequins: é surda profunda de nascença (tal como eu).

Portanto, é uma história sobre a luta e a coragem desta rapariga para alcançar o que desde sempre sonhou: ser Modelo.

Confesso que não tenho nenhuma admiração por esta profissão. Mas, no caso da Brenda Costa, para conseguir o seu objectivo, foi uma grande luta! No mundo da moda também existe preconceito e ignorância, a maioria das agências de moda não queria aceitar uma modelo surda. Ela conseguiu-o graças a um director de uma agência que tinha um filho surdo. A sorte esteve sempre com ela.

Aqui deixo o excerto do livro, na página 164, para terem uma ideia do quanto ela sofreu e também tocou-me profundamente:

«Todos os anos, no mês de Junho, decorre no Rio a famosa Rio Fashion Week, a semana da moda. Nesta ocasião, massacro Marco noite e dia para participar no grande casting que decorre uma semana antes do acontecimento. No entanto, apesar da insistência do meu noivo e do entusiasmo geral da minha agência, o booker responsável pela contratação de todos os manequins duvida da minha capacidade de poder desenrascar-se num evento desta envergadura. Considera-me muito bela, mas a minha surdez deixa-o perplexo. Saberei dominar a minha deficiência numa passerelle? Silvinha, a produtora do espectáculo, apoia-me sem reserva e impõe-me contra a vontade do director de casting.
Eis-nos, então, no backstage (bastidores), no grande dia... Estou nas mãos dos cabeleireiros, maquilhadores e das pessoas que vestem os manequins quando vejo o booker entrar nos bastidores. Quando ele se apercebe da minha presença, o seu rosto muda de cor. Fica lívido e começa a gritar, chamando à parte todo o pessoal presente, incluindo a equipa da agência:
- Que faz esta rapariga aqui? Eu já tinha dito que não a queria. Eu sou um profissional! Não tenho tempo para perder com uma deficiente. Como é que vamos conseguir explicar-lhe o que tem de fazer?
Não se dirige a mim, mas o movimento dos seus lábios é mais do que eloquente. Ele está fora de si e tem o rosto desfigurado pela cólera. O camarim está cheio de manequins e, como sempre, as pessoas dividem-se em dois clãs: o que é "a favor" e o que é "contra". Algumas raparigas troçam abertamente de mim, outras estão sinceramente chocadas. Não aguentando mais, levanto-me e fujo, lavada em lágrimas. Silvinha, a produtora que me apoiou, ultrajada com a atitude do booker, precipita-se atrás de mim. Dirigimo-nos para a "saída dos artistas" e encontramo-nos lá fora.
- Não te preocupes, Brenda, eu estou do teu lado e tenho a certeza de que vais sair-te muito bem.
Mas, pela primeira vez na minha curta carreira, duvido. Vejo tudo negro e esta rejeição brutal coloca todos os meus sonhos em questão.
-Não quero trabalhar mais nisto, é demasiado injusto. Isto mete-me nojo...
Silvinha tenta acalmar-me, mas em vão. Estou repugnada, profundamente abatida. Esta rejeição brutal, que não se compara a qualquer coisa que senti até ao dia de hoje, coloca tudo em causa. Sem me preocupar com a maquilhagem e os cabelos, soluço e denigro-me. Esta audodestruição está de tal forma distante da minha filosofia de vida que me sinto verdadeiramente em perigo, como se tivesse sido esmagada pelo julgamento cruel de um homem que vê em mim apenas o estereótipo de uma pessoa surda. A minha surdez recambia-me para um gueto de pestíferos. Este tipo acaba de pronunciar a condenação do meu sonho como se pronuncia uma condenação à morte. Sou surda, por isso só posso existir nos limites convencionados de uma vida convencionada.
É neste contexto horrível que a minha mãe, que se tinha instalado na sala, aparece junto de mim, alertada por membros da equipa. Além disto, alguns manequins já me vieram a dizer que aquele tipo era um "idiota" e que eu não podia entrar no seu jogo.
Entre dois soluços, peço à minha mãe para telefonar a Marco e dizer-lhe que não vale a pena vir com o seu material, porque eu decidi não desfilar.
Nesses momentos, nos momentos em que ninguém consegue acalmar-me enquanto eu não passo de uma pequena personagem desordenada, só gritos e gestos exagerados, a minha mãe possui o dom mágico de me trazer de volta ao planeta Terra. Seca-me as lágrimas.
- Tu vais desfilar, Brenda!»


Apesar da simplicidade, gostei do seu estilo de escrita. Ela não só fala da surdez como também dos seus pais, da sua personalidade, da sua vida amorosa.

A forma como ela descreve a surdez faz parecer que é fácil ser-se surda. Mas devo reconhecer que para ela tem sido mais fácil encará-la, pelo facto de possuir duas qualidades: beleza e é extrovertida. Por isso, ela viveu sempre rodeada de amigos, sem se queixar das suas limitações ou da impossibilidade de incluir numa conversa colectiva; tem divertido com a maior descontracção nas noitadas em grupo.

Achei fantástica a sua luta, mas não tem comparação nenhuma com a minha. A dela exigiu o dobro do seu esforço normal, ao passo que a minha exigiu o quíntuplo do meu esforço para conseguir “um lugar” no mundo ouvinte.

Infelizmente, todos os surdos sofrem as mesmas maldades da sociedade e em todas as profissões.

Este livro não foi ao encontro das minhas expectativas, pois temos diferenças muito grandes, em todos os níveis: familiar, pessoal e profissional. Mas tive prazer de o ler, de conhecer esta Brenda Costa, por um único senão: o facto de ela ser oralista e não gestualista.

Classificação: 3/5

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Cristo Reinterpretado: Espíritas, Teósofos E Ocultistas Do Século XIX, de Profa. Dra. Eliane Moura Silva

TRECHO:
Durante o século XIX, no Ocidente, o conhecimento científico tornou-se o crivo obrigatório da sociedade. A este conhecimento aliou-se a razão, o progresso e o materialismo. Juntos refletiam o lado luminoso da sociedade. As certezas racionais afirmaram a instrução, o darwinismo social, a modernização e foram as bandeiras sob as quais abrigaram-se diferentes segmentos sociais. Este avanço do evangelho racional e científico teve, como contrapartida, um recuo das religiões tradicionais, pelo menos nos centros mais urbanizados e intelectualizados.
Para cientistas e intelectuais da segunda metade do século XIX, o materialismo apresentava para a Humanidade um futuro sem sobressaltos, num progresso contínuo e sem dramas. A razão humana tornava-se todo-poderosa, progressivamente “perfeita” e o conhecimento material ampliado conduzia a uma confiança absoluta na educação científica, numa espécie de otimismo messiânico, com o império da Liberdade, da Felicidade e da Riqueza.(1). O otimismo combinava com o positivismo e a crença numa evolução ilimitada. Aliava-se ao desenvolvimento do conhecimento científico, a redescoberta das culturas antigas, mitológicas e extra-ocidentais. A expansão colonial trouxe contatos com povos, épocas e culturas diferentes.
Da segunda metade do século XIX em diante, duas vozes dissonantes alimentaram uma polêmica recíproca: a causa da ciência e da natureza em nome de uma religiosidade exclusivamente secular. Contra esta extrema secularização levantaram-se os direitos irrevogáveis da consciência, da deficiência insanável da Razão e do poder sobre-humano do Sagrado e do Mistério.
A crise religiosa revelada desta época manifestou-se, freqüentemente, contra a oficialidade de todas as formas de tradição, de todas as figuras históricas e espiritualmente gastas, vazias, sem criatividade ou inventividade. Esta crise apontou a necessidade de uma religiosidade espiritualmente mais adequada, de novas utopias de salvação.
As novas criações religiosas desde o século XVIII e, sobretudo no XIX, são marcadas por uma concepção espiritualista de inspiração e interpretação das Escrituras, da recuperação de uma vida interior diretamente em contato com a divindade. Temos, inclusive, um campo propício para o estabelecimento de vínculos entre a mística espiritualista, o esoterismo e o racionalismo, num desejo de articular um tipo de exegese religiosa em bases contemporâneas com as aparências do método científico, apresentando novas mensagens cristãs. (2).
O pensamento naturalista seguiu o caminho das novas conquistas da Ciência e da Epistemologia, com o alargamento da doutrina do conhecimento sobre qualquer aspecto ou problema do Universo. Mas a forte recuperação da consciência religiosa, cristã ou não, instituiu uma polêmica sem paralelos.
Um novo e abundante discurso espiritual procurou integrar Ciência e Fé, Ocidente e Oriente, o Novo e o Antigo. De um lado, um neo-evangelismo que pregava um Cristianismo Universal nas bases da tolerância, fraternidade e paz. De outro lado, o retomar de um ideal humanista buscando reforço nas antigas doutrinas de uma Verdade Universal, na sabedoria de religiões extra-cristãs. Profetas modernos, esoteristas, espiritualistas científicos espalharam o gérmen de uma nova e ampla espiritualidade.(3).
O esoterismo tornou-se uma definição obrigatória para alguns movimentos religiosos do período. O termo “esoterismo” define uma doutrina segundo a qual uma ciência, um sistema de crenças filosófico-religiosas, reflexões epistemológicas e ontológicas da realidade última não devem ser vulgarizadas e nem divulgadas senão entre adeptos, conhecidos e eleitos. No século XIX a palavra “esoterismo” converteu-se frequentemente, em sinônimo de oculto, de ocultismo, sendo aplicado a campos de estudo e conhecimento como a magia, a mântica e a cabala. Estas definições abrangentes abarcam uma realidade histórica complexa e difusa. Crenças, teorias, técnicas místicas e iniciáticas que poderíamos classificar como esotéricas já eram populares na Antiguidade Tardia, não desaparecendo na Idade Média, tornando-se importantes na Renascença, atravessando os séculos XVII e XVIII para ganharem fôrça e expressão no século XIX. Uma definição ampla, sugere a existência de um campo específico e abrangente, com fronteiras comuns, debates e metodologias particulares. Porém, o termo aplica-se, de várias formas, a diferentes concepções religiosas. O “esoterista” é o pensador -cristão ou não- que desenvolve suas crenças, estudos e religiosidade sobre três pontos: analogia, teosofia e igreja interior. A analogia é a crença (ou como será percebido à partir do século do XVIII, uma lei) segundo a qual existem, entre seres e coisas, relações necessárias, intencionais que não são necessariamente, temporais ou espaciais: o análogo atua sôbre o análogo e desta forma explica-se a magia e o conhecimento que conduz ao “espírito das coisas”. Desta forma, no pensamento analógico, conhecer o Mundo é conhecer Deus, porque a Natureza representa uma revelação gradual. A Ciência adquire uma significação religiosa. A teosofia, que não tem o mesmo significado da Sociedade Teosófica fundada no século XIX, dá sentido a analogia e compreende tanto uma interpretação profunda de textos sagrados como a experiência mística pura. O pensamento teosófico insiste em determinados pontos dos dogmas sôbre os quais a religião constituida e institucionalizada tende a ignorar para, através desta exploração e indagação metódica chegar a iluminação interior. A mística especulativa confere a teosofia o poder de proporcionar o conhecimento e inspiração. A igreja interior, espiritual e individual, independente de religiões organizadas, coloca-se como a experiência mística por excelência. A Alma Humana tem origem divina e, portanto, pode acercar-se de Deus, onde reside esta mesma Alma. A União divina é imanente a natureza humana e graças a iniciações, conhecimentos sagrados e secretos, pode-se chegar a este reencontro divino. A iniciação implica em regeneração que depende de gnose. Esta igreja interior é a única verdadeira e eterna, ao contrário das Igrejas materiais, que serão sempre destruídas, sobrevivendo, exclusivamente, a igreja invisível e interior. Este sentido permanece entre as correntes esotéricas do século XIX surgindo formas de esoterismo cristão s sofrendo as influências pagãs e místicas do esoteristas dos séculos anteriores e que incluiam magia, alquimia, meditação, êxtases místicos, necromancia, cabala, numerologia, ordens secretas, etc. No começo deste século o orientalismo invadiu a Europa que descobriu os livros do Egito, da India e do remoto Oriente fornecendo um novo campo de construções e representações para os movimentos espirituais desta época. Foi o Oreinte romantizado que alimentou o orientalismo espiritualizado do período.(4).

A casa do mundo

A casa do mundo é um livro do escritor/jornalista português Tiago Salazar no qual este relata as suas viagens pela Europa.
Temos à partida de confessar que gostamos particularmente de livros sobre viagens. O encanto proporcionado por quem viaja e tem o talento para escrever sobre os locais e pessoas que conheceu durante as suas deambulações é fascinante e ocupa na nossa mente um lugar especial.
Não conhecíamos Tiago Salazar. Sobre viagens temos tido a oportunidade de ler, sobretudo, Gonçalo Cadilhe e Bill Bryson que nos encantam com os maravilhosos lugares que visitam.
A escrita de Salazar é diferente. Não é que não se refira a pessoas, mas é mais parecida com uma crónica de revista de viagens, onde o autor descreve os lugares que visitou, os locais onde esteve hospedado e as iguarias que provou.
Não é que não seja interessante, porque é. Antes preferiríamos que este tivesse escrito sobre as pessoas. Afinal, o que conta verdadeiramente no final – muito mais importante que a gastronomia ou a qualidade do hotel – é o que aprendemos com o nosso semelhante.
Seja como for, Salazar é um óptimo escritor. Tem classe, muita! De Madrid a Moscovo, da Lituânia a Malta passando por um cruzeiro pelo Mediterrâneo, este autor proporciona-nos momentos mágicos, sobretudo quando o calor do Sol começa a apertar.
Assim sendo, para os amantes da literatura de viagens este livro de Salazar é uma obra obrigatória. Para os outros… Enfim, cada um gosta do que gosta!

Robin Cook vai estar em Portugal no dia 8 de Junho

O conceituado escritor Robin Cook estará em Portugal, no próximo dia 8 de Junho, às 18h30, no El Corte Inglês para uma conferência de imprensa, precedida de sessão de autógrafos.
Nascido na década de 40, em Nova Iorque, Robin Cook formou-se em Medicina
(especializado em Oftalmologia) pela Universidade da Columbia e fez a pós-graduação em Harvard. Conhecido como o criador do «thriller médico», as suas histórias têm como pano de fundo os hospitais e os seus protagonistas. Autor de diversos best-sellers, entre eles, Estado Crítico, Marcador, ou, mais recentemente, O Corpo Estranho.
Alguns dos seus livros foram adaptados
para séries ou telefilmes: Coma (1978), Intenção Criminosa (1993), Medo Mortal (1994), Vírus (1995), Terminal (1996), e Invasão (1997). Há trinta anos que se mantém como o autor de maior sucesso deste género a nível mundial.

A Virgem, de Luís Miguel Rocha apresentado hoje no Arrábida

O novo livro de Luís Miguel Rocha, A Virgem, já está nas bancas e vai ser apresentado na livraria Almedina, no Centro Comercial Arrábida, hpje, pelas 21h30. O autor estará presente para falar com os leitores e autografar os livros.
A Virgem dá-nos conta do Portugal moribundo no tempo do Estado Novo, mais precisamente na década de trinta. Um país suspenso no tempo, deslumbrado com o estrangeiro, pobre em recursos e ideias. Centrado numa família privilegiada, outras famílias se lhe juntam. Assistimos aos seus ódios, amores, perdas e cumplicidades num enredo em que o trágico e o absurdo se cruzam. Numa intriga cheia de humor, através do olhar lúcido do narrador, são desmascaradas situações gritantes de injustiça e de exploração em que o abuso de poder de alguns grupos privilegiados se passeia livremente por um país sonâmbulo e decadente com a cumplicidade silenciosa da Igreja.

Albatroz lança Filho da Guerra a história verídica de Emmanuel Jal

Título: Filho da Guerra
Autores: Emmanuel Jal
Tradução: Cláudia Ramos e Helena Ramos
N.º de Págs.: 304
PVP: 13,90 €


Filho da Guerra é uma história verídica de um jovem músico que foi soldado em criança.

No dia 12 de Junho é publicado, pela Albatroz, o livro Filho da Guerra, a
história verídica de Emmanuel Jal, um músico que, em criança, participou na Guerra do Sudão. Mal podendo com o peso de uma arma, Jal, um dos
Meninos Perdidos do Sudão, testemunhou e praticou actos de extrema brutalidade, no contexto da guerra civil que se desenvolvia no país.
As memórias de terror desenham-se vividamente nesta poderosa autobiografia, que revela
dolorosamente a fúria que a guerra lhe ensinou, mas também a forma impressionante como
conseguiu superá-la.
Inspirado por Mahatma Ghandi, Martin Luther King e Nelson Mandela, socorreu-se da música como instrumento para o seu próprio processo de cura e incentivo à paz no seu país, tornando-se um dos mais promissores cantores rap africanos, reconhecido internacionalmente.
Chocante, inspirador e carregado de esperança, Filho da Guerra é a autobiografia de um jovem
singular, determinado a contar a sua própria história e a revelar ao mundo a tragédia do seu país.

Pode ver as primeiras páginas do livro aqui:
http://recursos.portoeditora.pt/recurso?&id=1118996

Sobre o autor
Emmanuel Jal é um artista rap que conquistou notoriedade mundial pelas suas músicas de hip-hop com mensagens de paz e reconciliação, inspiradas nas suas experiências enquanto
criança-soldado do Sudão. Em 2005, editou o seu primeiro álbum musical, Gua («Paz» na
sua língua nativa – o nuer), e, em 2008, lançou um novo álbum, War Child, que é também o nome de um documentário sobre a sua vida, vencedor do Tribeca Film Festival Cadillac Audience
Award em 2008. A sua música integrou a banda sonora do filme Blood Diamond
(«Diamante de Sangue»), o documentário God Grew Tired of Us e três episódios da série ER
(«Serviço de Urgência»).
Além da sua actividade no campo da música, Jal tem-se dedicado à ajuda humanitária a África.
Criou um fundo, o GUA Africa, para construir um centro de reabilitação para crianças-soldados no Sudão. É embaixador da Oxfam e colabora com a Amnistia Internacional, a Save the Children, a Coalition to Stop the Use of Child Soldiers, a UNICEF, a World Food Programme e a Christian
Aid.


Avassalador… Puro… Provocante.

The New York Times

Franco, implacável... O retrato de um jovem marcado pela guerra que é hoje um exemplo e um

defensor da sua comunidade.
Kirkus Reviews

As Lolitas de Marsé

É um livro duro, brutal e violento como só o pode ser a história de vidas cansadas, perdidas, sem esperança e pobres. Pobres materialmente, é certo, mas especialmente no mais recôndito da alma, quando a confiança nos homens há muito morreu e da fé em dias melhores nada mais resta – nem em sonhos. Mas é também um livro comovente, de uma ternura infinita, em que os sentimentos mais espontâneos se cruzam (chocam?) com o que há de mais animalesco nos homens, provocando uma dor infinita – como quem deita álcool numa ferida aberta.
Falamos de “Canções de Amor em Lolitas’s Club”, em que o já muito premiado Juan Marsé prova até à exaustão que é um excelente contador de histórias e um mestre a tecer uma trama de sentimentos nas situações mais improváveis – mas com um realismo inquietante.
Sem pieguices nem crueldade, Marsé faz o leitor entrar de rompante pelas portas do Lolita’s Club, esse bar de alterne nos arredores de Barcelona que poderia ser em Lisboa, onde mulheres jovens já muito velhas aguardam os clientes com um sorriso pintado, um poiso na rota migrante da prostituição.
E fá-lo seguir essa história improvável de amor entre Milena, a jovem prostituta colombiana, e Valentín, um adulto de 30 anos que um problema no parto deixou sempre criança, uma criança grande que circula entre o bar e os quartos do andar de cima, cozinha pizzas e faz recados às raparigas.
Marsé traz ainda a esta história de amor nascida das misérias quotidianas da contemporaneidade o gémeo de Valentín, Raúl, um polícia duro e violento, perturbado e alcoolizado. Afastado da brigada enquanto decorre um inquérito à sua conduta em Vigo, Raúl refugia-se na casa paterna e descobre com estupefacção o romance entre o irmão e a prostituta. Desenvolve-se então um remoinho de sentimentos e acções que Marsé conduz magistralmente até às profundezas turvas da vida e da morte.
“Canções de Amor em Lolitas’s Club” é o mais recente romance de Juan Marsé, nascido em Barcelona em 1933, que em Abril foi galardoado com o Premio Cervantes de Literatura 2008.

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Juan Marsé
Canções de Amor em Lolitas’s Club
Campo das Letras, 15,75€

Um menino diferente de Maria João Lopo de Carvalho lançado pela Porto Editora

Título: Um Menino Diferente
Autor: Maria João Lopo de Carvalho
Nº Págs.: 48
PVP: 10,50€

Diferente, igual a tantos
outros
Os direitos de autor do livro de Maria João Lopo de Carvalho revertem para a associação de solidariedade social Ajuda
de Berço.

A Porto Editora apresenta, no próximo dia 2 de Junho, terça-feira, o livro Um
Menino Diferente, de Maria João Lopo de Carvalho. A sessão de lançamento terá lugar na FNAC do Centro Comercial Colombo, a partir das 19h00, e contará com a presença da autora e da directora da Ajuda de Berço, Sandra Anastácio, associação para a qual os direitos da escritora reverterão automaticamente.
Ilustrado por J.C. Cintra Costa, Um Menino Diferente conta a história de Afonso, uma criança especial que, apesar de aprender a ler com facilidade e encontrar coisas, aparentemente, impossíveis de descobrir, se depara com sérias dificuldades na prática das mais simples acções como lavar a cabeça, utilizar o computador ou, lamentavelmente, mimar o seu cão.

Sobre a Ajuda de Berço
A Ajuda de Berço, fundada em 1998, acolhe crianças até aos 3 anos de idade necessitadas de

protecção premente face a situações que as coloquem em risco. A associação nasceu na sequência
das urgências sentidas por um grupo de profissionais - médicos pediatras, sociólogos, enfermeiros, psicólogos, técnicos de serviço social e juristas - na resposta aos problemas das crianças em risco, em situação de abandono ou vítimas de exclusão social.

A Autora

Maria João Lopo de Carvalho nasceu em 1962 e licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova de Lisboa. Professora de Português e de Inglês no ensino público e privado, representante em Portugal dos colégios ingleses Pilgrims, fundou e dirigiu a Know How, Sociedade de Ensino de Línguas e a Know How – Edições Produções e Publicidade destinada à tradução e à criação de livros personalizados para crianças. É cronista da Olá Semanário e da GQ, pertencendo também ao Conselho Editorial desta última. Colabora em várias revistas e publicações e, actualmente, está ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa.

Marcada

Autor: P.C. Cast + Kristin Cast
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 312
ISBN: 978896371296
Tradutor: Susana Serrão

Sinopse
Zoey Redbird tem 16 anos e vive num mundo igual ao nosso, com uma única excepção: os vampyros não só existem como são tolerados. Os humanos que os vampyros "marcam" como especiais entram na Casa da Noite, uma escola onde se vão transformar em vampyros ou, se o corpo o rejeitar, morrer. Para Zoey, apesar do medo inicial, ser marcada é uma verdadeira bênção. É que ela nunca encaixou no mundo normal e sempre sentiu que estava destinada a algo mais. Mas mesmo na nova escola a jovem sente-se diferente dos outros: é que a marca que a Deusa Nyx lhe fez é especial, mostrando que os seus poderes são muito fortes para alguém tão jovem. Na Escola da Noite, Zoey acaba por encontrar amizade e amor, mas também mentira e inveja. Afinal, nem tudo está bem no mundo dos vampyros e os problemas que pensava ter deixado para trás não se comparam aos desafios que tem pela frente.

Opinião
Antes de mais, deixem-me dizer-vos que, apesar da comparação com a série de livros da Stephenie Meyer, tão em voga, este livro me recordou muito mais os livros do Harry Potter, pelo facto de contar a história de uma jovem, curiosamente também com uma marca na testa, que ingressa numa escola de vampyros onde os jovens marcados iniciam uma aprendizagem adaptada à sua nova condição. Zoey Redbird, de 16 anos, vê-se subitamente a braços com uma nova vida, em que terá de aceitar os seus novos poderes e aprender a utilizá-los da melhor forma. Neste tarefa, Zoey é acompanhada por um grupo de amigos que a vão ajudar a integrar-se na sua nova casa.

Este é um livro de tom marcadamente juvenil, que se reflecte na linguagem simples e nos diálogos e descrições pouco elaboradas. A história, apesar de alguns elementos originais, pareceu-me bastante linear e muitas vezes previsível, e mesmo as personagens poderiam ter tido mais algum desenvolvimento. A leitura é rápida, fluida e potencialmente cativante para o público-alvo a que se dirige. A mim, pessoalmente, não me impressionou muito - isto porque, de momento, o que procuro num livro vai um pouco para além do que este me ofereceu.

Apesar disso, julgo ser uma boa aposta para os leitores mais jovens e que estejam interessados na temática que o livro aborda.

5/10 - Razoável

[Livro n.º 44 do meu Desafio de Leitura]

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Discursos de Sathya Sai Baba: OS QUE ESTÃO POR MORRER LAMENTAM OS MORTOS - 10/03/67 – Ocasião: Mahashivaratri - A Grande Noite de Shiva

TRECHO:
O desejo é a causa do nascimento; o tempo é a causa da morte; Deus é o guardião da vida. Por conta
do desejo, ocorre o nascimento. Pelo tempo, que flui incessantemente sem respeitar ninguém, o fio da
vida é cortado. Através da entoação constante do nome de Deus, a vida torna-se meritória. A vida é uma
batalha; a batalha é travada até a vitória. O objetivo da vitória é a “coroa” do Eu Superior, a “soberania”
do reino da liberação. Isso é alcançado e vencido através do processo de estabelecimento do Vedanta.
O Vedanta é a consumação ou o final dos Vedas. O leite quando coalhado torna-se separado em
manteiga e soro, e a manteiga quando derretida e clarificada torna-se ghee; o ghee é o final, o estágio
final (anta) do leite. Assim também, o objetivo do homem, a transmutação irrevogável, é a liberação.
Quando vocês se preparam para a vitória nessa batalha com seus inimigos internos e os sentidos, o
Senhor lhes dá os reforços que precisam, já que estão dirigindo-se a Ele e Ele dá cem passos a vocês
para cada dez que dêem em direção a Ele.
Uma vez Ramadas lamentou-se: “Ó Senhor! Você é forte, onipotente, onisciente: eu sou sozinho,
indefeso, órfão e pobre”. Então o Senhor interrompeu a autocondenação e disse: “Não, como você pode
se chamar de pobre, indefeso e órfão? Eu estou com você, em você, derramando Minha graça. O único
órfão no universo sou Eu; já que não tenho um guardião, nenhum meio de apoio, ninguém a quem
recorrer. Eu sou o Órfão; todo o resto está com Deus, porque Eu sou seu Deus.”

Questionário (XIX)


Retomamos hoje a publicação dos nossos questionários, desta vez com as respostas da Alice do blog Sombra dos Livros. Obrigado pelas respostas!

1 - Como surgiu a ideia de criares um blog sobre livros?
Sou uma verdadeira viciada em livros e tenho uma biblioteca considerável, tenho também muitos amigos que me pedem livros emprestados e conselhos e opiniões nesta área. A criação do blog surgiu devido a essas opiniões que às vezes me são pedidas. Comecei a visitar alguns blogs sobre livros e conclui que não corria nenhum risco de maior se tentasse também a minha sorte... É também uma forma de ter contacto com outros leitores e trocar com eles opiniões.

2 - És uma leitora rápida? Quantos livros lês, em média, por mês?
Já fui mais rápida, ou melhor, já tive mais tempo para me dedicar à leitura. Actualmente, leio em média cinco livros por mês. Há meses em que leio mais outros em que leio menos mas o tempo (ou a falata dele) é uma forte condicionante.

3 - Qual é o teu livro preferido de sempre e porquê?
Nem sei muito bem. Ainda assim posso talvez apontar o "Presságio de Fogo" da Marion Zimmer Bradley como um dos que mais me marcou. A época em que o li foi especial e, além disso, foi com ele que me lancei numa leitura mais adulta (aos 13 ou 14 anos) deixando para trás Os Cinco, Uma aventura e coisas do tipo (se bem que nunca tenha conseguido largar o Triangulo Jota - não me perguntem porquê).

4 - O que te leva a identificares-te com uma personagem/história?
Mais uma vez, não sei muito bem....Normalmente identifico-me mais com uma personagem devido às caracteristicas psicológicas que lhe são atribuidas pelo autor e não tanto pelas acções que são tomadas pela personagem ao longo da história.

5 - Género literário preferido e que livro recomendarias dentro do mesmo?
O estilo que mais me agrada é fantasia (para normalidade e assuntos do quotidiano já tenho a minha vida) mas logo de seguida estão os épicos e os policiais. Dentro da fantasia penso que poderia recomendar qualquer titulo de Neil Gaiman e não iria defraudar ninguém com a minha escolha.

6 - O que achas das adaptações cinematográficas de livros?
Há de tudo... Nos últimos anos e parece-me que principalmente depois da adaptação de "O Senhor dos Anéis", os produtores têm vindo a demonstrar um maior cuidado e empenho nas adaptações e em conseguir dar ao público BOAS adaptações. Ainda assim, nunca vou ver um filme sem ler o livro antes - o visionamento condiciona a leitura posterior.

7 - Qual é a tua opinião sobre os e-books?
Não gosto de ler no computador. Os e-books têm a vantagem de se poderem levar muito facilmente para qualquer lado (agora até no iPod e etc) mas esta modernice de ler no ecran não é para mim, gosto de tocar no livro, sentir o cheiro das páginas, deliciar-me com a capa... o virar da página na espectativa do que virá a seguir...Nada chega a isto. Quando me mandam cópias de livros para o e-mail, se os quero ler, tenho mesmo que os imprimir. Por outro lado, também ainda não há muitos títulos disponíveis em português e mesmo que gosta têm as suas dificuldades em encontrar algo do seu agrado.

8 - Tens alguma ideia sobre o que deveria ser feito para aumentar os índices de leitura em Portugal?
A principal medida a adoptar seria, sem sombra de duvidas, a diminuição do custo dos livros - tanto para o produtor como para o cliente; a compra de livros que vão mais de encontro às escolhas e gostos dos leitores por parte das bibliotecas, tanto das públicas como das bibliotecas escolares (há imensos jovens que não leem porque não têm dinheiro para tal e porque na biblioteca lá da escola só há os clássicos que não lhes chamam a atenção); o regresso das bibliotecas itinerantes às localidades mais isoladas (sobretudo no interior do pais) também seria uma boa aposta. São só ideias...

9 - A leitura é uma paixão que nasce connosco ou está mais dependente de factores externos (muitos livros em casa desde a infância, etc.)?
Penso que não nascemos condicionados a esse ponto. Na minha opinião o importante mesmo é o contacto com os livros e a forma como este se dá (num primeiro momento). Se uma criança têm pais que se dedicam à leitura, se lhe é lida uma história antes de dormir, se lhe são oferecidos livros que vão de encontro aos seu gostos nas diferentes fazes do crescimento...Então esta criança, com certeza, vai mais tarde ler muito e tirar disso grande prazer.

Hoje, na Feira do Livro do Porto

Para o dia de hoje, 28 de Maio, o programa da Feira do Livro é:

- 17h - Lançamento do livro " Histórias dos Presidentes da Câmara desde 1820”.
Apresentação: Prof. Fernando Sousa
Auditório - Lançamentos

Livros do dia em destaque:
- As palavras das cantigas, José Carlos Ary dos Santos - Calendário de Letas - 6.90€
- Livro das Pequenas bailarinas - Porto Editora - 7.70€
- Eu servi o rei de Inglaterra, Bohumil Hrabal - Edições Afrontamento - 8.40€
- O remorso de Baltazar serapião, valter hugo mãe - Quidnovi - 8.82€
- Álvaro Cunhal, Maria Valentina Paiva - Calendário de Letras - 9€
- E os espelhos de Clio, Sara Marques Pereira - Livros Horizonte - 11€
- As esquinas do tempo, Rosa Lobato de Faria - Porto Editora - 12€
- A doçura da chuva, Deborah Smith - Porto Editora - 13.20€

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Lançamento Asa para Junho - Casas Contadas de Leonor Xavier

O dia 4 de Junho vai servir de pretexto para o lançamento de Casas Contadas de Leonor Xavier. O local escolhido é o Jardim de Inverno do São Luiz Teatro Municipal, pelas 19 horas. A apresentação estará a cargo de Helena Matos.


Uma vida contada através das treze casas a que Leonor Xavier chamou suas. O tema é tanto mais interessante quanto a autora viveu nessas casas experiências marcantes, não só para ela, mas para toda uma geração. Oriunda de uma família da média-alta burguesia, casada cedo com um jurista brilhante, com três filhos pequenos, passa do ambiente protegido de uma família tradicional numa casa da Lapa, para São Paulo, no Brasil, quando, em 1975, ela e o marido decidem começar uma nova vida fora de Portugal. A experiência – que foi certamente vivida por muitos portugueses que abandonaram Portugal nos anos 70 – é muito bem narrada no livro. Tudo é novo: a situação precária em que chegam, os trabalhos ocasionais, a nova escola dos filhos, a empregada brasileira, a solidariedade dos amigos que conhecem no Brasil, a língua diferente, os costumes muito mais livres. Mais tarde, o regresso a Portugal, a adaptação ao país diferente que vem encontrar, o recomeçar de novo,integrando na sua nova vida o espírito optimista, sem preconceitos e convivial que foi talvez, para além dos muitos amigos, o que de melhor lhe ficou da experiência brasileira. Numa escrita colorida e muito pessoal, Leonor Xavier dá-nos o retrato de dois mundos muito diversos que ela conseguiu conciliar como ninguém.

Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - SÉTIMO ANO - 1864

TRECHO:
MÉDIUNS CURADORES.
Um oficial de caçadores, Espírita de longa data, e um dos numerosos exemplos das
reformas morais que o Espiritismo pode operar, nos transmite os detalhes seguintes:
"Caro mestre, aproveitamos nossas longas horas de inverno para nos entregar com
ardor ao desenvolvimento de nossas faculdades medianímicas. A tríade do 4Ç caçador,
sempre unida, sempre vivente, se inspira de seus deveres, e ensaia novos esforços. Sem
dúvida, desejais conhecer o objeto de nossos trabalhos, a fim de saber se o campo que
cultivamos não é estéril. Disso podereis julgar pelos detalhes seguintes. Há alguns meses
nossos trabalhos têm por objetivo o estudo dos fluidos; esse estudo desenvolveu em nós
a mediunidade curadora; também, aplicamo-la agora com sucesso. Há alguns dias, uma
simples emissão fluídica de cinco minutos com minha mão, bastou para tirar uma nevralgia
violenta.
"Madame P... estava afetada, há vinte e oito anos, de uma hiperestesia aguda ou
sensibilidade exagerada da pele, enfermidade que a retinha em seu quarto há quinze anos.
Ela mora numa pequena cidade vizinha, e, tendo ouvido falar de nosso grupo, veio
procurar alívio junto a nós. Ao cabo de trinta e cinco dias, voltou completamente curada.
Durante esse tempo, recebeu cada dia um quarto de hora de emissão fluídica, com o
concurso de nossos guias espirituais.
"Dávamos, ao mesmo tempo, nossos cuidados a um epiléptico, atingido por essa
terrível enfermidade há vinte e sete anos. As crises se renovavam quase cada noite, e
cada vez sua mãe passava longas horas à sua cabeceira. Trinta e cinco dias bastaram
para essa cura importante, e que estava feliz, essa mãe, acompanhando seu filho radicalmente
curado! Nós revezávamos, todos os três, de oito dias em oito dias, para a emissão
fluídica, colocávamos a mão, ora sobre a cavidade do estômago do enfermo, ora sobre
a nuca, no início do pescoço. Cada dia o enfermo podia constatar uma melhora; nós
mesmos, depois da evocação e durante o recolhimento, sentíamos o fluido exterior nos
invadir, passar em nós, e escapar-se de nossos dedos alongados e de nosso braço estendido
para o corpo do sujeito que tratávamos.
"Dávamos nesse momento nossos cuidados a um segundo epiléptico; desta vez, a
enfermidade seria talvez mais rebelde, uma vez que é hereditária. O pai deixou, aos seus
quatro filhos, o germe dessa afecção; enfim, com a ajuda de Deus e dos bons Espíritos,
esperamos reduzi-la em todos os quatro.
"Caro mestre, reclamamos o socorro de vossas preces e as de nossos irmãos de
Paris. Esse socorro será para nós um encorajamento e um estímulo aos nossos esforços.
Depois, vossos bons Espíritos podem vir em nossa ajuda, tornar o tratamento mais salutar
e abreviar-lhe a duração.
"Não aceitamos por toda recompensa, como bem o pensais, e ela deve ser suficiente,
senão a satisfação de ter feito nosso dever e de ter obedecido ao impulso dos bons
Espíritos. O verdadeiro amor ao próximo carrega consigo uma alegria sem mistura, e deixa
em nós alguma coisa de luminosa, que encanta e que eleva a alma. Também procuramos,
tanto quanto nossas imperfeições no-lo permitem, nos compenetrar dos deveres
do verdadeiro Espírita, que não devem ser senão a aplicação dos preceitos evangélicos.
"O Sr. G... de L... deve nos conduzir seu cunhado, que um Espírito malfazejo subjuga
há dois anos. Nosso guia espiritual Lamennais nos encarrega do tratamento dessa
obsessão rebelde. Deus nos daria também o poder de expulsar os demônios? Se assim
for, não teríamos senão que nos humilhar diante de um tão grande favor, em lugar de nos
orgulharmos. Quanto maior ainda não seria para nós a obrigação de nos melhorar, para
disso testemunhar-lhe nosso reconhecimento e para não perder dons tão preciosos?"
Essa interessante carta, tendo sido lida na Sociedade Espírita de Paris, na sua sessão
de 18 de dezembro de 1863, um dos nossos bons médiuns obteve espontaneamente,
a esse respeito, as duas comunicações seguintes:
"A vontade, existindo no homem em diferentes graus de desenvolvimento, serviu,
em todas as épocas, seja para curar, seja para aliviar. É lamentável ser obrigado a constatar
que ela foi também a fonte de muitos males, mas é uma das conseqüências do abuso
que, freqüentemente, o ser faz de seu livre arbítrio. A vontade desenvolve o fluido seja
animal, seja espiritual, porque, o sabeis todos agora, há vários gêneros de magnetismo,
entre os quais estão o magnetismo animal e o magnetismo espiritual que pode, segundo a
ocorrência, pedir apoio ao primeiro. Um outro gênero de magnetismo, muito mais poderoso
ainda, é a prece que uma alma pura e desinteressada dirige a Deus.
"A vontade foi, freqüentemente, mal compreendida; em geral aquele que magnetiza
não pensa senão em desdobrar sua força fluídica, senão em derramar seu próprio fluido
sobre o paciente submetido a seus cuidados, sem se ocupar se há ou não uma Providência
que nisso se interessa tanto e mais do que ele; agindo só, não pode obter senão o que
sua única força pode produzir; ao passo que nossos médiuns curadores começam por
elevar sua alma a Deus, e para reconhecer que, por eles mesmos, não podem nada; fazem,
por isso mesmo, um ato de humildade, de abnegação; então, confessando-se muito
fracos por si mesmos, Deus, em sua solicitude, lhes envia poderosos recursos que não
pode obter o primeiro, uma vez que se julga suficiente para a obra empreendida. Deus
recompensa sempre a humildade sincera elevando-a, ao passo que rebaixa o orgulho.
Esse recurso que envia, são os bons Espíritos que vêm penetrar o médium de seu fluido
benfazejo, que este transmite ao enfermo. Também é por isso que o magnetismo empregado
pelos médiuns curadores é tão poderoso e produz essas curas qualificadas de miraculosas,
e que são devidas simplesmente à natureza do fluido derramado sobre o médium;
ao passo que o magnetizador comum se esgota, freqüentemente, em vão, em fazer
passes, o médium curador infiltra um fluido regenerador pela única imposição das mãos,
graças ao concurso dos bons Espíritos; mas esse concurso não é concedido senão à fé
sincera e à pureza de intenção."
MESMER (Médium, Sr. Albert).
"Uma palavra sobre os médiuns curadores, dos quais vindes de falar; estão todos
nas disposições mais louváveis; têm a fé que ergue as montanhas, o desinteresse que
purifica os atos da vida, a humildade que os santifica. Que perseverem na obra de beneficência,
que empreenderam; que se recordem bem que aquele que pratica as leis sagradas
que o Espiritismo ensina, se aproxima constantemente do Criador. Que, quando empregam
sua faculdade, a prece, que é a vontade mais forte, seja sempre seu guia, seu
ponto de apoio. O Cristo vos deu, em toda a sua existência, a prova mais irrecusável da
vontade mais firme, mas era a vontade do bem e não a do orgulho. Quando dizia às vezes:
Eu quero, essa palavra estava cheia de unção; seus apóstolos, que o cercavam, sentiam
seus corações se abrirem a essa santa palavra. A doçura constante do Cristo, sua
submissão à vontade de seu Pai, sua perfeita abnegação, são os mais belos modelos de
vontade que se possa propor para exemplo."
PAULO, apóstolo (Médium, Sr. Albert).
Algumas explicações faraó facilmente compreender o que se passa nesta circunstância.
Sabe-se que o fluido magnético comum pode dar, a certas substâncias, propriedades
particulares ativas; neste caso, age de alguma sorte como agente químico, modifi7
cando o estado molecular dos corpos; nada há, pois, de espantoso em que possa mesmo
modificar o estado de certos órgãos; mas compreende-se, igualmente, que sua ação,
mais ou menos salutar, deve depender de sua qualidade; daí as expressões de "bom ou
mau fluido; fluido agradável ou penoso." Na ação magnética propriamente dita, é o fluido
pessoal do magnetizador que é transmitido, e esse fluido que não é outro senão o perispírito,
sabe-se que participa sempre, mais ou menos, das qualidades materiais do corpo, ao
mesmo tempo que sofre a influência moral do Espírito. É, pois, impossível que o fluido
próprio de um encarnado seja de uma pureza absoluta, e é por isso que sua ação curativa
é lenta, algumas vezes nula, algumas vezes mesmo nociva, porque pode transmitir ao
enfermo princípios mórbidos. De que um fluido seja bastante abundante e enérgico para
produzir efeitos instantâneos de sono, de catalepsia, de atração ou de repulsão, não se
segue, de nenhum modo, que tenha qualidades necessárias para curar; é a força que abate,
e não o bálsamo que abranda e repara; assim ocorre com os Espíritos desencarnados
de uma ordem inferior, cujo fluido pode mesmo ser malfazejo, o que os Espíritas têm,
a cada instante, a ocasião de constatar. Só nos Espíritos superiores o fluido perispiritual
está despojado de todas as impurezas da matéria; de alguma sorte, ele é quintessenciado;
sua ação, por conseqüência, deve ser mais salutar e mais pronta; é o fluido benfazejo
por excelência. Uma vez que não se pode encontrá-lo entre os encarnados, nem entre os
desencarnados vulgares, é preciso, pois, pedi-lo aos Espíritos elevados, como se vai procurar
nas regiões longínquas os remédios que não se encontram na sua. O médium curador
emite pouco de seu próprio fluido; ele sente a corrente do fluido estranho que o penetra
e ao qual serve de condutor; é com esse fluido que magnetiza, e aí está o que caracteriza
o magnetismo espiritual e o distingue do magnetismo animal: um vem do homem, o
outro dos Espíritos. Como se vê, não há aí nada de maravilhoso, mas um fenômeno resultante
de uma lei da Natureza que não se conhecia.
Para curar pela terapêutica comum, não basta qualquer medicamento; são necessários
puros, não avariados ou adulterados, e convenientemente preparados; pela mesma
razão, para curar pela ação fluídica, os fluidos mais depurados são os mais saudáveis;
uma vez que esses fluidos benfazejos são o próprio dos Espíritos superiores, é, pois, o
concurso destes últimos que é necessário obter; é por isso que a prece e a invocação são
necessárias. Mas para orar, e sobretudo orar com fervor, é preciso a fé; para que a prece
seja escutada, é preciso que seja feita com humildade e ditada por um sentimento real de
benevolência e de caridade; ora, não há de verdadeira caridade sem devotamento, e não
há de devotamento sem desinteresse; sem essas condições, o magnetizador, privado da
assistência dos bons Espíritos, nisso está reduzido às suas próprias forças, freqüentemente
insuficientes, ao passo que com seu concurso podem ser centuplicados em poder
e em eficácia. Mas não há licor, tão puro que seja, que não se altere passando por um
vaso impuro; assim ocorre com o fluido dos Espíritos superiores passando pelos encarnados;
daí, para os médiuns em que se revela essa preciosa faculdade, e que querem vê-la
crescer e não se perder, há necessidade de trabalhar para a sua melhoria moral.
Entre o magnetizador e o médium curador há, pois, esta diferença capital, que o primeiro
magnetiza com seu próprio fluido, e o segundo com o fluido depurados dos Espíritos;
de onde se segue que estes últimos dão seu concurso àqueles que querem e quando
querem; que podem recusá-lo, e, por conseqüência, tirar a faculdade àquele que dela abusasse
ou a desviasse de seu objetivo humanitário e caridoso para dela fazer um tráfico.
Quando Jesus disse aos seus apóstolos: "Ide! expulsai os demônios, curai os enfermos,
"acrescentou: "Dai gratuitamente o que recebestes gratuitamente."
Os médiuns curadores tendem a se multiplicar, assim como os Espíritos anunciaram,
e isto tendo em vista propagar o Espiritismo pela impressão que essa nova ordem de fenômenos
não pode deixar de produzir sobre as massas, porque não há ninguém que não
pense em sua saúde, mesmo os mais incrédulos. Quando, pois, se verá obter com o concurso
dos Espíritos o que a ciência não pode dar, seria preciso muito convir que há uma
força fora de nosso mundo; a ciência será assim conduzida a sair da via exclusivamente
material onde permanece até este dia; quando os magnetizadores anti-espiritualistas, ou
anti-espíritas, virem que existe um magnetismo mais poderoso do que o seu, serão muito
forçados a remontar à verdadeira causa.
Importa, no entanto, premunir-se contra o charlatanismo, que não faltará em tentar
explorar, em seu proveito, essa nova faculdade. Há, para isso, um meio muito simples, é
o de recordar-se de que não há charlatanismo desinteressado, e que o desinteresse absoluto,
material e moral, é a melhor garantia de sinceridade. Se
há uma faculdade dada por Deus num objetivo santo, sem contradita, é esta, uma
vez que exige imperiosamente o concurso dos Espíritos superiores, e que esse concurso
não pode ser adquirido pelo charlatanismo. E a fim de que se esteja bem edificado sobre
a natureza toda especial dessa faculdade que a descrevemos com alguns detalhes. Embora
tivéssemos podido constatar-lhe a existência por fatos autênticos, dos quais vários
se passaram sob os nossos olhos, pode-se dizer que ela é ainda rara, e que não existe
senão parcialmente nos médiuns que a possuem, seja porque estes não tenham todas as
qualidades requeridas para possuí-la em toda a sua plenitude, seja porque ela está em
seu início; é porque os fatos não tiveram, até este dia, senão pouca repercussão; mas
não tardará a tomar os desenvolvimentos de natureza a fixar a atenção geral; daqui a
poucos anos se revelará em algumas pessoas predestinadas a esse efeito, com uma força
que triunfará de muitas obstinações; mas não são esses os únicos fatos que o futuro
nos reserva, e pelos quais Deus confundirá os orgulhosos e os convencerá da impotência.
Os médiuns curadores são um dos mil meios providenciais para alcançar esse objetivo de
acelerar o triunfo do Espiritismo. Compreende-se facilmente que essa qualificação não
pode ser dada aos médiuns escreventes, que obtêm prescrições médicas de certos Espíritos.
Não encaramos a mediunidade curadora senão do ponto de vista fenomênico, e como
meio de propagação, mas não como recurso habitual; num próximo artigo trataremos
de sua aliança possível com a medicina e a magnetização comum.
_______________________
UM CASO DE POSSESSÃO. Senhorita Julie.
(2o artigo. - Ver o número de dezembro de 1863.)
Em nosso precedente artigo descrevemos a triste situação dessa jovem, e as circunstâncias
que provam nela uma verdadeira possessão. Estamos felizes ao confirmar o
que dissemos de sua cura, hoje completa. Depois de ser livrada de seu Espírito obsessor,
os violentos abalos que sentira durante mais de seis meses tinham-lhe trazido uma grave
perturbação em sua saúde; agora está inteiramente refeita, mas não saiu de seu estado
sonambúlico, o que não a impede de aplicar-se aos seus trabalhos habituais. Vamos expor
as circunstâncias dessa cura.
Várias pessoas tinham empreendido magnetizá-la, mas sem muito sucesso, salvo
uma leve e passageira melhora em seu estado patológico; quanto ao Espírito, estava cada
vez mais tenaz, e as crises tinham atingido um grau de violência dos mais inquietantes.
Teria sido preciso ali um magnetizador nas condições que indicamos no artigo precedente
para os médiuns curadores, quer dizer, penetrando o enfermo de um fluido bastante
puro para eliminar o fluido do mau Espírito. Se há um gênero de mediunidade que exige
uma superioridade moral, é sem contradita no caso de obsessão, porque é necessário ter
o direito de impor sua autoridade ao Espírito. Os casos de possessão, segundo o que foi
anunciado, devem se multiplicar com uma grande energia daqui a algum tempo, a fim de
que a impossibilidade dos meios empregados até o presente, para combatê-los, esteja
bem demonstrada. Uma circunstância mesmo, da qual não podemos ainda falar, mas que
tem uma certa analogia com o que se passou ao tempo do Cristo, contribuirá para desenvolver
essa espécie de epidemia demoníaca. Não é, pois, duvidoso que surgirão médiuns
especiais tendo o poder de expulsar os maus Espíritos, como os apóstolos tinham o de
expulsar os demônios, seja porque Deus coloca sempre o remédio ao lado do mal, seja
para dar aos incrédulos uma nova prova da existência dos Espíritos.
Para a senhorita Julie, como em todos os casos análogos, o magnetismo simples,
embora enérgico que fosse, era, pois, insuficiente; seria preciso agir simultaneamente
sobre o Espírito obsessor para domá-lo, e sobre o moral do enfermo enfraquecido por
todos esses abalos; o mal físico não era senão consecutivo; era um efeito e não a causa;
seria preciso, pois, tratar a causa antes do efeito; destruído o mal moral, o mal físico deveria
desaparecer por si mesmo. Mas para isso era preciso se identificar com a causa;
estudar com o maior cuidado e em todas suas nuanças o curso das idéias, para lhe imprimir
tal ou tal direção mais favorável, porque os sintomas variam segundo o grau de inteligência
do sujeito, o caráter do Espírito e os motivos da obsessão, motivos cuja origem
remonta, quase sempre, às existências anteriores.
O insucesso do magnetismo sobre a senhorita Julie fez com que várias pessoas tentassem;
no número delas achava-se um jovem dotado de uma grande força fluídica, mas
a quem, infelizmente, faltava totalmente a experiência, e, sobretudo, conhecimentos necessários
em semelhante caso. Atribuía-se um poder absoluto sobre os Espíritos inferiores
que, segundo ele, não podiam resistir à sua vontade; essa pretensão, levada ao excesso
e fundada sobre sua força pessoal, e não sobre a assistência dos bons Espíritos,
devia lhe atrair mais de uma decepção. Só isso teria devido bastar para mostrar, aos amigos
da jovem, que lhe faltava a primeira das qualidades requeridas para lhe ser um socorro
eficaz. Mas o que, acima de tudo, teria devido esclarecê-los, é que ele professava, sobre
os Espíritos em geral, uma opinião completamente falsa. Segundo ele, os Espíritos
superiores são de uma natureza fluídica muito etérea para poderem vir sobre a Terra comunicar-
se com os homens e assisti-los; isso não é possível senão aos Espíritos inferiores
em razão de sua natureza mais grosseira. Essa opinião, que não é outra senão a da
doutrina da comunicação exclusiva dos demônios, tinha um erro muito grave de sustentála
diante do enfermo, mesmo nos momentos de crise. Com esta maneira de ver, devia
não contar senão consigo mesmo, e não podia invocar a única assistência que teria podido
secundá-lo, assistência da qual, é verdade, acreditava não necessitar; a conseqüência
mais lastimável era para o enfermo que desencorajava, tirando-lhe a esperança da assistência
dos bons Espíritos. No estado de enfraquecimento em que estava seu cérebro,
uma tal crença, que dava toda presa ao Espírito obsessor, podia se tornar fatal para a sua
razão, podia mesmo matá-la. Também repetia-lhe, sem cessar, nos momentos de crise:
"Louca... louca... ele me tornará louca... inteiramente louca... não o sou ainda, mas tornarme-
ei." Falando de seu magnetizador, ela pintava perfeitamente sua ação dizendo: "Ele
me dá a força do corpo, mas não me dá a força do espírito." Esta palavra era profundamente
significativa, e, no entanto, ninguém lhe atribuía importância.
Quando vimos a senhorita Julie, o mal estava em seu apogeu, e a crise, da qual fomos
testemunha, foi uma das mais violentas; foi no momento mesmo em que nos aplicamos
em elevar seu moral, em que procuramos lhe inculcar o pensamento de que ela podia
domar esse mau Espírito com a assistência dos bons e de seu anjo guardião, do qual
invocaria o apoio, foi nesse momento, dizíamos, que o jovem magnetizador, que se encontrava
presente, por uma circunstância providencial, sem dúvida, veio, sem provocação
nenhuma, afirmar e desenvolver a sua teoria, destruindo de um lado o que fazíamos de
outro. Tivemos que lhe expor com energia que cometia uma ação má, assumindo sobre si
a terrível responsabilidade da razão e da vida dessa infeliz jovem.
Um fato dos mais singulares, que todo mundo havia observado, mas do qual ninguém
havia deduzido as conseqüências, se produzia na magnetização. Quando ela ocorria
durante a luta com o mau Espírito, este último, sozinho, absorvia todo o fluido que lhe
dava mais força, ao passo que a enferma se achava enfraquecida e sucumbia sob seus
apertos. Deve-se lembrar que ela estava sempre em estado de sonambulismo; via, por
conseqüência, o que se passava, e é ela mesma que dá esta explicação. Não se viu nesse
fato senão uma malícia do Espírito, e contentou-se em abster-se de magnetizar nesses
momentos e de ficar como espectador da luta. Com o conhecimento da natureza dos fluidos,
pode-se facilmente se dar conta desse fenômeno. É evidente, primeiro, que absorvendo
o fluido para se dar a força em detrimento da enferma, o Espírito queria convencer
o magnetizador da impossibilidade com respeito à sua pretensão; se havia malícia de sua
parte, era contra o magnetizador, uma vez que se servia da própria arma com a qual este
último pretendia derrubá-lo; pode-se dizer que lhe tirava o bastão das mãos. Era não menos
evidente que sua facilidade em se apropriar do fluido do magnetizador denotava uma
afinidade entre esse fluido e o seu próprio, ao passo que os fluidos de uma natureza contrária
teriam se repelido, como a água e o azeite. Só esse fato bastaria para demonstrar
que havia outras condições a preencher. É, pois, um erro dos mais graves, e podemos
dizer dos mais funestos, o de não ver na ação magnética senão uma simples emissão
fluídica, sem ter em conta da qualidade íntima dos fluidos. Na maioria dos casos, o sucesso
repousa inteiramente sobre essas qualidades, como na terapêutica depende da
qualidade do medicamento. Não saberíamos muito chamar a atenção sobre este ponto
capital, demonstrado, ao mesmo tempo, pela lógica e pela experiência.
Para combater a influência da doutrina do magnetizador que, já, tinha influído sobre
as idéias da enferma, dissemos a esta: "Minha filha, tende confiança em Deus; olhai ao
vosso redor; não vedes os bons Espíritos? - É verdade, disse ela; vejo-os luminosos, que
Frédégonde não ousa olhar. - Pois bem! esses são aqueles que vos protegem e que não
permitirão que o mau Espírito tenha o poder; implorai a sua assistência; orai com fervor;
orai sobretudo para Frédégonde. -Oh! para isso, jamais o poderei. - Guardai-vos! vereis
com essa palavra os bons Espíritos se afastarem. Se quereis sua proteção, é preciso merecê-
la por vossos bons sentimentos, em vos esforçando sobretudo em ser melhor do que
vosso inimigo. Como quereis que vos sustentem, se não vaieis mais do que ele? Pensai
que, em outras existências, tivestes também censura a vos fazer; o que vos chega é uma
expiação; se quereis fazê-la cessar, é preciso vos melhorar, e para provar as vossas boas
intenções, é preciso começar por vos mostrar boa e caridosa para com o vosso inimigo. A
própria Frédégonde com isso será tocada, e talvez fareis entrar o arrependimento em seu
coração. Refleti. - Eu o farei. -Fazei-o em seguida, e dizei comigo: "Meu Deus, eu perdôo
a Frédégonde o mal que ela me fez; eu a aceito como uma prova e uma expiação que
mereci; perdoai minhas próprias faltas, como lhe perdôo as suas; e vós, bons Espíritos
que me cereais, abri seu coração a melhores sentimentos, e dai-me a força que me falta.
Prometeis orar todos os dias por ela? - Eu o prometo. - Está bem; de meu lado vou me
ocupar convosco e dela; tende confiança. -Oh! obrigado! alguma coisa me diz que isto vai
logo acabar."
Tendo dado conta desta cena à Sociedade, as instruções seguintes ali foram dadas
a este respeito:
"O assunto do qual vos ocupais emocionou os próprios bons Espíritos que querem,
ao seu turno, vir em ajuda a essa jovem com os seus conselhos. Ela apresenta um caso
de obsessão, com efeito muito grave, e entre aqueles que tendes visto, e que vereis ainda,
pode-se colocar este no número dos mais importantes, dos mais sérios, e sobretudo
dos mais interessantes pelas particularidades instrutivas que já apresentou e que vos oferecerá
de novo.
"Como já vos disse, esses casos de obsessão se renovarão freqüentemente, e fornecerão
dois assuntos distintos de utilidade, para vós primeiro, e para aqueles que o sofrerão
em seguida.
"Para vós primeiro, naquilo que, do mesmo modo que vários eclesiásticos contribuíram
poderosamente para difundir o Espiritismo entre aqueles que lhe eram perfeitamente
estranhos, do mesmo modo também esses obsidiados, cujo número se tornará bastante
importante para que deles não se ocupe de maneira não superficial, mas grande e profunda,
abrirão bastante as portas da ciência para que a filosofia espírita possa com eles
nela penetrar, e ocupar, entre as pessoas de ciência e os médicos de todos os sistemas,
o lugar ao qual tem direito.
"Para eles em seguida, naquilo que, no estado de Espírito, antes de se encarnarem
entre vós aceitaram essa luta que lhes proporciona a possessão que sofrem, tendo em
vista o seu adiantamento, e essa luta, crede-o bem, faz cruelmente sofrer seu próprio Espírito
que, quando seu corpo, de algum modo, não é mais seu, tem perfeitamente consciência
do que se passa. Segundo terão suportado essa prova, da qual podeis abreviar-lhes
poderosamente a duração por vossas preces, terão progredido mais ou menos; porque,
estejais disto certos, apesar dessa possessão, sempre momentânea, guardam uma suficiente
consciência de si mesmos para discernir a causa e a natureza de sua obsessão.
"Para aquela que vos ocupa, um conselho é necessário. As magnetizações que lhe
faz suportar o Espírito encarnado do qual lhe falastes, são funestas sob todos os aspectos.
Esse Espírito é sistemático; e que sistema! Aquele que não relaciona todas as suas
ações à maior glória de Deus, que tira a vaidade das faculdades que lhe foram concedidas,
será sempre confundido; os presunçosos serão rebaixados, neste mundo, freqüentemente,
infalivelmente no outro. Tratai, pois, meu caro Kardec, que essas magnetizações
cessem completamente, ou os inconvenientes mais graves resultarão de sua continuação,
não só para a jovem, mas ainda para o imprudente que pensa ter sob suas ordens todos
os Espíritos das trevas e os comandar como senhor.
"Vereis, digo, esses casos de possessão e de obsessão se desenvolverem durante
um certo período de tempo, porque são úteis ao progresso da ciência e do Espiritismo;
será por aí que os médicos e os sábios abrirão, enfim, os olhos e aprenderão que há enfermidades
cujas causas não estão na matéria, e que não devem ser tratadas pela matéria.
Esses casos de possessão, igualmente, vão abrir ao magnetismo horizontes totalmente
novos e levá-lo a dar grande passo adiante pelo estudo, até o presente tão imperfeito,
dos fluidos; com a ajuda desses novos conhecimentos, e pela sua aliança íntima com o
Espiritismo, obterá as maiores coisas; infelizmente, no magnetismo, como na medicina,
haverá por muito tempo ainda homens que crerão não terem mais nada a aprender. Essas
obsessões freqüentes terão também um lado muito bom, naquilo que sendo penetrada
pela prece e pela força moral, pode-se fazê-las cessar e adquirir o direito de expulsar
os maus Espíritos, cada um procurará, pela melhoria de sua conduta, adquirir esse direito
que o Espírito de Verdade, que dirige este globo, conferirá quando for merecido. Tende fé
e confiança em Deus, que não permite que se sofra inutilmente e sem motivo."
HAHNEMANN (Médium, Sr. Albert).
"Serei breve. Será muito fácil curar essa infeliz possessa; os meios para isto estão
implicitamente contidos nas reflexões que foram emitidas há pouco por Allan Kardec. É
preciso não só uma ação material e moral, mas ainda uma ação puramente espiritual. Ao
Espírito encarnado que se encontra, como Julie, em estado de possessão, é preciso um
magnetizador experimentado e perfeitamente convencido da verdade Espírita; é preciso
que seja, além disso, de uma moralidade irrepreensível e sem presunção. Mas, para agir
sobre o Espírito obsessor, é necessário a ação não menos enérgica de um bom Espírito
desencarnado. Assim, pois, dupla ação: ação terrestre, ação extraterrena; encarnado sobre
encarnado, desencarnado sobre desencarnado; eis a lei. Se até esta hora essa ação
não foi cumprida, é justamente para vos levar ao estudo e à experimentação dessa interessante
questão; foi por este efeito que Julie não foi livrada mais cedo: ela deveria servir
para os vossos estudos.
"Isso nos demonstra o que tereis a fazer doravante nos casos de possessão manifesta;
é indispensável chamar em vossa ajuda
o concurso de um Espírito elevado, gozando, ao mesmo tempo, de um poder moral
e fluídico, como, por exemplo, o excelente cura d'Ars, e sabeis que podeis contar com a
assistência desse digno e santo Vianney. Além disso, nosso concurso é dado a todos aqueles
que nos chamarem em sua ajuda, com pureza do coração e fé verdadeira.
"Resumindo: Quando se magnetizar Julie, será preciso primeiro proceder pela fervorosa
evocação do cura d'Ars e de outros bons Espíritos que se comunicam habitualmente
entre vós, rogando-lhes agirem contra os maus Espíritos que perseguem essa jovem, e
que fugirão diante de suas falanges luminosas. Não é preciso esquecer, não mais, que a
prece coletiva tem um poder muito grande, quando é feita por um certo número de pessoas
agindo de acordo, com fé viva e um desejo ardente de aliviar."
ERASTO (Médium, Sr. d'Ambel)
Estas instruções foram seguidas; vários membros da Sociedade se entenderam para
agir pela prece em condições desejadas. Um ponto essencial era levar o Espírito obsessor
a se emendar, o que deveria, necessariamente, facilitar a cura. Foi o que se fez evocando-
o e dando-lhe conselhos; prometeu não mais atormentar a senhorita Julie, e teve
palavra. Um de nossos colegas foi especialmente encarregado, por seu guia espiritual, de
sua educação moral, e ocorreu de nisso ser satisfeito. Esse Espírito, hoje, trabalha seriamente
pela sua melhoria e pede uma nova encarnação para expiar e reparar suas faltas.
A importância do ensino que decorre deste fato e das observações às quais deu lugar,
não escapará a ninguém, e cada um nele poderá haurir muitas instruções segundo a
ocorrência. Uma nota essencial que esse fato permitiu constatar, e que se compreenderá
sem dificuldade, é a influência do bem. É muito evidente que se a companhia secunda por
uma comunidade de vista, de intenção e de ação, o enfermo se encontra numa espécie
de atmosfera homogênea de fluidos benfazejos, o que deve, necessariamente, facilitar e
apressar o sucesso; mas se houver desacordo, oposição; se cada um quer agir à sua
maneira, disso resulta desacordos, correntes contrárias que paralisar forçosamente, e às
vezes anulam, os esforços tentados para a cura. Os eflúvios fluídicos, que constituem a
atmosfera moral, se são maus, são também funestos a certos indivíduos quanto as exalações
das regiões pantanosas.
_________________
CONVERSAS DE ALÉM-TÚMULO.
Frédégonde
Damos a seguir as duas evocações do Espírito de Frédégonde, feitas na Sociedade,
com um mês de intervalo, e que formam o complemento dos dois precedentes artigos sobre
a possessão da senhorita Julie. Esse Espírito não se manifestou com sinais de violência,
mas escrevia com uma dificuldade muito grande e cansava extremamente o médium,
que com isso ficava mesmo indisposto, e cujas faculdades pareciam, de alguma sorte,
paralisá-las. Na previsão desse resultado, tivemos o cuidado de não confiar essa evocação
a um médium muito delicado.
Numa outra circunstância, um Espírito, interrogado à conta deste, dissera que, há
muito tempo procurava se reencarnar, mas que isso não lhe fora permitido, porque seu
objetivo não era ainda de se melhorar, sendo seu objetivo, ao contrário, de ter mais facilidade
para fazer o mal, com a ajuda de um corpo material. De tais disposições deviam tornar
sua conversa muito difícil; ela não o foi, no entanto, tanto quanto se poderia temê-lo,
graças, sem dúvida, ao concurso benevolente de todas as pessoas que nisso participaram,
e talvez também porque tinha chegado o tempo em que esse Espírito deveria entrar
no caminho do arrependimento.
(16 de outubro de 1863 - Médium, Sr. Leymarie.)
1. Evocação. - Resp. Não sou Frédégonde; que quereis de mim?
2. Quem sois, pois? - R Um Espírito que sofre.
3. Uma vez que sofreis, deveis desejar não mais sofrer; nós vos assistiremos, porque
nos compadecemos com todos aqueles que sofrem neste mundo e no outro; mas é
preciso que nos secundeis, e, para isso, é preciso que oreis. - R. Eu vos agradeço por
isso, mas não posso orar.
4. Vamos orar, isto vos ajudará; tende confiança na bondade de Deus, que perdoa
sempre àquele que se arrepende .-R Creio em vós; orai, orai; talvez eu possa me converter.
5. Mas não basta que oremos, é preciso orar de vosso lado. - R Eu quis orar, e não
pude; agora vou tentar com a vossa ajuda.
6. Dizei conosco: Meu Deus, perdoai-me, porque pequei; arrependo-me do mal
que fiz. - R Eu o digo; depois.
7. Isso não basta; é necessário escrever. - R Meu.... (Aqui o Espírito não pôde escrever
a palavra Deus; não foi senão depois de forte encorajamento que chegou a terminar
a frase, de maneira irregular e pouco legível.)
8. Não é preciso dizer isso pela forma; é necessário pensá-lo, e tomar a resolução
de não mais fazer o mal, e vereis que logo estareis aliviada. - R Vou orar.
9. Se orastes sinceramente, com isso não vos sentis melhor? - R Oh! sim!
10. Agora, dai-nos alguns detalhes sobre a vossa vida e as causas de vossa obstinação
contra Julie?- R Mais tarde... direi.... mas não posso hoje.
11. Prometeis deixar Julie em repouso? O mal que lhe fazeis recai sobre vós e aumenta
os vossos sofrimentos. - R Sim, mas sou impelida por outros Espíritos piores do
que eu.
12. É uma desculpa má que dais aí para vos desculpar; em todos os casos, deveis
ter uma vontade, e com a vontade pode-se sempre resistir às más sugestões.— R Se eu
tivesse a vontade, não sofreria; sou punido porque não soube resistir.
13. Isso mostraríeis, no entanto, bastante para atormentar Julie; mas vindes de tomar
boas resoluções, vos convidamos a persistir nisso, e pediremos aos bons Espíritos
para vos secundarem.
Nota.-Durante esta evocação, um outro médium obtinha de seu guia espiritual uma
comunicação contendo, entre outras coisas, o que se segue: "Não vos inquieteis com as
negações que notais nas respostas deste Espírito: sua idéia fixa de se reencarnar fá-lo
repelir toda solidariedade com o seu passado, se bem que não lhe suporta senão muito
os efeitos. Ela é bem aquela que foi nomeada, mas não quer convir nisso consigo mesma."
(13 de novembro de 1863.)
14. Evocação. - R. Estou pronta para responder.
15. Tendes persistido na boa resolução em que estáveis na última vez? - R Sim.
16. Como vos achastes com isso? - R Muito bem, porque orei e estou mais calma,
bem mais feliz.
17. Com efeito, sabemos que Julie não foi mais atormentada. Uma vez que podeis
vos comunicar mais facilmente, quereis nos dizer porque vos obstinastes junto dela? - R
Estive esquecida durante séculos, e desejava que a maldição que cobre meu nome cessasse
um pouco, a fim de que uma prece, uma só, viesse me consolar. Oro, creio em
Deus; agora posso pronunciar o seu nome, e certamente é mais do que não poderia esperar
do benefício que podeis me conceder,
Nota. - No intervalo da primeira para a segunda evocação, o Espírito era chamado
todos os dias por aquele de nossos colegas que foi encarregado de instruí-lo. Um fato
positivo é que, a partir desse momento, a senhorita Julie deixou de ser atormentada.
18. É muito duvidoso que apenas o desejo de obter uma prece tenha sido o móvel
que vos levou a atormentar aquela jovem; quereis, sem dúvida, ainda procurar encobrir
vossos erros; em todo o caso, era um meio mau de atrair sobre vós a compaixão dos homens.
- R. No entanto, se não tivesse atormentado muito Julie, não ferieis pensado em
mim, e eu não teria saído do miserável estado em que me arrastava. Disso resultou uma
instrução para vós e um grande bem para mim, uma vez que me abristes os olhos.
19. (Ao guia do médium.) É bem Frédégonde que dá esta resposta? - R. Sim, é ela,
um pouco ajudada, é verdade, porque está humilhada; mas este Espírito é muito mais
avançado do que não credes; é-lhe preciso o progresso moral com o qual a ajudais a dar
o primeiro passo. Ela não vos disse que Julie tirará um grande proveito daquilo que se
passou para o seu adiantamento pessoal.
20. (A Frédégonde.) A senhorita Julie vivia em vosso tempo, e poderíeis nos dizer o
que ela era? - R. Sim; era uma de minhas damas de companhia, chamada Hildegarde;
uma alma sofredora e resignada que fez a minha vontade; sofreu a pena de seus serviços
muito humildes e muito complacentes a meu respeito.
2,1. Desejais uma nova encarnação? - R . Sim, eu a desejo. Ó meu Deus! sofri mil
torturas, e se tenho merecido uma pena justa, ai de mim! é tempo que eu possa, com a
ajuda de vossas preces, recomeçar uma existência melhor, a fim de me lavar de minhas
antigas sujeiras. Deus é justo; orai por mim. Até este dia, eu tinha desconhecido toda a
extensão de minha pena; tinha como a vertigem; mas no presente vejo, compreendo, desejo
o perdão do Senhor com o de minhas vítimas. Meu Deus, quanto é doce o perdão!
22. Dizei alguma coisa de Brunehaut! - R. BrunehautL. Esse nome me dá vertigem....
Ela é a grande falta da minha vida, e senti meu velho ódio despertar a esse nome!...
Mas meu Deus me perdoará, e poderei doravante escrever este nome sem tremer.
Mais feliz do que eu, ela está reencarnada pela segunda vez, e cumpre um papel que eu
desejo, o de uma irmã de caridade.
23. Estamos felizes com a vossa mudança, para isso vos encorajamos, vos sustentamos
com as nossas preces. - R. Obrigada! obrigada! bons Espíritos, Deus vo-lo restituirá.
Nota. - Um fato característico nos maus Espíritos é a impossibilidade em que estão,
freqüentemente, de pronunciarem ou escreverem o nome de Deus. Sem dúvida, isto denota
uma natureza má, mas, ao mesmo tempo, um fundo de temor e de respeito que os
Espíritos hipócritas não têm, menos maus em aparência; estes últimos, longe de recuarem
diante do nome de Deus, dele se servem impudentemente para captar a confiança.
São eles infinitamente mais perversos e mais perigosos do que os Espíritos francamente
maus; é nesta classe que se acha a maioria dos Espíritos fascinadores, dos quais é mais
difícil de se desembaraçar do que dos outros, porque é do próprio Espírito que se apoderam
com a ajuda de uma falsa aparência de saber, de virtude ou de religião, ao passo que
os outros se apoderam do corpo. Um Espírito que, como o de Frédégonde, recua diante
do nome de Deus, está muito mais perto de sua conversão do que aqueles que se cobrem
com a máscara do bem. Ocorre o mesmo entre os homens, onde encontrareis essas
duas categorias de Espíritos encarnados.
_________________________
INAUGURAÇÃO DE VÁRIOS GRUPOS E SOCIEDADES ESPÍRITAS.
As reuniões espíritas que se formam são tão numerosas que nos seria impossível citar
todas as boas palavras que são ditas a esse respeito, e que testemunham os sentimentos
que a Doutrina estimula. O novo grupo que acaba de se formar na ilha de Oléron
é tanto mais digno de simpatia quanto o Espiritismo foi, nessas regiões, o objeto de uma
oposição bastante viva. Reportamos um dos discursos que foram pronunciados nessa
circunstância, para provar de que maneira os Espíritas respondem aos seus adversários.
DISCURSO DO PRESIDENTE DA SOCIEDADE ESPÍRITA DE MARENNES.
"Senhores e caros irmãos espíritas de Oléron,
"A extensão que o Espiritismo toma cada dia em nossas regiões, é a prova mais evidente
da impotência dos ataques dos quais é objeto; é que, assim como o disse o senhor
Alian Kardec: "De duas coisas uma, ou é um erro ou é uma verdade; se for um erro cairá
por si mesmo, como todas as utopias que não tiveram senão uma existência efêmera, e
que morreram por falta da base sólida, única que pode dar a vida; se for uma dessas
grandes verdades que, pela vontade de Deus, devem tomar lugar na história do mundo, e
marcar uma era de progresso da Humanidade, nada poderia deter-lhe a marcha."
"A experiência aí está para mostrar em qual dessas duas categorias deve estar alinhado.
A facilidade com a qual é aceito pelas massas, dizemos mais: a felicidade, a consolação,
a coragem conta a adversidade que se haure nesta crença, a rapidez inaudita de
sua propagação, não são o fato de uma idéia sem valor. O sistema mais excêntrico pode
formar seita, e agrupar ao seu redor alguns partidários; mas como uma árvore sem raízes,
se desfolha prontamente, e morre sem produzir rebentos. Ocorre assim com o Espiritismo?
Não, vós o sabeis tão bem quanto eu. Desde o seu aparecimento, não parou de
crescer, apesar dos ataques de que foi objeto, e hoje plantou sua bandeira sobre todos os
pontos do globo; seus partidários contam-se por milhões; e considerando-se o caminho
que fez há dez anos, pode-se julgar o que ele será em dez anos daqui, tanto mais quanto
os obstáculos se aplainam, à medida que ele avança, e que o número de seus adeptos
aumenta. Pode-se, pois, dizer, com o Sr. Allan Kardec, que hoje o Espiritismo é um fato
realizado; a árvore tomou raiz; não lhe resta mais senão desenvolver-se, e tudo concorre
para lhe ser favorável; porque, apesar de algumas borrascas, o vento está para o Espiritismo;
seria preciso ser cego para não reconhecê-lo.
"Uma circunstância contribuiu poderosamente para a sua extensão, é que não é exclusivo
de alguma religião; sua divisa: Fora da caridade não há salvação pertence a todas;
ao mesmo tempo, é a bandeira da tolerância, da união e da fraternidade, ao redor da
qual todo o mundo pode se unir sem renunciar à sua crença particular. Começa-se a
compreender que é uma garantia de segurança para a sociedade. Quanto a mim, caros
irmãos, vou mais longe, e penso que sois de minha opinião quando digo: Quando todos
os povos tiverem inscrito sobre a sua bandeira: Fora da caridade não há salvação, a paz
do mundo estará assegurada, e todos os povos viverão como irmãos. Não é senão um
belo sonho? Não, senhores, é a promessa feita pelo Cristo, e estamos no tempo de seu
cumprimento.
"Que somos, nós outros, no grande movimento que se opera? Somos obscuros trabalhadores
que trazemos a nossa pedra ao edifício, mas quando milhões de operários
tiverem trazido milhões de pedras, o edifício será terminado. Trabalhemos, pois, com zelo
e perseverança, sem nos desencorajar pela pequenez do sulco que traçamos, uma vez
que numerosos sulcos se traçam ao nosso redor. Permiti-me uma comparação material,
mas que responde a este pensamento. No começo das estradas de ferro, cada pequena
localidade quis ter a sua parte; cada uma dessas partes era pouca coisa em si mesma,
mas quando todas foram reunidas, teve-se essa imensa rede que cobre hoje o mundo e
abaixa as barreiras dos povos. As estradas de ferro fizeram cair as barreiras materiais; a
palavra de ordem: Fora da caridade não há salvação fará cair as barreiras morais; sobretudo,
fará cessar o antagonismo religioso, porque então Judeus, Católicos, Protestantes,
Muçulmanos, se estenderão as mãos, adorando, cada um à sua maneira, o único Deus
de misericórdia e de paz que é o mesmo para todos.
"O objetivo é grande, como o vedes, senhores e caros irmãos; restar-nos-ia a examinar
a organização de nossa pequena esfera, para dela fazer uma organização útil do
conjunto. Para isso, nossa tarefa se tornou fácil pelas instruções que encontramos nas
obras de nosso chefe venerado, tornadas, pode-se dizer, as obras clássicas da Doutrina.
Seguindo-as pontualmente, estamos certos de não nos desviarmos num falso caminho,
porque essas instruções são o fruto da experiência. Que cada um de nós medite, pois,
com cuidado essas obras, e nelas encontraremos tudo o que nos é necessário; aliás, disto
estou seguro, o apoio e os conselhos do mestre jamais nos faltarão. Não é permitido a
nenhum de nós esquecer que, se a esperança e a fé reentraram na maioria de nossos
corações, se muitos dentre nós foram arrancados ao materialismo e à incredulidade, devemos
à sua coragem perseverante, ao seu zelo, que nem as calúnias, nem as diatribes,
nem os ataques de todas as espécies não abalaram. O primeiro soube compreender a
importância imensa do Espiritismo, e desde então tudo sacrificou para difundir-lhe os benefícios
entre seus irmãos da Terra. Dizemos-lhe: evidentemente, foi escolhido para esse
grande apostolado, porque é impossível desconhecer que cumpre uma missão moralizadora
entre nós. Proponho-vos, senhores, votar-lhe os agradecimentos que todos os verdadeiros
e sinceros Espíritas lhe devemos. Pecamos a Deus, ao mesmo tempo, continuar
a sustentá-lo numa empresa que é o único que está à altura de fazer frutificar completamente.
"Algumas palavras ainda, senhores, sobre o caráter desta reunião. A máxima que
nos serve de guia é de natureza a tranqüilizar aqueles que o nome do Espiritismo poderia
assustar. O que se pode, com efeito, temer de pessoas que fazem do princípio da caridade
para todos, amigos e inimigos, a regra de sua conduta? E esse princípio é para nós tão
sério, que dele nos fazemos a condição expressa de nossa salvação. Não é a melhor garantia
que poderíamos dar de nossas intenções pacíficas? Quem poderia, pois, ver com
mau olhar, mesmo entre aqueles que não partilham nossas crenças, pessoas que não
pregam senão a tolerância, a união e a concórdia, e cujo único objetivo é conduzir a Deus
aqueles que dele se afastam, de combater o materialismo e a incredulidade que invadem
a sociedade e a ameaçam em seus fundamentos?
"Dirijamo-nos, pois, àqueles que não crêem, e o campo a colher é bastante vasto,
assim como o disse o senhor Allan Kardec; em virtude mesmo do princípio da caridade
que nos serve de guia, guardemo-nos de ir perturbar qualquer consciência; acolhamos
como irmãos aqueles que vêm a nós, e não procuremos constranger ninguém em sua fé
religiosa. Não viemos elevar altar contra altar, mas elevá-lo onde não o havia. Aqueles
que acharem os nossos princípios bons, o adotarão; aqueles que os acharem maus, os
deixarão de lado, e por isso não os consideraremos menos como irmãos; se nos atiram
uma pedra, pediremos a Deus perdoar-lhes sua falta de caridade, e chamá-los ao Evangelho
e ao exemplo de Jesus Cristo, Nosso Senhor, que orou por seus carrascos.
"Oremos, pois, também, caros irmãos, a fim de que Deus se digne estender sobre
nós a sua misericórdia, e nos perdoar nossas faltas, como perdoamos àqueles que nos
desejam o mal. Digamos todos, do fundo do coração:
"Senhor, Deus Todo-Poderoso, que vedes no fundo das almas e vedes a pureza de
nossas intenções, dignai-vos nos sustentar em nossa obra, e protegei o nosso chefe; dainos
a força de suportar com coragem e resignação, e como provas para a nossa fé e nossa
perseverança, as misérias que a malevolência poderia nos suscitar; fazei que, a exemplo
dos primeiros mártires cristãos, estejamos prontos a todos os sacrifícios para vos provar
a nossa submissão à vossa santa vontade. Que são, aliás, os sacrifícios dos bens
deste mundo quando se tem, como devem tê-lo todos os Espíritas sinceros, a certeza dos
bens imperecíveis da vida futura! Fazei, Senhor, que as preocupações da vida terrestre
não nos desviem do caminho santo no qual nos haveis conduzido, e dignai-nos enviar os
bons Espíritos para nos manterem no caminho do bem; que a caridade, que é a vossa lei
e a nossa, nos torne indulgentes para com as faltas de nossos irmãos; que ela abafe em
nós todo sentimento de orgulho, de ódio, de inveja e de ciúme, e nos torne bons e benevolentes
para todo o mundo, a fim de que preguemos pelos exemplos tanto quanto pelas
palavras."
Estando reunidos, nessa ocasião, os delegados de diversos grupos das localidades
vizinhas, aos seus novos irmãos em crença; vários outros discursos foram pronunciados,
que todos testemunhando e um perfeito acordo de um verdadeiro espírito do Espiritismo;
lamentamos que a falta de espaço não nos permita citá-los, assim como uma notável comunicação
obtida nessa sessão, assinada por François-Nicolas Madeleine, que traça em
termos simples e tocantes os deveres do verdadeiro Espírita.
Em Lyon, um novo grupo acaba de se formar em condições especiais, que merecem
ser assinaladas, como encorajamento e bom exemplo. Essa reunião tem um duplo objetivo:
a instrução e a beneficência. Sob o aspecto da instrução, propõe-se fazer uma parte
menor do que se não o faz, geralmente, nas comunicações medianímicas, e disso fazer,
em compensação, uma maior às instruções orais, tendo em vista desenvolver e explicar
os princípios do Espiritismo. Sob o aspecto da beneficência, a nova sociedade se propõe
vir em ajuda às pessoas necessitadas, por doações em natureza de objetos usuais, tais
como roupa branca, vestuário, etc. Além disso do que poderia recolher, as senhoras que
dela tomam parte fornecem seu contingente por seus trabalhos pessoais para a confecção,
e para as visitas aos pobres enfermos. Um dos membros dessa sociedade nos escreveu
a esse respeito: "Graças ao zelo da senhora G..., Lyon vai logo contar com uma
reunião espírita a mais. Essa reunião alcançará o objetivo a que se propôs? Será o futuro
que isso decidirá. Se ela é pouco numerosa ainda, encerra pelo menos elementos devotados,
cheios de fé e de caridade. Podemos fracassar em nosso empreendimento, mas
nossas intenções ao menos são boas; nos bastará que a sociedade de Paris, sob a égide
da qual nos colocamos, nos aprove e nos ajude com seus conselhos, para que perseveremos
com a ajuda de seu apoio moral."
Este apoio não faltará jamais a toda obra fundada segundo o verdadeiro espírito do
Espiritismo, e que tem por objetivo a realização do bem. A Sociedade de Paris é sempre
feliz de ver a Doutrina levar bons frutos; não declinará de toda solidariedade senão a respeito
dos grupos ou sociedades que, desconhecendo o princípio de caridade e de fraternidade
sem o qual não há verdadeiros Espíritas, veriam as outras reuniões com mau olho,
lançando-lhes a pedra ou procurando denegri-las sob um pretexto qualquer. A caridade e
a fraternidade se reconhecem por suas obras e não por palavras; é uma medida de apreciação
que não pode enganar senão àqueles que se cegam quanto ao seu próprio mérito,
mas não os terceiros desinteressados; é a pedra de toque pela qual se reconhece a sinceridade
dos sentimentos; e quando se fala em caridade, em Espiritismo, sabe-se de que
não se trata somente daquela que dá, mas também e sobretudo daquela que esquece e
perdoa, que é benevolente e indulgente, que repudia todo sentimento de ciúme e de rancor.
Toda reunião espírita que não estivesse fundada sobre o princípio da verdadeira caridade,
seria mais nociva do que útil à causa, porque tenderia a dividir em lugar de reunir;
levaria, aliás, em si mesma, o seu elemento destruidor. Nossas simpatias pessoais serão,
pois, sempre adquiridas de todas aquelas que provarem, por seus atos, o bom espírito
que as anima, porque os bons Espíritos não podem inspirar senão o bem.
No próximo número, falaremos das novas sociedades espíritas de Bruxelas, de Turim
e de Smyrna, que se colocam igualmente sob o patrocínio da Sociedade de Paris.
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PERGUNTAS E PROBLEMAS.
Progresso nas primeiras encarnações.
Pergunta. Duas almas, criadas simples e ignorantes, não conhecem nem o bem nem
o mal, vindo sobre e Terra. Se, numa primeira existência, uma segue o caminho do bem e
a outra o do mal, como é, de alguma sorte, o acaso que as conduz, não merecem nem
punição nem recompensa. Essa primeira viagem terrestre não deve ter servido senão a
dar, a cada uma, a consciência de sua existência, consciência que não tinha de início.
Para ser lógico, seria preciso admitir que as punições e as recompensas não começam a
ser infligidas, ou concedidas, senão a partir da segunda encarnação, quando os Espíritos
sabem distinguir o bem dentre o mal, experiência que lhes falta em sua criação, mas que
adquiriram por meio de sua primeira encarnação. Esta opinião é fundada?
Resposta. Embora esta questão já esteja resolvida pela Doutrina Espírita, vamos
respondê-la para a instrução de todos.
Ignoramos absolutamente em quais condições são as primeiras encarnações da alma;
é um desses princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Sabemos somente
que elas são criadas simples e ignorantes, tendo todas assim um mesmo ponto de
partida, o que está conforme à justiça; o que sabemos ainda, é que o livre arbítrio não se
desenvolve senão pouco a pouco e depois de numerosas evoluções na vida corpórea.
Não é, pois, nem depois da primeira, nem depois da segunda encarnação que a alma tem
uma consciência bastante limpa de si mesma, para ser responsável por seus atos; não é
talvez senão depois da centésima, talvez da milésima; ocorre o mesmo com a criança que
não goza da plenitude das suas faculdades nem um, nem dois dias depois de seu nascimento,
mas depois dos anos. E ainda, então que a alma goza de seu livre arbítrio, a responsabilidade
cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência; assim é, por exemplo,
que um selvagem que come seus semelhantes é menos punido do que o homem
civilizado, que comete uma simples injustiça. Nossos selvagens, sem dúvida, estão muito
atrasados com relação a nós, e, no entanto, estão muito longe de seu ponto de partida.
Durante longos períodos, a alma encarnada está submetida à influência exclusiva dos
instintos de conservação; pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes,
ou, para melhor dizer, se equilibram com a inteligência; mais tarde, e sempre
gradualmente, a inteligência domina os instintos; é então somente que começa a responsabilidade
séria.
O autor da pergunta comete, além disso, dois erros graves: o primeiro é admitir que
o acaso decide do bom ou do mau caminho que o Espírito segue em seu princípio. Se
houvesse acaso ou fatalidade, toda responsabilidade seria injusta. Como dissemos, o Espírito
está, durante numerosas encarnações, num estado inconsciente; a luz da inteligência
não se faz senão pouco a pouco, e a responsabilidade real não começa senão quando
o Espírito age livremente e com conhecimento de causa.
O segundo erro é admitir que as primeiras encarnações humanas têm lugar sobre a
Terra. A Terra foi, mas não é mais um mundo primitivo; os seres humanos mais atrasados
que se acham sobre a sua superfície já despojaram os primeiros cueiros da encarnação,
e nossos selvagens estão em progresso comparativamente ao que tinham antes de seu
Espírito vir se encarnar sobre este globo. Que se julgue agora no número de existências
que são necessárias a esses selvagens para transporem todos os graus que os separam
da civilização mais avançada; todos esses graus intermediários se encontram sobre a
Terra sem solução de continuidade, e pode-se segui-los observando-se as nuanças que
distinguem os diferentes povos; não há senão o começo e o fim que aqui não se encontram;
o começo se perde para nós nas profundezas do passado, que não nos é dado penetrar.
Isto, de resto, pouco nos importa, uma vez que este conhecimento não nos adiantaria
em nada. Nós não somos perfeitos, eis o que é positivo; sabemos que as nossas
imperfeições são os nossos únicos obstáculos para a nossa felicidade futura, estudemonos,
pois, a fim de nos aperfeiçoarmos. No ponto onde estamos, a inteligência está bas19
tante desenvolvida para permitir ao homem julgar sadiamente o bem e o mal, e é neste
ponto também que sua responsabilidade está mais empenhada; porque não se pode mais
dizer dele o que disse Jesus: "Perdoai-lhes, Senhor, porque não sabem o que fazem."