1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «O que Sentes Quando a Chuva Cai»?
R- O Que Sentes Quando a Chuva Cai? constituiu a resposta a dois desafios - um temático e outro formal. Por um lado, pretendi escrever um conjunto de narrativas que abordassem todas o mesmo tema: o voyeurismo. Há contos que exploram o voyeurismo na sua vertente sexual (a mais conhecida); enquanto outros o mostram como um mecanismo de compensação (uma mãe que contempla os filhos de outras pessoas para não sentir tanto a falta do seu, por exemplo); ou ainda como introspecção (observar-se com o distanciamento possível). Naturalmente que efectuei uma investigação cuidada e longa na área da Psicologia, para me inteirar sobre este aspecto, e daqui resultaram inúmeras ideias. Já em obras anteriores (como As Fadas Não Usam Batom), eu trouxera para a escrita personagens perturbadas, mas, neste livro, delineei-as de forma mais rigorosa. Por outro lado, como docente de Escrita Criativa no ensino superior, interessava-me experimentar e subverter diversas estratégias narrativas, relacionadas com a criação de dilemas, a descrição de ambientes físicos e a estrutura do enredo.
2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- O facto de ter estudado Cinema na Universidade de Luton, em Inglaterra, ajudou a desenvolver em mim uma sensibilidade maior relativamente ao complexo acto de olhar e despertou o desejo de trazer para a ficção literária o voyeurismo. Todos somos voyeurs, e os escritores não fogem à regra. Como explico no prefácio de O Que Sentes Quando a Chuva Cai?: «O escritor é, por natureza, um voyeur, que vê atentamente e examina desde as cenas banais aos episódios mais intrigantes, vertendo-os para a poesia ou narrativa. Criar ambientes realistas, capazes de convocar o leitor para a história, inventar personagens de papel e tinta, e construir diálogos naturais e credíveis, depende da capacidade de observação.»
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-De momento, tenho em mãos três projectos: a curto prazo, traduzir alguns poemas meus para publicação num revista especializada inglesa; a médio prazo, prosseguir a orientação de duas dissertações de mestrado de estudantes da Universidade Católica, na área da Escrita Criativa (um projecto pioneiro no nosso país); a longo prazo, terminar um romance. O meu Editor, Assírio Bacelar, falou-me também do possível lançamento no estrangeiro de O Que Sentes Quando a Chuva Cai? Todos estes aspectos se enquadram na minha linha de trabalho - aliar a investigação académica na área da Escrita Criativa à produção literária.
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