O que o senso comum nos indica é que a vida na terra é o que está à vista – os extraterrestres ou outras especulações bem podem esperar face ao que hoje é ponto assente, a degradação do meio ambiente, seja com o efeito estufa, as mudanças climatéricas, o aumento de doenças por contaminação, o fim da era do petróleo, ou a ameaça da escassez de água. Além de outros flagelos possíveis ou imaginários.Logo, logo, todos temos uma solução, podemos indicar o que há de mal neste mundo de consumo desenfreado, especulação com todos os bens materiais, conforto de que não podemos abdicar. Sabemos que há carros a mais, então não? Está à vista a encrenca que são as horas de ponta, a falta de espaço para estacionar – e, admitimos, a sobrecarga de gases poluentes na atmosfera. Conclusão óbvia, é preciso andar manos de carro, ou arrumá-lo mesmo.George Monbiot começa o seu livro com uma pequena história a propósito de uma conferência que ele protagonizou com a defesa de que há poucas possibilidades de diminuir o aquecimento global – a menos que… os gases de estufa fossem reduzidos em 80 por cento.E é então que da assistência lhe perguntam o que esperava ele “deste país” em termos de aparência, quando essa redução se consumasse. Embaraçado, sem resposta, remeteu para um velho ecologista presente, que não hesitou: “Com um país muito pobre do Terceiro Mundo”, foi a resposta. Ou seja, lá se tinha ido o mundo que conhecemos, os seus confortos, os consumos, as facilidades da “civilização”.Quem vai fazer isso? O extintor na capa do livro poderá dar a entender que não será difícil apagar o fogo. Mas, remata o autor, esta é uma campanha peculiar: “Ao contrário de quase todos os protestos públicos que a precederam, é uma campanha não pela abundância mas pela austeridade. É uma campanha não por mais liberdade mas por menos. Mais estranho do que tudo, é uma campanha não apenas contra outras pessoas, mas também contra nós mesmos”.Está justificado o silêncio quando se trata de cada um de nós passar à acção. Mas há os governos, que poderiam do alto da sua soberania ignorarem os interesses egoístas e imporem o geral. O problema é que, recorda, “os governos não têm qualquer interesse em desafiar as nossas ilusões. Se as suas aspirações e as nossas aspirações divergirem demais, perderão eleições. Não empreenderão qualquer acção real até lhes mostrarmos que mudámos”.Levante a mão quem mudou, não tardarão as eleições.
___________George Monbiot,
Calor, como impedir o planeta de arder
Via Óptima, 19,50€
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