quinta-feira, 15 de maio de 2008

"Ser criança era moleza"...

Um livro pode passar despercebido até pelos mais atentos roedores. No meu caso, isso acontece num dia borocochô, ou acreditando numa resenha que me faz desinteressar pelo título (nunca dê tanto crédito às resenhas), ou tantos outros motivos. Pois é. Aconteceu comigo. Havia lido em algum lugar que Adeus Contos de Fadas (Leonardo Brasiliense, 7 Letras) conquistara o Prêmio Jabuti 2007 na categoria Livro Juvenil. Curioso, busquei mais informações na internet e confesso que o que li não moveu a minha curiosidade de conhecê-lo ao vivo. Mas – para o meu deleite enquanto leitor – encontrei o danado outro dia numa prateleira, abri uma página aleatória e li em voz alta para a Ana Paula e para o Rafael – amigo querido que dá vida à seção infantil de uma grande livraria daqui de Brasília. O texto, ia além das palavras. Na mesma tarde o livro veio para casa. E o pior: ele não consegue ficar na estante. Passeia de lá pra cá sempre que chega uma visita ou quando preciso de inspiração para tornar o dia mais interessante.

Adeus conto de fadas chegou até a minha casa de roupa nova. Segunda edição com uma capa mais instigante, que veste 72 minicontos. Nada mais que 15 linhas em cada um. Segundo pincei no Wikipédia, no miniconto, "muito mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de "preencher" as elipses narrativas e entender a história por trás da história escrita". O título faz referência ao fim da infância. A passagem do mundo do faz-de-conta para realidade. A terra do nunca ficou presa nos livros e viver esta nova fase não é nada fácil.

No livro, temas adolescentes: a menina que se acha feia, a gravidez precoce, o primeiro beijo, competição, inveja, sexo, amor. Bom humor e inteligência andam juntos o tempo todo. Tem para o universo masculino, para o feminino e para os dois juntos em harmonia - ou não. A turma vai se deliciar. E se você já passou da adolescência, não se incomode. As situações descritas fizeram parte da sua visa. Vale à pena descobrí-las neste livro.

Leonardo tem um dom impressionante para dar títulos aos seus minicontos. Não são escolhidos ao acaso. Interagem com o texto. Muitas vezes, são imprescindíveis para a harmonia do conjunto. All you need is love refere-se à onda de “eu odeio...” do orkut; Medições, deixa claro o que os meninos fazem no banheiro sem que o texto fale em banheiro; Constrangida, conta as impressões de um adolescente e do atendente da farmácia às 10 da noite.

Hoje, descobri que o Dobras da Leitura em sua edição 46 publicou uma resenha bem bacana sobre o livro. Uma pena eu não ter visitado aquele link antes. Não teria demorado tanto para provar as delícias de Adeus Conto de Fadas. Mas os livros esperam por nós, não é mesmo?! Eu só espero que meu relato apaixonado conquiste novos leitores. Para não correr o risco, deixo que o próprio Leonardo Brasiliense convide a todos a mergulhar em seus minicontos fantásticos. Apaixone-se pelos desencantos, surpresas e felicidades da adolescência.

Pra descontrair (in Adeus Contos de Fadas).

No banheiro da casa dele, os dois olham fixamente para o teste de gravidez.

- Mas tem que ficar rosa ou azul?

- Calma, ainda não deu o tempo.

Passa um minuto. Passam dois. E nada. Ela começa a chorar, e gagueja:

- Ainda não aconteceu nada.

Ele pega a “caneta”, trêmulo que mal consegue segurá-la:

- Será que não funciona?

- Tu comprou onde essa porcaria?

Ele também já chora, e rindo ao mesmo tempo:

- Na mesma farmácia da camisinha.

Hatuna Matata!!!

P.S. Sobre as imagens.

A primeira – Capa da Segunda Edição;

A segunda – Capa da Primeira Edição;

A terceira – Troféu do Prêmio Jabuti.

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