domingo, 13 de julho de 2008

Heavier Than Heaven


Quem me conhece sabe que, para além dos livros, a música é a minha outra grande paixão. Não passo um único dia sem me deixar levar por músicas que me fazem lembrar lugares, situações, pessoas e emoções. Não sou de estar constantemente a ouvir novos grupos e novos artistas, apesar de ocasionalmente gostar de o fazer: sou fiel aos meus grupos preferidos, àquelas músicas que me marcaram. Escolher o meu grupo/artista preferido não é tarefa fácil... Não porque tenha muitos, mas porque aqueles que tenho me inspiram profundamente, a vários níveis. Ainda assim, a ter de escolher um, escolheria os Nirvana.

Decerto a maioria de vocês já ouviu falar deles ou ouviu as suas músicas no rádio: foram, sem margem para dúvidas, o grupo que mais marcou a música nos anos 90. Muito do mediatismo deveu-se, sem dúvida, à tragédia que marcou o final da existência da banda, mas quem se der ao trabalho de ouvir o legado musical que deixaram para trás provavelmente conseguirá perceber o carácter etéreo e a intemporalidade das suas músicas.

Heavier Than Heaven conta a história do homem que criou os Nirvana, desde a sua infância até às trágicas ocorrências que rodearam a sua morte. Este livro é também o relato do nascimento dos Nirvana, cuja história muitas vezes se confunde com a do seu criador. Apesar de não ser católica, este livro foi um pouco como reler a história de Jesus Cristo: mesmo sabendo o final, é impossível evitar o desejo de que o final tivesse sido diferente.

Ao ler a história da vida de Kurt Cobain, apercebi-me do efeito devastador que um divórcio ocorrido durante a infância pode ter na mente de uma criança particularmente sensível e diferente das outras. Por vezes, ocorrem coisas na nossa vida que nos marcam profundamente e, se não tivermos uma estrutura mental que nos permita ultrapassá-las, as consequências podem ser catastróficas. Li a história de um homem que cresceu e viveu no meio de contradições dentro de si próprio, como por exemplo ter desejado ser amado durante toda a vida para depois sucumbir quando tinha todo o mundo a seus pés. Acompanhei a história de um génio (sim, porque era isso que ele era, goste-se ou não) que sem a sua peculiar personalidade e os eventos traumáticos por que passou jamais teria criado a obra que nos deixou. É também um relato (por vezes chocante) do que a dependência das drogas pode fazer a uma pessoa.

É impossível não me sentir triste ao ler uma história tão trágica, mas por vezes é necessário ficarmos cara a cara com os problemas dos outros: por uma questão de relativização e por uma questão de aprendizagem. E eu aprendi: (re)aprendi que a vida é o nosso bem mais precioso.

O facto de esta biografia ter sido elaborada com base em entrevistas (das quais ficaram de fora, mais notavelmente, David Grohl - o baterista da banda - e Wendy O'Connor - a mãe de Kurt) acentua um pouco o carácter subjectivo do livro. Por vezes, senti um pouco de liberdade a mais nas assumpções feitas, mas nada que altere a minha opinião final.

Não recomendo este livro de ânimo leve. Sendo um must read para qualquer fã da banda, aconselho-o a quem se interesse pela condição imperfeita do ser humano e pelas lutas interiores que constantemente travamos. Mas em especial, aconselho a sua leitura a todos os intolerantes que se limitam a julgar as pessoas pelos erros que cometem e que não conseguem ver para além disso.

9/10

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