segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Biografia de Sri Lahiri Mahasaya, de Swami Bydiananda Giri

TRECHO:
INTRODUÇÃO

O LILA (Jogo Divino sobre a terra) de YOGIRAJ SRI LAHIRI MAHASAYA é tão infinito e
variado que seria impossível para um homem, descrevê-lo detalhadamente. A sua encarnação é
algo que deve ser meditado e sentido no coração. O verdadeiro livro sobre YOGIRAJI é
preciso procurá-lo nos grandes discípulos e descendentes espirituais que, com a sua graça,
colocam em prática os seus ensinamentos. A associação com os grandes santos elevará os
buscadores espirituais mais do que qualquer biografia. Todavia, na falta deste contato direto,
se a narração da vida do Mestre criar no devoto um ardente desejo de seguir os ideais de
perfeição e santidade vividos por ele, então esta biografia terá cumprido a sua finalidade.

As principais fontes escritas para conhecer a vida do YOGIRAJ são: “SRI SRI
SHYAMACHARAN LAHIRI”, escrita por Srimat Anandamohan Lahiri , neto de YOGIRAJ;
“VIDA DO AMADO YOGIRAJ SRI SRI SHYAMACHARAN LAHIRI MARASAYA”, escrita por
Sri Abhoycharan Lahiri , neto de YOGIRAJ; A introdução ao “PRANAVA – GITA”, escrita por
Srimat Swami Paranavananda Paramahansa, discípulo do YOGIRAJ. “SRI SRI
SHYAMACHARAN LAHIRI MAHASAYA ,” escrito por Srimat Swami Satyananda Giri,
discípulo de Sri YUKTESHWAR, “ATMA KATHA”, do Yogishwar Sri Motilal Thakur , discípulo
de Sri Yukteswar. E naturalmente a celebrada “Autobiografia de um Iogue”, de Paramahansa
Yogananda, discípulo de Sri Yukteswar. Há alguns anos atrás um bisneto do YOGIRAJ, Sri
Satyacharan Lahiri, publicou uma interessante autobiografia que continha inúmeros fatos
inéditos extraídos dos diários do Yogavatar.

O primeiro biografo de YOGIRAJ, Acharya Anandamohan Lahiri, era filho de Sri Dukari Lahiri,
segundo filho do Mestre. Sri Abhoycharan Lahiri era filho de Sri Tinkari Lahiri, filho mais
velho do YOGIRAJ. Há leves diferenças entre as varias autobiografias, porém as linhas
principais da vida de YOGIRAJ são sempre as mesmas, embora sejam mais ou menos coloridas
pela pena do autor. Todas as biografias de Lahiri Mahasaya foram escritas em hindi ou em
bengalês; a única autêntica exceção é o livro de Paramahansa Yogananda, que foi escrito em
inglês e encontra-se traduzido também em italiano. À “Autobiografia” de Yogananda,
remetemos o leitor que queira completar a visão da vida do Yogavatar e aprofundar os seus
ensinamentos.

O maior presente de Lahiri Mahasaya ao mundo foi que, seguindo as instruções do seu grande
Guru, ele simplificou a infinita multiplicidade dos métodos da Yoga em poucos estados
facilmente accessíveis a todas as pessoas. Exatamente pela sua simplicidade, a Kriya –Yoga de
Lahiri Mahasaya foi chamado, também, “Sahaja Kriya- Yoga”, isto é , a ação (Kriya) torna-se
fácil e natural para as pessoas. A naturalidade da Kriya liberta-as dos perigos que
freqüentemente acompanham a prática errônea de outras formas de Yoga. Na prática da Kriya
–Yoga não há perigo nem mesmo quando se comete erro. Naturalmente a Kriya é Sahaja
(literalmente: natural, isto é, que dá origem ao nosso próprio nascimento, também no sentido
que é um método no qual recorremos ao controle da respiração, ao processo de inalação e
exalação enraizado profundamente no homem desde o nascimento.) Para um chefe de família,
que vive no mundo, é quase impossível seguir as rígidas regras da Raja-Yoga de Pantanjali.
Somente quem estava pronto para dedicar completamente sua vida à procura do Divino podia
ser iniciado na Yoga. A grande maioria das pessoas não tinha a possibilidade de seguir o
caminho da Yoga, mesmo que desejasse muitíssimo. Mas a chegada do Yogiraj e a difusão
gradual da Kriya -Yoga marcaram o início de uma grande revolução espiritual. O método
ensinado por Lahiri Baba torna - nos gradualmente dignos de nos abrirmos para o divino dentro
de nós com muito menos esforço e mais naturalidade.

Yogiraj Lahiri Mahasaya nasceu em um período de grande transição, pois veio ensinar um tipo
particular de Sadhana (disciplina espiritual) adequada à nova era que estamos vivendo. As
sagradas Escrituras nos dizem que a Yoga apropriada para esta era de descobertas e
revoluções científicas (Dwapara Yuga) é a Raja ou Kriya – Yoga. No século passado Sri
Ramakrishna e Yogiraj Lahiri Mahasaya preparam o campo para a revolução religiosa que viria.
Em tempos mais recentes, os seus discípulos Swami Vivekananda e Paramahansa Yogananda
semearam abundantemente, no mundo, os seus ensinamentos de irmandade na paternidade do
único Deus, que deve ser praticada diretamente no próprio coração. Alguém acusou o Yogiraj
de dar a iniciação em Kriya-Yoga à pessoas indignas: “Bem – respondeu o Yogavatar –se não
tivesse lhes dados, teria sido pior”:

O Yogiraj geralmente instruía os seus devotos para que não se descuidassem dos normais
deveres sociais e religiosos. Era uma pessoa de grande visão e, até onde era possível, não
queria alterar o normal modo de viver, pelo menos até quando ele não se opusesse ao progresso
espiritual. Quem já havia sido iniciado por um Guru de família podia continuar a praticar a sua
Sadhana particular juntamente com a Kriya – Yoga. Mesmo pessoas pertencentes a outros
cultos religiosos podiam ser ou foram iniciadas em Kriya-yoga, sem que lhes fosse pedido para
que renunciassem à fé original.

A iniciação era dada a quem tivesse verdadeiramente sede de Deus, independente da casta, do
credo religioso ou do país de origem. Entre os discípulos mais avançados do Yogiraj havia
também mulçumanos e ocidentais. Swami Bhaskaranda Saraswati e Srimat Bholananda
Brahmachari foram dois grandes santos indianos pertencentes a outros cultos religiosos que,
porém, receberam a Kriya dada por Lahiri Mahasaya.

A Kriya-Yoga de Lahiri Baba baseia-se em profundos ensinamentos expostos no Srimad
Bhagavad Gita e no Yoga-Sutra de Patanjali. O Gita era considerado pelo Mestre a sagrada
Escritura mais importante, um tratado completo e exaustivo sobre todos os vários aspectos da
vida espiritual. Em torno dele se reuniu um núcleo de discípulos que formaram uma associação
chamada “Gita Sabha”, dedicada ao estudo e à difusão dos ensinamentos do Gita. A profunda
interpretação Yogue dada pelo Yogiraj era anotada por alguns dos seus discípulos (sobretudo
Srimat Panchanon Bhattachar) que depois publicaram tais explicações. Recordemos aqui o
“Paranava Gita” de Swami Pranavananda, o Gita publicada por Panchanon e o elaborado por
Bhupendranath Sanyal. Também Sri Yukteswar havia começado a comentar o Gita seguindo a
interpretação de Lahiri-Baba, mas infelizmente não conseguiu completar a obra (havia já
recebido a aprovação do Mestre sobre a explicação dos primeiros capítulos elaborados).
Naturalmente, também explicações de Paramahansa Yogananda sobre o Gita seguem
interpretações yogues do Yogiraj transmitida pelos seus discípulos espirituais. Mas, além da
profunda interpretação do Bhagavad-Gita, é preciso lembrar um grande ato simbólico do
Yogavatar da nova era. A ele cabe o mérito de ter liberado o Gita do labirinto no qual o tinham
jogado os estudiosos, colocando - o pela primeira vez diante dos olhos de todos.
Significativamente ele mandou imprimir alguns milhares de cópias do Bhagavad-Gita (somente a
original, sem as explicações) em bangalês e em hindi e os distribuiu gratuitamente.

A Yoga é a ciência do espírito que por meio do gradual desenvolvimento do corpo, mente e alma
leva à superação de todos os obstáculos que dificultam a união com o Divino, realizando
exatamente a União (Yoga). No sentido mais amplo a Yoga inclui em si todos os tipos de
Sadhana. Como disse o grande Yogue da antiga Índia, Yajnavalkya: “Yoga é a união Jivatman
com o Paramatman (isto é, a união da Alma individual com a Alma Suprema, o Deus)”. O Yogue
postula que o microcosmo contém tudo aquilo que há no macrocosmo.
Um provérbio indiano diz que o que não se encontra no nosso corpo não existe nem no universo.
Por isso o Yogue considera seu corpo como o verdadeiro templo para adorar Deus. A
consciência limitada do homem se expande gradualmente na infinita e eterna consciência
cósmica. A Kriya-Yoga ensina que Deus deve ser experimentado antes de tudo dentro de nós,
concentrando o olhar entre as sobrancelhas. O corpo é o templo no qual o Yogue adora o Prana,
a energia vital que controla a maquina corpórea. O Prana é uma manifestação da consciência
divina que cria e sustenta o universo e todos os homens. Experimentando o mistério do Prana, o
homem experimenta o mistério de Deus dentro de si e, conseqüentemente, o experimenta em
todos os homens e no cosmo.

A Kriya-Yoga é uma ciência universal que não está em contraste com nenhuma fé, religião ou
filosofia. Um muçulmano, um cristão, um hindu, um budista, dualista, monista ou ateu, todos
podem servir-se da chave da Kriya (como técnica prática de libertação) para experimentar a
Divindade ou a Meta pré – escolhida. “A divina união – dizia Lahiri-Baba – se alcança mediante o
próprio esforço, e não depende de crenças ideológicas ou da vontade arbitrária de um ditador
cósmico”.

Exatamente por causa de sua cientificidade e porque se encontra além de qualquer barreira ou
limitação, a disciplina Yoga pode ser seguida por pessoas de todas as idades, país ou cultura. A
natural inquietação da mente humana é o que impede os homens de terem a visão da realidade.
Maharishi Patanjali - autor de um respeitável texto de Yoga – dá esta definição: “Yoga Citta
Vritti Nirodha (Yoga é o deter das modificações da substância mental)”. Isto é: Yoga implica
no perfeito controle da respiração, do Prana (energia ou essência vital universal) e da mente, e
conduz à consciência cósmica.

O procedimento definido por Patanjali no Yoga-Sutra compõe-se de oito passos:

1 – Yama: Não violência, não roubar, castidade, veracidade e não aceitar presentes (donativos).
2 – Niyama: Pureza, contentamento, autodisciplina, estudo de si mesmo e devoção a Deus e ao
Guru
3 – Asana: Conquista de uma posição cômoda e estável (na qual a coluna vertebral permanece
bem reta) para a meditação
4 – Paranayana: controle do Prana e conseqüentemente controle da respiração
5 – Pratyahara: Afastamento dos sentidos dos objetos externos
6 – Dharana: Concentração
7 – Dhyana: Meditação
8 – Samadhi: Êxtase superconsciente, união.

Desde os tempos imemoráveis, os Yogues da antiga Índia tomaram conhecimento da relação
matemática existente entre a respiração e o controle da mente. A respiração, como forma
grosseira de Prana psíquico, está intimamente ligada aos estados de consciência. Todos nós,
em nossas experiências, podemos constatar como a diversos estados mentais correspondem
diferentes ritmos respiratórios. A respiração é o que prende a alma ao corpo. Quanto mais
lento e profundo é o ritmo da respiração, mais a mente fica calma e cheia de paz. Os
benefícios restauradores do sono derivam do desaceleramento do ritmo respiratório, que
produz a perda temporária da consciência corpórea e, portanto, um beatífico repouso mental.
Libertar-se da respiração significa libertar-se de Maya, da ilusão cósmica, do dualismo e da
morte. O absoluto mora no estado além da vibração cósmica (Prana universal, Aum), e eis
porque a Alma feita à Sua imagem toma consciência de si, no estado de cessação da respiração.
Yogues e místicos de todos os tempos e países experimentaram este estado de liberdade da
respiração durante o qual perceberam as suas almas e, portanto, Deus. A Kriya-Yoga satura e
alimenta todas as células do corpo de luz imortal, magnetizando-as espiritualmente; assim a
respiração torna-se cientificamente inútil.

Deste modo, a natural evolução humana pode ser notavelmente apressada. Assim como o homem
encontra a libertação após tantas grandes dissoluções (nascimentos e mortes), do mesmo modo
pode obter a realização praticando Kriya, experimentando conscientemente a morte durante o
estado sem respiração e renascendo durante a inalação no estado superconsciente. Se o Yogue
puder ficar concentrado na beatitude absoluta, sem apego aos prazeres materiais, durante um
certo número de mortes e renascimentos esotéricos (exalação e inalação) então tornar-se-á
livre. Segundo as Escrituras hindus, é necessário um milhão de anos de normal evolução antes
que o cérebro do homem esteja em condição de conter e exprimir toda a potência da
consciência cósmica. Kriya-Yoga agindo diretamente sobre o eixo cérebro-espinhal (eixo de
existência e da evolução humana) acelera a evolução física, mental e espiritual do homem; e tal
é o seu poder que o resultado alcançado em um milhão de anos de evolução natural pode ser
potencialmente conseguido em três anos de intensa meditação. Movendo para cima e para baixo
a corrente Pranica pela espinha dorsal, o Kriya - Yogue converte - a em um imã que retira as
correntes nervosas dos sentidos e as concentra no olho espiritual. Um movimento completo da
corrente, para cima e para baixo da espinha dorsal, corresponde a uma Kriya e produz no
cérebro e no corpo uma mudança que, normalmente só é possível após um ano de natural
existência, sem doenças graves. Assim, teoricamente, praticando mil Kriya por dia, em três
anos, é possível se obter a realização. Mas na prática só poucos indivíduos, espiritualmente
muito evoluídos, estão aptos a fazer um esforço tão tremendo; o corpo de uma pessoa normal
não está em grau de sustentar a imensa energia gerada por uma excessiva prática de Kriya,
nem a sua vontade é bastante forte para queimar rapidamente o Karma que o liga aos desejos.
Dias após dia, com constância e devoção, o Kriya-Yogue avança regularmente, alargando a
própria consciência até o infinito.

O gradual controle do Prana e da respiração é conseguido graças ao Pranayana, que é
completamente experimentado quando inalação e exalação cessam naturalmente as suas
funções. Do ponto de vista médico, o corpo físico do Yogue aparenta estar morto; mas,
realmente isto representa o início da vida espiritual, pois a Kundalini (a energia cósmica latente
no homem, na base da coluna vertebral) desperta e começa a subir ao longo da coluna. Durante
o sono o homem dá repouso aos músculos voluntários e assim, a cada manhã, encontra-os
revigorados e frescos. Mas os músculos involuntários não obedecem à vontade humana e
trabalham continuamente do nascimento até a morte; esta última acontece, justamente, quando
os músculos involuntários, já cansados, cessam de funcionar. Transcorrido o grande sono da
morte, o homem, juntamente com os seus desejos, acorda em um outro corpo e continua a sua
evolução. Contudo, pode-se controlar estes músculos involuntários por meio de Pranayana. O
homem pode parar a natural decadência do corpo material colocando periodicamente em
repouso os órgãos involuntários do coração, pulmão e de outros órgãos vitais. Se um homem
pode “morrer”, isto é, colocar, todo dia, em repouso todo o sistema voluntário e involuntário,
graças à prática do Pranayana , todo o sistema físico trabalhará com grande vigor. Vida e
morte ficam sob o controle do Yogue que persevera na prática do Pranayana.
Deste modo ele preserva o corpo da prematura decadência que surpreende todos os homens e
pode ficar, até quando desejar, na sua presente forma física. Assim tem tempo para esgotar o
seu Karma em um corpo e para libertar-se de todos os desejos do seu coração. Finalmente
purificado, não está mais obrigado a retornar a este mundo sob influência de Maya.

KRIYA – YOGA pode ser considerada o néctar da Raja-Yoga de Patanjali e, ao mesmo tempo, o
processo mais sistemático e científico, síntese e essência de todas as Yogas e de todas as
religiões.
Kriya é a arte suprema que permite dar o salto final para o absoluto. Assim disse Mahavatar
Babaji a Lahiri Baba no momento de licenciá-lo para mandá-lo entre os homens: “Dê a chave do
Kriya só a Chela (discípulos) qualificados. Quem fez voto de sacrificar tudo em busca do Divino
é idôneo para resolver os últimos mistérios da vida”.

Para concluir esta introdução queremos lembrar que a biografia do Yogiraj escrita por Swami
Bioyananda Giiri baseia-se nas mais confiáveis fontes biográficas das quais já falamos
anteriormente. Onde nos pareceu oportuno, acrescentamos ao texto, notas, para completar a
informação ou para dar a conhecer a versão , ligeiramente diferente, do mesmo fato.

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