quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

As Cidades Invisíveis

Sinopse: Marco Polo fala a Kublai Kan das cidades do Ocidente, maravilhando o imperador mongol com as suas descrições. Estas cidades, no entanto, existem apenas na imaginação do mercador veneziano: a sua vida encontra-se apenas dentro das suas palavras, uma narrativa capaz de criar mundos, mas que não tem forças para destruir «o inferno dos vivos». Este livro tem o lirismo dos livros de poemas, poemas que por vezes descrevem cidades e outras vezes a forma de pensar e de ser dos seus habitantes. Invertendo os papéis do Livro das Maravilhas, através do qual Marco Polo revelou o Oriente ao mundo ocidental, Calvino arquitectou o livro que o estabeleceria como uma das referências incontornáveis da literatura pós-moderna.

Sinceramente, nem sei por onde começar a opinião deste livro. Aproveitei as mini-férias do Carnaval para o ler e dei a tarefa por concluída em algumas horas, tal foi a forma como fiquei hipnotizada com esta leitura.

Não é um livro muito fácil de descrever - a sinopse é, contudo, bastante elucidativa - ou de catalogar. Trata-se da colocação em palavras de uma imaginação prodigiosa. O livro não tem propriamente uma história, para além do facto de termos Marco Polo a falar de diversas cidades ao imperador Kublai Kan. As várias cidades vão desfilando diante dos nossos olhos, agrupadas por temas (Memória, Desejo, Sinais, Subtis, Trocas, Olhos, Nome, Mortos, Céu, Contínuas e Ocultas), sendo que cada tema contém 5 cidades ordenadas segundo um esquema cuidado, mas que nem por isso impede o leitor de se sentir completamente enredado no que está a ler.

A grande maioria das cidades descritas são completamente surreais: desde cidades debaixo de terra ou de água, a cidades suspensas ou que consistem em duas metades, em que uma delas periodiocamente vai viajar por outras paragens. Mas, para além do surrealismo físico, estas cidades são também descritas através dos sentimentos dos seus habitantes, dos quais conhecemos os pensamentos e estados de espírito, que, frequentemente, se reflectem na própria cidade descrita.

A escrita é simplesmente genial: faz-nos viajar, imaginar, pensar. Pensar que todas as cidades descritas podem ser lados de apenas uma cidade, pensar no verdadeiro significado de tantas descrições e reflexões. Para mim, uma das conclusões a tirar deste livro é que a imaginação tem muita força. Termino este post tal como o livro termina, com esta frase genial:

O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.

10/10 - Obra-prima

[Livro n.º 14 do meu Desafio de Leitura]

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