terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Livros que foram e podem voltar a ser prendas

Pelos 13 anos, as leituras que herdara da infância e pré-adolescência começavam a não me satisfazer. Já não sentia o prazer e a gula pelos livros, a ansiedade de nunca parar de os ler, aquele folêgo, aquela emoção, aquela entrega.
Alguns especialistas em Literatura Infantil consideram que não existe uma verdadeira literatura juvenil, já que na adolescência e juventude os leitores têm já adquiridas as competências básicas de leitura para poderem ler livros de adultos. A questão prende-se muitas vezes com o desinteresse por certos temas ou estilos, bem como o treino da concentração. Por isso a literatura juvenil mais não seria do que a adaptação de um tema, uma narrativa, um assunto ao contexto simplificado dos jovens. Não tenho muitas certezas quanto a estes argumentos mas percebo que há um rol de usos retóricos na escrita para a infância que dão aos textos níveis de leitura, ritmos e efeitos do belo próprios da ideia literária, em geral.
Contudo, a experiência que desenvolvi no Natal dos meus 13 anos parece aproximar-se daqueles que defendem a passagem da literatura infantil para a literatura para adultos.
Não sabendo como escolher os livros a pedir no Natal, resolvi recorrer ao meu manual de Português, e dele seleccionei um conto e uma crónica de que tinha gostado particularmente. Assim foi, integrei na lista Os novos contos da montanha, do Miguel Torga, e Deste mundo e do outro, de José Saramago.
Li-os aos dois. Na época lembro-me que fiquei bastante entusiasmada com o livro do Saramago. Tinha um misto de narrativa linear e mistério. O 'realismo mágico', que ainda não conhecia e nunca aprofundei, espantou-me. Ao contrário de Torga, cuja angústia compreendia e partilhava pela leitura, com Saramago questionava. Foi talvez o meu primeiro contacto com a literatura para adultos: aquela que já não se torna leve na memória, aquela que faz experiências connosco.
Curiosamente, não voltei a ler um único livro de Saramago até muito mais tarde, no 1º ano da faculdade, ser (ainda bem) obrigada a ler O memorial do convento. Gostei muito, mas continuo a não ser sua leitora regular.

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