quarta-feira, 9 de maio de 2007

ORIGEM E SIGNIFICADO DO LIVRO

ORIGEM E SIGNIFICADO DO LIVRO

Há evidências de que no terceiro milênio a.C. os egípcios submetiam o caule de uma planta chamada papiro a um processo de corte, secagem, junção de camadas e umedecimento do qual resultava uma substância compacta. Depois de seca e polida, esta substância formava um conjunto de folhas, coladas em faixas largas, com altura máxima de trinta e sete centímetros, onde se podia escrever e desenhar. Para registrar a linguagem no papiro, os egípcios usavam uma espécie de junco cortado obliquamente e impregnado de uma tinta escura, feita à base de carvão vegetal e cola.

Porém, a arte da escrita nascera antes. Sumérios e assírios já tinham um sistema de traços para anotar a fala. Só que o faziam em pedras ou plaquetas de argila, materiais de difícil escritura e de transporte complicado. O papiro egípcio, ao contrário, além da facilidade do registro, apresentava grande mobilidade por se apresentar sob a forma de rolos. No século VI a.C., na Grécia, a utilização do papiro já era freqüente e, nos séculos seguintes, já havia um considerável número de livros à disposição, indicando o hábito de leitura da elite grega. Aristóteles, por exemplo, possuía notável coleção de manuscritos. Poetas como Arquíloco e Safo eram lidos por um público expressivo. Atores que representavam as tragédias necessariamente tinham cópias das mesmas. E o próprio Platão referiu-se ao fato de que os livros não eram dispendiosos.

A grande síntese da cultura antiga foi a biblioteca de Alexandria - fundada por Ptolomeu II em... e que teria sido destruída por um incêndio em... Esta maravilhosa compilação de todo o saber humano, produzido até aquela data, chegou a ter setecentos mil rolos.

Também os romanos deram contribuição à história do livro. Com seu senso comercial, criaram verdadeiros "negócios editoriais", como a cópia de livros (em média duzentos exemplares de cada original), geralmente feita por escravos; o estabelecimento de livrarias que anunciavam através de cartazes os próximos lançamentos; e a distribuição dos textos a livreiros espalhados pelas maiores cidades do Império. A exemplo de hoje, para atrair a clientela, os autores costumavam realizar leitura pública de suas obras. Surgiram também os colecionadores privados (bibliófilos), que faziam de sua biblioteca particular um sinal de riqueza e distinção intelectual. O filósofo Sêneca se queixava deles, dizendo que a maioria colecionava livros apenas por exibicionismo. Fora isso, os imperadores estabeleceram dezenas de bibliotecas públicas, infelizmente queimadas pelos bárbaros que invadiram e aniquilaram o Império.

O livro em pergaminho (códice)

Além da escrita em vegetal, surgiu também aquela registrada sobre couro ou pele de animal: o pergaminho. Tão flexível quanto o papiro, o pergaminho era, no entanto, muito mais resistente, sobretudo ao ataque de insetos e à umidade. Além disso, podia ser apagado e, sobretudo, pela consistência da pele, podia ser disposto em superfícies retangulares ou quadradas, formando páginas. O passo seguinte foi a costura dessas páginas em cadernos com todas as características externas que hoje encontramos nos livros. O termo codex ou códice refere-se a esse tipo de livro manuscrito. Surgiu a partir daí a numeração das páginas, para o caso de extravio de alguma folha, algo que não ocorria com os rolos de papiro. Muitos desses trabalhos eram artisticamente ornamentados com gravuras, miniaturas e desenhos feitos com tintas e pó de ouro. Viravam assim autênticas peças de arte. As encadernações em couro completavam o valor quase de relíquia desses livros.

O uso do pergaminho tornou-se comum a partir dos séculos IV e V de nossa era. Coincidiu com o fim do Império Romano, com a cisão entre o Oriente e o Ocidente e com o vandalismo religioso que arrasou bibliotecas e tudo aquilo que representasse paganismo. É verdade que o Império Bizantino (Oriente) cumpriu sua missão de preservar a cultura clássica até a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. Significativamente, os árabes que conquistaram a Península Ibérica aproximaram-se do pensamento grego (sobremodo filósofos e médicos), revelando não apenas curiosidade espiritual como invejável tolerância, traduzidas na preservação e divulgação de manuscritos antigos.

A própria Igreja Católica, apesar de sua desconfiança em relação ao mundo clássico, transformou mais de trezentos mosteiros em centros de difusão religioso-cultural, onde infatigáveis copistas reproduziam manuscritos. Um historiador recente escreveu a respeito deles:

A cultura foi uma ampla sucessão de copistas. Sobre o pergaminho e, mais tarde, sobre o papel, ouviu-se sempre o ruído sutil de um instrumento riscando a superfície original de uma folha em branco. Chegam até nós as vozes cansadas dos velhos copistas quando ainda tinham de cumprir sua penosa tarefa, passando o limite do crepúsculo, com falta de luz.

O papel e a imprensa

A invenção do papel pelos chineses no século I a.C. foi a condição indispensável para a invenção da imprensa, mil e quinhentos anos depois. O uso do papel só se difundiu na Europa quando os árabes conheceram seu mecanismo de produção e criaram fábricas em Bagdá, Damasco e Trípoli. A primeira fábrica européia surgiu na Espanha, ainda sob dominação árabe, no ano de 1150. A partir daí, o papel começou a desalojar o pergaminho como matéria-prima básica para a elaboração de livros.

A imprensa nasceu no contexto do Renascimento, no seio das enormes transformações que sacudiam a Europa e das quais a própria imprensa seria a mais extraordinária. Nenhuma das revoluções vividas pela humanidade poderia se lhe comparar. Em 1456 - como um raio que cai do céu azul - Johannes Gutenberg surpreendeu o mundo usando fragmentos de chumbo fundido que continham letras em relevo. Estas, embebidas em tinta e sob pressão de uma grande prensa de madeira, ficavam reproduzidas no papel. Logo veio à luz, na cidade de Mogúncia, a sua Bíblia em dois volumes e mais de mil e duzentas páginas impressas.

Naquele momento, liquidava-se com o monopólio do saber da Igreja, simbolizado pelos velhos códices, atados por correntes nas estantes dos mosteiros. Os livros agora poderiam ser transportados, guardados em casa, democratizados. A cultura e a maneira de ver o mundo não eram mais determinadas pelas autoridades eclesiásticas. A multiplicidade de opiniões - originária da livre comparação de vários livros, de várias idéias - inaugurava o mundo moderno.

A partir daí o livro se transformou no principal agente de fermentação intelectual da humanidade. Nele, o homem encontraria dúvidas e respostas, estímulo para a realização de seus sonhos individuais e idéias para tornar a vida social mais digna e satisfatória. Acima de tudo, o livro representaria o ideal de permanência a que todos aspiram. Não apenas a permanência do conhecimento filosófico ou científico, mas também a de experiências e de visões humanas que - sem a escrita - desapareceriam na voragem do tempo, apagando as nossas lembranças e o nosso passado.


http://educaterra.terra.com.br/literatura/temadomes/temadomes_livro_1...

(matéria enviada por Ingrid Bianchini para o grupo )

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