quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Memórias do Padre Germano, de Amália Domingo Sóler

PREFÁCIO

Aos 29 de abril de 1880 comecei a publicar, no jornal espírita ”A Luz do Porvir”, as Memórias do Padre Germano - uma

sêrie de comunicações que, sob a forma de novela, nem por isso deixam de instruir deleitando. O Espírito do Padre Germano

foi relatando alguns episódios de sua última encarnação terrena, consagrada à consolação dos humildes e oprimidos, ao

mesmo tempo que desmascarava os hipócritas e falsos religiosos da Igreja Romana.

Tal proceder, como era natural, lhe acarretou Inúmeros dissabores, perseguições sem tréguas, cruéis insultos e ameaças de

morte, ameaças que, por mais de uma vez, e por pouco se não converteram em amarissima realidade. Vítima dos superiores

hierárquicos, assim viveu desterrado em obscura aldeia, ele que, pelo talento, bondade e poredicados especiais, poderia

ter conduzido a seguro porto, sem perigo de soçobro, a arca de São Pedro.

Mas, nem por viver em recanto ermo da Terra, obscura foi sua existência. Assim como as ocultas violetas exalam delicado

perfume entre as heras que as sobrepujam, assim a religiosidade dessa alma exalou o sutil aroma do sentimento, e com

tanta fragrância, que a essência embriagadora pôde ser aspirada em muitos lugares da Terra.

Muitos foram os potentados que, aterrados pela idéia de crimes enormes, correram pressurosos à sua presença,

porostrando-se humildes ante o humilde sacerdote, para que fosse intermediário entre eles e Deus.

O Padre Germano arrebanhou muitas ovelhas desgarradas, guiando-as pela senda estreita da verdadeira religião, que outra

não é senão a do bem pelo bem, e amando - não só o bom,



que por excepcionais virtudes merece ser amado ternamente, como também o delinqüente - enfermo dalma que, em gravíssimo estado, só com amor se pode curar.

A missão desse Padre em sua última encarnação foi, de fato, a mais bela que porventura possa ter o homem na Terra; e

visto como, ao deixar o invólucro carnal, o Espírito porossegue no espaço com os mesmos sentimentos humanos, pôde ele

sentir, liberto dos seus inimigos, a mesma necessidade de amar e instruir o próximo, buscando todos os meios de completar

tão nobílissimos desejos.

À espera de propicia ocasião, encontrou, finalmente, um médium falante puramente inconsciente, ao qual dedicava, contudo,

esse achado: - importava que tal médium tivesse um escrevente capaz de sentir, compreender e apreciar o que o médium por si dissesse.

A isso me porestei eu, de boa-vontade, e no intuito de propagar o Espiritismo, trabalhamos os três na redação destas

”Memórias”, até 10 de janeiro de 1884.

Não guardam elas perfeita ordem com relação à existência do Padre, sendo que, tão depressa relatam episódios

verdadeiramente dramáticos da sua juventude, como deploram o isolamento da sua velhice; em tudo, porém, que diz o Padre

Germano, há tantos sentimentos, religiosidade e amor a Deus; admiração tão profunda das leis eternas e tão grande

adoração à Natureza, que, lendo estes fragmentos, a criatura mais atribulada se consola, o mais céptico espírito

conjetura, comove-se o maior criminoso, cada qual procurando Deus a seu modo, convencido de que Ele existe na imensidade dos céus.

Um dos fundadores de ”A Luz do Porvir”, o editor João Torrents, teve a feliz idéia de reunir em volumes as Memórias do

Padre Germano, ás quais adicionei algumas comunicações do mesmo Espírito, por ter encontrado nelas imensos tesouros de

Amor e de Esperança - esperança e amor que são frutos sazonados da verdadeira religiosidade por ele possuída de muitos

séculos. Sim, porque para sentir e amar como ele, conhecendo ao mesmo tempo tão profundamente as misêrias da Humanidade, 2
é preciso haver lutado com a fonte nunca estanque das paixões, com a tendência dos vícios, com o estímulo indômito das

vaidades mundanas.



As grandes e inveteradas virtudes, tanto quanto os múltiplos conhecimentos científicos, não se imporovisam porque são a

obra paciente dos séculos.

E sejam estas linhas - humilde porólogo às Memórias do Padre Germano - as heras que ocultam o ramo de violetas, cujo

delicadíssimo perfume hà de ser aspirado com prazer pelos sedentos de justiça e famintos de amor e verdade.

Grécia, 25 de fevereiro de 1900.

amalia domingo soler


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