sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Vida de Santa Maria Madalena - Texto Anônimo do Século XIV

Maria de Magdala, ou Maria Madalena, é a figura feminina
mais citada no Novo Testamento - ainda mais que a Virgem.
Além disso, é personagem importante na cena da ressurreição
de Cristo.
No Evangelho segundo Mateus ela é mencionada diretamente
duas vezes. Em Mt. 27,56, na cena da crucificação, é a primeira a
ser nomeada entre as mulheres que acompanhavam Jesus desde a
Galiléia, e em Mt. 28,1, no relato da ressurreição, ocasião em que
Jesus aparece às mulheres e ordena que dêem a notícia aos apóstolos
e que estes sigam até a Galiléia, é novamente lembrada em primeiro
lugar: “Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro”.
Marcos se refere a ela quatro vezes. Na cena da crucificação,
em Mc. 15,40-41, ela é mais uma vez identificada como parte do
grupo de mulheres que seguiam a Jesus desde a Galiléia e é citada,
também, em primeiro lugar: “Estavam também ali algumas mulheres,
observando de longe; entre elas Maria Madalena, Maria,
mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé”. Um pouco mais à
frente, em Mc. 15,47, ela é apontada como testemunha do sepul-
tamento: “Ora, Maria Madalena, e Maria, mãe de José, observaram
onde ele foi posto.” O relato da ressurreição segundo o Evangelho
de Marcos é o que dá mais importância a Madalena. Ela é
destacada duas vezes: em Mc. 16,1, ela aparece indo comprar aromas
com outras mulheres para embalsamar Jesus; e em Mc. 16,9
afirma-se: “Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro
dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira
sete demônios.”
O Evangelho segundo Lucas faz alusões diretas e indiretas a
Maria Madalena. Em Lc. 8,2-3 ela é mencionada como uma das
mulheres que seguiam a Jesus; dela “saíram sete demônios”; e,
junto a outras mulheres, prestava assistência a Cristo com os seus
bens. Em Lc. 23, nos relatos da morte e sepultamento de Jesus,
ela figura como uma das discípulas que o acompanhavam desde a
Galiléia, primeiro assistindo a crucificação e, depois, preparando
aromas e bálsamos para ungir o corpo do mestre. Por fim, em Lc.
24,10, Madalena é a primeira a ser enumerada entre as mulheres
que vão levar as boas novas da ressurreição: “Eram Maria
Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago; também as demais
que estavam com elas confirmaram estas coisas aos apóstolos”.
É só no Evangelho segundo João que Madalena não é nomeada
em primeiro lugar dentre aquelas que assistem a crucificação
de Jesus: “E junto à cruz estavam a mãe de Jesus, e a irmã dela,
Maria, mulher de Cleopas, e Maria Madalena” (Jo. 19,25). Na
segunda vez em que é citada, em Jo. 20,1, Madalena vai ao sepulcro
de madrugada e encontra a pedra que o fechava revolvida,
indo avisar o acontecido a dois discípulos. Ou seja, ela é a protagonista
do relato presente em Jo. 20,11-18, quando, sozinha, chorando
ao pé do túmulo, primeiro vê dois anjos e depois o próprio
Jesus, que conversa com ela.
São estas as informações sobre Maria Madalena contidas no
Novo Testamento. A partir desses dados bíblicos, podemos re-
construir alguns aspectos de sua biografia: Maria Madalena era
uma mulher de posses que vivia na cidade de Magdala; após uma
experiência religiosa, tornou-se discípula de Jesus, acompanhando-
o em suas viagens, junto a outros discípulos, homens e mulheres,
e inclusive financiando-o. Pela forma como é nomeada, é possível
inferir que possuía uma situação familiar incomum em seu
tempo. Diferentemente de outras mulheres das Escrituras, ela é
identificada por seu lugar de origem ao invés da referência a um
homem, forma de designação mais usada para as mulheres neste
momento. Sendo Maria relacionada somente à sua cidade, Magdala,
aliás, de onde deriva o nome Madalena, é provável que ela fosse
uma mulher solteira e independente.
Ainda que sejam escassas as informações sobre Madalena, se
comparadas às de outros personagens bíblicos, não é isento de
significado o fato de que ela é tratada mais vezes do que qualquer
outra mulher no Novo Testamento e, na maioria delas, em primeiro
lugar. Assim, sua figura despertou interesse e levou a exegese
e a tradição posterior a adicionar muitos outros elementos a esta
personagem, tornando-a mais complexa, como veremos adiante.

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