Alguns livros têm uma embalagem que encanta. Ficam expostos na entrada das livrarias, têm a assinatura de um grande ilustrador e o autor, às vezes, já escreveu algo interessante que nos faz acreditar que qualquer coisa que escrever será muito boa. Ledo engano. Já fui pego por estas armadilhas e bravamente segui em frente até a última página. Mas, como já ouvi dizer por aí, devemos também ler livros ruins assim como assistimos a filmes ruins. Assim, apuramos o gosto. Digo isso porque gosto de fuçar as estantes das livrarias. E se você – como eu – tem paixão por livros infantis, sabe que fuçar naquelas estantes não é nada fácil. É preciso força, agilidade e paciência. Força para abrir espaço entre os livros, pois eles insistem em ficar espremidos uns nos outros. Agilidade para manter o equilíbrio em espaços geralmente minúsculos. Paciência para perdoar a ignorância dos vendedores (há exceções). Por fim, vez em quando encontro um tesouro.
Foi assim que descobri A História de Despereaux (Kate DiCamillo, ilustrações de Timothy Basil Ering, Martins Fontes). Primeiro, simpatizei com o ratinho da capa. Achei o título difícil – até agora, não sei pronunciar direito. Ignorei o ícone que revelava uma premiação importante. Ao folhear, me apaixonei pelas ilustrações. Trouxe-o para casa. Agora, depois de devorar suas 260 páginas, escrevo este texto feliz e surpreso por minha conquista no garimpo.
Despereaux Tilling é um pequeno camundongo diferente dos demais da sua espécie. Gosta de música e – como os Roedores de Livros – prefere ler a roer os livros de verdade (Juliana diria poeticamente que nós roemos com os olhos). Por causa destas preferências ele entra em contato com a princesa Ervilha e se apaixona por ela. Seus companheiros camundongos o condenam ao calabouço do castelo onde provavelmente morrerá devorado pelos ratos. Pois é. Ratos não gostam de camundongos. No calabouço há o terrível Chiaroscuro, um rato que quer viver na superfície pois detesta a escuridão. Em seu primeiro passeio por lá, encantado com as luzes de um candelabro, acabou matando a rainha, o que acarretou medidas drásticas impostas pelo Rei. Longe dali, uma menina chamada Migalha Sementeira vivia triste. E quase surda pois suas orelhas viviam doloridas e amassadas como uma folha de repolho de tantos puxões que sofia do homem que a comprara de seu pai. Ela fora vendida por uma toalha de mesa vermelha, uma galinha e um punhado de cigarros. E isso a deixava profundamente triste. Queria ser uma princesa.
Estes três personagens são apresentados em capítulos separados, depois a história vai se encaixando como se fosse um quebra-cabeças. O narrador segue dialogando com o leitor como se alguém estivesse ali sussurrando as ações em nossos ouvidos numa narrativa contagiante. Uma história que fala de amor, ódio, esperança, perdão, tudo misturado com muita aventura. Dá pra sentir o cheiro da sopa na cozinha do castelo. Dá pra sentir a escuridão do calabouço. A cada página seguimos torcendo pelo pequeno Despereaux. Por fim, o camundongo, o rato e a menina das orelhas de repolho se encontram e a história ganha o seu desfecho. Encantado, como um menino guloso, eu ainda queria mais daquela iguaria deliciosa!!!
Agora, fuçando na internet em busca de links e outras informações sobre o livro, descobri que A História de Despereaux será lançada nos cinemas em dezembro de 2008. Os atores Matthew Broderick, Sigourney Weaver, Dustin Roffman fazem parte do elenco estelar que dará voz aos personagens animados. Mas não espere tanto para conhecer este camundongo. Ele vai conquistar você e as crianças simplesmente nas páginas do livro de Kate DiCamillo. Eu me rendi aos encantos desta história que pesquei numa estante espremida de livros numa loja de Brasília. Torço para que vocês desenvolvam a força, agilidade, paciência e façam boas pescarias também. Hatuna Matata.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
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