domingo, 15 de abril de 2007

ANÇAMENTO DIGITAL SOURCE - 1 LIVRO INÉDITO - 15/04/07


Michelle Paver

Irmão Lobo


Irmão Lobo é o primeiro livro das Crônicas das trevas antigas, que contam as aventuras de Torak na Floresta e seus arredores e seus feitos para subjugar os Devoradores de Almas.

NOTA DA AUTORA

Se você pudesse voltar ao mundo de Torak, acharia uma parte dele surpreendentemente familiar e outra parte completamente estranha. Você teria recuado seis mil anos no tempo, para uma época quando a floresta cobria todo o noroeste da Europa. A Idade do Gelo terminara alguns milhares de anos antes, portanto os mamutes e os tigres-dentes-de-sabre haviam desaparecido; e embora a maioria das árvores, plantas e animais viessem a ser os mesmos de agora, os cavalos da floresta eram mais robustos, e você provavelmente ficaria abismado ao ver um auroque pela primeira vez: um enorme boi selvagem com chifres apontando para a frente, com cerca de um metro e oitenta de altura na parte do ombro.

As pessoas do mundo de Torak pareceriam exatamente como eu e você, mas seu modo de vida o surpreenderia por ser tão diferente. Caçadores-catadores viviam em pequenos clãs e movimentava-se demais: às vezes, ficavam poucos dias em um acampamento, como Torak e Pa do Clã do Lobo, ou às vezes ficavam por toda uma lua ou uma estação, como os Clãs do Corvo e do Javali. Eles ainda não tinham ouvido falar em agricultura, e não tinham escrita, metais ou a roda. Não precisavam disso. Eram esplêndidos sobreviventes. Sabiam tudo sobre animais, árvores, plantas e pedras da floresta. Quando queriam uma coisa, sabiam onde encontrá-la ou como fazê-la.

Muito disso eu consegui aprender através da arqueologia: em outras palavras, dos vestígios das armas, comidas, roupas e abrigos que os clãs deixaram para trás na floresta. Mas isso é apenas uma parte. Como eles pensavam? O que acreditavam sobre vida e morte, e de onde vieram? Para isso, pesquisei as vidas de caçadores-catadores mais recentes, inclusive algumas tribos de nativos americanos, os Inuit (esquimós), os San meridional da África, e os Ainu do Japão.

Mesmo assim, restou a questão de como era realmente a sensação de se viver na floresta. Que gosto tem a resina de abeto? Ou o coração de rena, ou alce defumado? Qual a sensação de se dormir em um dos abrigos de frente aberta do Clã do Corvo?

Felizmente, é possível descobrir, pelo menos até certo ponto, porque partes da floresta ainda perduram. Eu estive lá. E, às vezes, bastam cerca de três segundos para se voltar seis mil anos no tempo. Se você ouvir um veado-vermelho berrar à meia-noite, ou encontrar pegadas frescas de lobo atravessando as suas; se, de repente, tiver de convencer um urso bastante nervoso de que você não é nem ameaça nem presa... É aí que você volta para o mundo de Torak.


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