quinta-feira, 10 de abril de 2008

A importância dos objectivos específicos no ensino da leitura

Ontem, na formação de professores em Montemor, deparei-me com a necessidade de justificar o seguinte critério: a cada actividade deveria corresponder um único objectivo específico.
Uma das formandas tinha escolhido mais do que um. Interpelei-a perguntando se tinha começado a pensar na actividade a partir do objectivo específico ou o inverso. Garantiu-me que tinha partido do objectivo específico, mas que os três escolhidos eram possíveis.
Assim, parece-me importante esclarecer alguns pontos.
Os objectivos específicos são importantes para aqueles que, como eu, defendem que a língua portuguesa ou o português, deve ser ensinado maioritariamente enquanto treino de competências gerais (leitura, escrita, oralidade, funcionamento da língua). A ideia de treino implica um método, e esse método quer-se diversificado nas abordagens (actividades) e plural nas suas componentes. Trata-se de tentar isolar os vários elementos que compõem a aprendizagem (neste caso) da leitura, para que possam ser isolados. Ao identificarmos que é necessário um aluno identificar personagens, distinguir o essencial do acessório, ou até distinguir tipologias de textos, podemos mais facilmente treinar cada um destes objectivos, identificando as lacunas de cada aluno e testando estratégias distintas, de forma a chegar ao maior número de alunos possível. Por isso, se partirmos de um único objectivo, só depois escolhemos a actividade/ exercício de treino, bem como o material mais adequado (por material entenda-se texto). Presumo que, de acordo com este processo, será difícil pensar em vários objectivos. A ideia de juntar vários objectivos específicos para uma única actividade corresponde muitas vezes a uma ansiedade típica no docente: o de cumprir o programa, o de esgotar o texto. Muitas vezes, é estranho para o docente não 'aproveitar' um texto para dar n conteúdos programáticos. Acontece que, se pensarmos em competências e não em conteúdos, não sentimos a tentação de aproveitar nada, porque teremos sempre tempo para treinar repetidamente os objectivos específicos básicos para que os nossos alunos consigam, de forma autónoma, apreender um enunciado. É claro que não podemos ignorar os conteúdos literários associados ao treino das competências. Estes conteúdos são, no entanto, informação complementar, e não o centro dos programas de português. Mas mesmo para os conteúdos podemos estabelecer objectivos específicos como: conhecer contexto social da época; identificar características históricas; reconhecer características literárias...
Isto não significa que os alunos nunca sejam confrontados com a experiência de leitura ascendente, que comummente conhecemos como leitura e interpretação de texto, em que se treinam os vários elementos que levam à compreensão ao mesmo tempo, a partir de um único instrumento. O que me parece importante é isolar as partes e juntá-las sucessivamente, para ginasticar a leitura, e criar mecanismos que permitam aos alunos relacionar as partes constituintes do texto depois de as identificarem e não apenas no seu conjunto.

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