terça-feira, 17 de março de 2009

A Ofensa

Sinopse: Se o corpo é a fronteira entre cada um de nós e o mundo, como pode o corpo defender-nos do horror? Quanta dor pode um homem suportar? Pode o amor salvar aquele que perdeu a esperança? São estas algumas das perguntas implícitas em A Ofensa, a história de Kurt Crüwell, um jovem alfaiate alemão empurrado pelo nazismo para o vórtice de uma experiência radical e insólita. Metáfora de um século trágico, viagem vertiginosa às raízes do Mal, A Ofensa afirmou Ricardo Menéndez Salmón como um dos grandes nomes da jovem ficção espanhola.


Tal como a sinopse indica, este livro remonta à epoca do início da Segunda Guerra Mundial e acompanha a entrada do jovem Kurt Crüwell, alfaiate de profissão, no exército alemão. No entanto, um acontecimento traumático vai fazer com que ele seja transferido para uma Unidade de Saúde, após apresentar sintomas de uma patologia que o afastou da realidade.

Não se trata de um relato sobre as incidências da Guerra, mas sim uma viagem ao interior da alma do ser humano, uma visita aos motivos que o levam a cometer tantas atrocidades e a compreensão de que, mesmo no meio dos actos mais horrorosos, existem pessoas com bondade no coração. É também um livro que fala sobre a dor, nos seus mais variados sentidos.

Mas o maior trunfo deste livro é, sem dúvida, a escrita maravilhosa de Ricardo Menéndez Salmón. Eu não sou muito de anotar excertos que encontro em livros e que acho particularmente bons, mas este é um bom exemplo daqueles livros em que passaria a maior parte do tempo com a caneta e o bloco de notas por perto. Dois exemplos, que acho que demonstram bem o que quero dizer:

O homem convive com o seu corpo, mas não o conhece. Pelo menos não de uma forma exaustiva. Um homem e o seu corpo são realidades distintas. É isso certamente que permite compreender a essência última da dor, que não é mais do que a ruptura que provoca a indiferença do corpo face a nós próprios. Uma dor de dentes, obstinada e surda ao nosso desejo, basta para fazer ver semelhante drama. E é também isso certamente o que permite a um ser humano conservar o seu nome, a sua dignidade, aquilo que mais intimamente possui, quando o seu corpo, na doença, na mutilação ou na velhice, já não lhe pertence.

Se pudéssemos admirar o desenho dos passos de um homem sobre um tapete onde as suas pegadas ficassem impressas como num molde de cera, surpreender-nos-ia descobrir que, após tantas idas e vindas, após tantas tentativas de viagem, o fim do trajecto conduz com frequência a um lugar não muito afastado do ponto de partida.

Se há algum defeito que posso colocar neste livro é não se estender por mais páginas, por forma a prolongar o prazer que esta leitura me proporcinou. Fico ansiosamente à espera do próximo livro, Derrumbe, que a Porto Editora também vai publicar.

9/10 - Excelente

[Livro n.º 20 do meu Desafio de Leitura]

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