segunda-feira, 16 de março de 2009

Outras Cores

Nunca tinha lido nenhuma obra do Prémio Nobel da Literatura 2006, o turco Orhan Pamuk, mas se o livro “Outras Cores” tivesse como objectivo fazer nascer no leitor a curiosidade em ler os seus romances, então o objectivo foi plenamente conseguido.

Não sei se é a melhor maneira começar por esta obra, mas o certo é que quando começar a desbravar os seus romances, quero crer que os irei compreender melhor, até porque ele, numa certa altura, explica algumas passagens deles. Isso também quer dizer que este livro, ou pelo menos a parte onde ele fala das suas obras, será relido naquela mesma altura em que eu esteja a ler alguma das suas obras mundialmente conhecidas. O problema vai ser decidir-me por onde deverei começar, “Neve” e “O meu nome é Vermelho” foram aquelas que mais me aguçaram a curiosidade. Aceitam-se sugestões.

Não sendo uma especialidade deste autor, que é um reconhecido romancista, este livro é um ensaio de fragmentos, escritos, crónicas, arte e dos costumes e tradições da sua Turquia natal, da relação com a família, da vida e de livros.

Na primeira parte, Pamuk fala de si e de algumas histórias relacionadas consigo mas, principalmente, da admiração pelo seu pai, que lhe transmitiu o amor aos livros, do fascínio pela cidade de Istambul (de facto, fala com tanto prazer que até me deixou com água na boca para ir um dia visitar aquele cidade turca) e do amor à sua filha.

Na segunda parte, Pamuk fala do seu amor aos livros, e a alguns escritores que tanto o influenciaram, seja como romancista ou como homem, tais como Borges, Kafka, mas principalmente Thomas Mann e Dostoiévski (penso que já é tempo de eu próprio descobrir este autor).

Enquanto na terceira parte, Pamuk fala, sobretudo, de assuntos políticos, que passa pela integração da Turquia na Europa, como num julgamento, que viria a ser considerado inocente, que teve por causa o “crime” de desrespeitar os costumes da Turquia, na quarta parte são os seus romances que merecem destaque, algumas pequenas “explicações” para a compreensão dos mesmos desde as influências, até como se sentiu ao escrevê-los.

Na quinta parte, Pamuk juntou alguns fragmentos de histórias deliciosas e contos, sendo muito interessante, e curioso para nós ocidentais, a descoberta do mundo Ocidental, dos costumes europeus e americanos, quando ele era criança.

O livro fecha com uma longa e interessante entrevista, um conto inédito e um texto que foi a conferência aquando da atribuição do Prémio Nobel com o título “A mala do meu pai”.

Contendo crónicas bastante interessantes, conseguimos aprender, e admirar, tanto a cultura turca embora ele também não se coíba de a criticar, sentindo-se muita honestidade no amor e admiração que Pamuk tem a Istambul, ao pai, filhos e aos livros, tanto aos que escreve como aos que lê.

Fiquei com imensa curiosidade em conhecer a sua vertente mais conceituada, a de romancista, um autor que, imagino, seja um romancista na linha de um Salman Rushdie que eu tanto adoro. Para quem gosta de ler ensaios, ou crónicas sobre a vida é um livro bastante aconselhável, até por aquilo que aprendemos por uma cultura, também ela, com coisas fabulosas.

9/10 - Excelente

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