sábado, 11 de abril de 2009

Manuscrito De Abraão

TRECHO:
Eu estava descansando sob a sombra do Carvalho de Mambré, junto à tenda, quando vi chegar apressadamente um dos servos de meu sobrinho Ló. Quase sem fôlego, ele passou a relatar-me sobre a tragédia: houvera no dia anterior uma batalha entre as cidades da planície, envolvendo quatro reis contra cinco. Como resultado, Sodoma fora derrotada e muitos de seus habitantes levados cativos, entre eles o meu sobrinho Ló. A notícia deixou-me muito aflito, pois ao mesmo tempo em que sentia que precisaria sair em seu socorro, via-me frágil, sem nenhuma possibilidade de me sair vitorioso.
Sempre fui um homem pacífico e detesto aqueles que derramam sangue. Tenho muitos servos, mas poucos sabem manejar espadas e lanças, pois desde a infância são treinados como pastores. Em lugar de espadas, eles manejam bordões com os quais conduzem os rebanhos. Em lugar de escudos, carregam vasos em suas cinturas, sempre cheios de água fresca para matarem sua sede e refrigerarem as ovelhas cansadas. Em lugar de vinho para se embebedarem, carregam presos em seus cintos pequenas botijas com o azeite das oliveiras, com os quais untam as feridas do rebanho. Em lugar de ressonantes trombetas eles sopram pequenos chifres, com os quais convocam o rebanho para o curral.
Imaginando como seria um combate entre os meus servos e os exércitos daqueles cinco reis vitoriosos, comecei a rir. Enquanto gargalhava, a voz d’Aquele que sempre me guia soou aos meus ouvidos, dizendo:
- Abraão, Abraão! Não menosprezes os instrumentos dos pastores, pois santificados pelo fogo do sacrifício, haverão de conquistar o grande livramento.
O Eterno passou a dar-me ordens, fazendo-me avançar pela fé, sem saber como tal livramento haveria de realizar-se.
O primeiro passo foi a convocação de todos os pastores que, deixando seus rebanhos, dirigiram-se ao Carvalho de Mambré, trazendo seus instrumentos pastoris. Eram ao todo 600 pastores.
Ordenei que esvaziassem os jarros, colocando neles o azeite da botija.
Depois de cumprirem esta ordem, pedi que tomassem cada um a lã de uma ovelha, misturando-a com o azeite dos jarros.
Depois destas coisas, o Eterno mandou-me tomar um grande vaso de barro, enchendo-o até a metade com o azeite das oliveiras.
Ao concluir esta tarefa, o Senhor mandou-me fazer um longo pavio de lã, ficando a metade dentro do azeite e a outra parte presa acima do vaso.
Depois destas coisas, o Senhor ordenou-me acender o pavio com o fogo do altar.
Ao aproximar-me do fogo sagrado que ainda ardia sobre o sacrifício da manhã, uma pequena fagulha saltou para o pavio, e pouco a pouco foi-se alimentando do azeite até tornar-se numa labareda que podia ser vista de longe.

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