A continuidade das acções de promoção da leitura são importantes para a formação e consolidação dos hábitos de leitura, ao nível da motivação por um lado, e do desenvolvimento das competências de leitura.
Assim, no que respeita a motivação, podemos considerar que a continuidade das acções permite:
- a criação e o desenvolvimento de rotinas;
- o reconhecimento das funcionalidades dos espaços de leitura (Biblioteca Pública, Biblioteca Escolar, Livrarias, Associações Culturais);
- a criação de experiências/ memórias afectivas na relação particular do público com os mediadores, cujo papel é distinto daquele que pais ou professores desempenham.
Na perspectiva mais operativa do desenvolvimento de competências, a continuidade permite ao mediador:
- acompanhar a evolução do gosto das crianças e adolescentes;
- seleccionar com maior acuidade as linhas temáticas que melhor cativam cada grupo;
- relacionar os projectos de promoção com a acção de outros mediadores (pais e professores), através de indicações de leitura recreativa ou de treino específico de competências;
- colocar em diálogo os produtos que as crianças produziram no passado com os projectos que realizam no momento.
O caso de Ponta Delgada foi paradigmático.
Todas as crianças que tinham estado connosco no curso Biblioteca em construção, em Julho, lembravam-se de terem andado em busca dos livros escondidos pelos recantos da Biblioteca. Evidentemente, o aspecto lúdico da actividade ganhou relevância para as suas memórias. Se tivesse sido possível realizarmos um projecto de continuidade, testaríamos se ainda se lembravam dos livros que encontraram, se tinham lido algum, e até poderíamos recuperá-los para uma breve apresentação ou leitura.
Curiosamente, houve uma coincidência evolutiva nos ateliers Experiências com Letras, que realizámos em Maio de 2006 e o atelier Contado ninguém duvida, levado a cabo na última semana. À motivação para a leitura de Sam e o Som (Ana Saldanha, Gémeo Luís, Caminho) através do jogo da palavra proibida, no Experiências, seguiu-se a produção de texto a partir de uma lista de palavras que depois se redescobriam no conto «O país dos contrários» (José Eduardo Agualusa, in Estranhões e Bizarrocos, D. Quixote). A partir do léxico, o jovem público imagina contextos para a sua significação, primeiro oralmente, através de descrições de sentido, depois na escrita, organizando a lista numa ficção. O grau de dificuldade aumenta em proporção com a competência de identificar sentidos figurados, metáforas ou parábolas fora do contexto tradicional. O trabalho com a palavra ajuda a leitura, não só ao nível da mobilização de expectativas (porque se quer conhecer o contexto em que as palavras se encontram, confirmar hipóteses, ser surpreendido pela intriga...), como no que concerne o treino da compreensão do texto literário, sem forçar uma exposição oral dos sentidos dos textos.
Também no atelier Palavra Poema se deu continuidade ao trabalho com o léxico, na construção em grupo de um poema a partir de um conjunto de palavras que constituiam a sua rima. O vocabulário proposto serve de suporte para inventar um nexo narrativo, sendo os alunos confrontados com as incoerências de sentido, as dificuldades de estruturação sintáctica, o ritmo. Colocar o leitor perante as dificuldades do processo de escrita ajudá-lo-á a desenvolver as suas competências de leitura de poesia, porque lhe confere uma experiência prática.
A mais valia da continuidade reside precisamente aí, na possibilidade de dotar as crianças e os adolescentes de uma espécie de competência de sensibilidade para a leitura, relativizando o esforço que esta sempre representa.
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