O público mais difícil de motivar para a leitura é, tradicionalmente, o adolescente. Os comportamentos próprios desta fase de crescimento condicionam os jovens a interessar-se por si e pelos seus pares, mais do que por contextos que não os afectam directamente. Paradoxalmente, o mistério, o oculto, o exótico, têm um efeito semelhante ao que o auto-conhecimento provoca no adolescente. Serão estes os polos motivadores da leitura. Partindo deles, podemos explorar o humor, o sentido crítico, e até diversos estilos discursivos. Contudo, uma das condições fundamentais para motivar um adolescente para a leitura é conceder-lhe a autonomia da escolha. E, depois da motivação inicial, o mais difícil será gerir essa autonomia com a responsabilização. Fórmulas, não há.
Fica então a sugestão de um livro que poderá ser trabalhado com adolescentes.
As histórias são curtas, o que é por si só apelativo. A sua dimensão permite aos leitores escolherem quais delas lhes interessarão, o que implica responsabilidade. Algumas das histórias poderão ser lidas em voz alta e discutidas nas sessões.
O contexto angolano poderá ser aprofundado a partir de conhecimentos prévios e com novas informações. O exótico desta diferença levá-los-á, por exemplo, a questões políticas, a hábitos de alimentação, a características espaciais...
A partilha das recordações do narrador com os leitores envolve-os num diálogo em que novas recordações surgirão, em hipotéticos textos produzidos pelos adolescentes, ou até, quem sabe, num portfólio fotográfico sobre a representação afectiva da rua de cada um, como a fotografia da capa sugere.
Tal como o romance «Bom dia, camaradas» (Caminho), este livro de estórias não pode ser catalogado como literatura juvenil. Ainda bem. Porque a ideia de que os adolescentes lêem livros para adolescentes é uma falácia, na medida em que os livros não se fazem segundo catálogos. E também cabe aos mediadores sugerir e divulgar junto dos jovens vários tipos de textos que não estejam fechados no limbo das colecções semi-trabalhadas ou simplificadas. Os adolescentes que lêem «A Lua de Joana» são os mesmos que lêem Harry Potter ou «O Código Da Vinci». E este fenómeno tanto se passa aos 13 como aos 20. Por isso, a nossa função, de leitores adultos, é de sugerir livros e aprender, no terreno, quais aqueles que agradam a uns ou a outros, e ir tentando sempre abrir novas portas de leitura, em partilha.
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