quinta-feira, 24 de julho de 2008

Ray Bradbury - A Cidade Inteira Dorme

ebookTítulo: A Cidade Inteira Dorme
Autor: Ray Bradbury
Gênero: Contos e Crônicas
Editora: Globo
A Editora Globo acaba de lançar A cidade inteira dorme, coletânea de treze contos dos mais representativos do prolífico e premiado Ray Bradbury, em tradução de Deisa Chamahum Chaves e com prefácio de Carlos Vogt. Ray Bradbury não gosta de ser referido como autor de ficção científica. E por um bom motivo: ele não é um autor de ficção científica. Ao menos segundo o senso comum sobre o gênero, baseado em fantasias futuristas nas quais a descrição dos artefatos, da tecnologia, é fundamental. Ao contrário, em Bradbury o fundamental é a condição humana de seus personagens. Neste sentido, ele é uma espécie de Georges Simenon, vulgarmente tido por autor policial quando é, de fato, um romancista psicológico. Enquanto Bradbury é, afinal, um autor político. Não por acaso, seu livro mais justamente famoso, Farenheit 451 (filmado por Truffaut), forma, ao lado de 1984 de Orwell e de Admirável mundo novo de Huxley, a grande trilogia sobre a distopia (ou anti-utopia) moderna. Bradbury é, ainda, um mestre da história curta. Por fim, é um grande escritor, que usualmente funde a descrição mais detalhista às metáforas mais surpreendentes. A síntese de todas essas características pode ser vista em contos como O pedestre, desta coletânea (pp. 160-166).

Um homem caminha à noite pelas ruas de uma cidade qualquer. O inusitado é que não há absolutamente nada e ninguém nessas ruas: ninguém sai de casa à noite. Não por medo, pois não há mais crimes. Mas, conforme fica subentendido, porque a vida social perdeu todo o sentido. Apenas esse homem sai à noite para caminhar sozinho (a descrição inicial, de seus passos silenciosos, com os pés calçados de tênis, e do ar frio entrando em seus pulmões, é simplesmente magistral). O único aspecto tecnológico do conto é um carro de polícia-robô (o único da cidade pacificada, aliás), que o interpela e o prende, por ele demonstrar tendências regressivas em seu hábito noturno. Mais uma vez como Simenon, que usa a investigação de um crime como o caminho mais curto para a descrição psicológica de seus personagens, Bradbury utiliza o futuro (O pedestre se passa em 2053) para apresentar tipos humanos em situações-limite, por um lado, e por outro, para fazer uma crítica não panfletária, mas política no sentido mais lato, de certas características do mundo contemporâneo. Numa síntese rara entre imaginação, maestria literária, humanismo e, conforme destaca Carlos Vogt no prefácio, melancolia.

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