sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O importante é SER, feliz!!!

A música me acompanha desde menino. Não por acaso. A família sempre esteve por perto dando uma força nos momentos mais inesperados. Lembro agora o quão foram importantes a atenção musical que recebi (entre outros familiares) de dois primos entre a infância e a juventude. Tive um professor de violão que me ensinou os primeiros acordes e canções do paraibano Zé Ramalho. Ali, a música que ouvia dos acalantos da minha mãe com a sua voz doce ganhou outros ares. Eu descobria que poderia reproduzir aquilo que fazia o meu peito bater mais forte. Passei a ter curiosidade sobre tudo que cercava o universo musical. Foi ali, naqueles tempos de menino, que ganhei dois LPs de um primo mais velho: o OUTRAS PALAVRAS, de Caetano Veloso e uma coletânea com músicas de CHOPIN. Eu não tinha maturidade para tudo aquilo, mas adorava ouvir Lua e Estrela, Rapte-me Camaleoa, Outras Palavras e Dans mon ilê – que eu não entendia nada da letra em francês, mas gostava do som. Perto de casa, tinha um bar chamado Badauê – coisa de baianos – e uma canção de caetano (Sim / Não, que balançava o meu juízo com seus vocais e violões) falava de Badauê, Zanzibar e Ilêayê. Eu me esmerava para - menino - aprender os acordes e a batida. O Chopin me incomodava um pouco com aquela tristeza toda, mas foi com ele que aprendi que as canções podiam ser belas e tristes. Foi minha primeira incursão no mundo da música clássica. Nascia ali um fã deste estilo e um admirador e colecionador da obra de Caetano Veloso. Anos depois, num dos meus aniversários, o funcionário dos correios entregou uma encomenda inusitada enviada por uma prima querida: embrulhada em papel pardo uma caixa azul guardava 13 LPs. Simplesmente, a coleção dos Beatles. Ouvir aquele som foi algo assustador, revolucionário, instigante mesmo quase 20 anos após o fim da banda. Definitivamente moveu minha vida para os caminhos da música. Eu só tenho a agradecer estes dois primos por perceberem minha vocação e com seu carinho e atenção me ajudaram – mesmo sem querer – a escolher este caminho.

Foi também com a ajuda da família que o garoto Jimmy Jibbett encontrou sua vocação. O pequeno Jimmy sonhava em ser um grande cartunista. Desde cedo, criava seus próprios quadrinhos, com personagens e histórias próprias. Mas tinha uma frustração enorme: não conseguia desenhar mãos perfeitas. Tinha dificuldades em criar dedos próximos do real. E isso era um obstáculo para o sucesso dos seus quadrinhos. A família de Jimmy não era bem um exemplo e inspiração para o menino: o pai era uma figura ausente mesmo quando estava em casa. Sua mãe, vivia enfurnada no estúdio da casa, criando figurinos. A irmã mais velha tinha uma personalidade que dominava a cena – mandando em todos - e a mais nova adorava tudo que o irmão fazia. Este, por fim, sofria com estas “distâncias” e, conseqüência disso, fugia o quanto podia do carinho da caçula. O talento do menino para contar e desenhar histórias também era admirado secretamente pela irmã mais velha, mas ignorado pelos demais.


O único incentivador e espelho para a vida de Jimmy, de fato, era o tio Lester, um compositor brilhante, mas sem reconhecimento – o que o transformava num tipo perdedor para a família (menos para Jimmy). Foi exatamente este tio que incentivou o sobrinho a seguir em frente com o seu talento. A vida do pequeno Jimmy, seus problemas familiares, escolares, seus questionamentos pessoais sobre a sua vocação “precoce”, a busca da sua auto-afirmação e um monte de histórias curtas bem legais são os ingredientes que fazem o sucesso de O HOMEM NO TETO (Jules Feiffer, Cia das Letras) um livro pra lá de especial. Estão lá personagens como o MiniMan, o Cabeça de Bala e o Urso Sabido, este último, personagem de um enredo simples, criativo e genial. Não sei se foi por tratar das dificuldades que a vida oferece para quem quer se tornar um artista – acho que há dificuldades em todas as profissões – ou pela idéia de que o sucesso é a soma de muitos fracassos (acabo de ver a Maurren Maggi saltar para a medalha de ouro nas olimpíadas de Pequim). A verdade é que eu devorei as 200 páginas do livro com a rapidez e felicidade de quem saboreia um pedaço de pudim. Saborosa do início ao fim, a história de Jules Feiffer fala direto ao coração do leitor – seja adulto ou criança.

O texto, repleto de surpresas e metáforas, por vezes dá espaço para as ilustrações de Jules e para os desenhos do personagem (ilustrados pelo autor) e é assim – com uma imagem do pequeno Jimmy - que o livro termina. Vale por mil palavras. Me arrepiou os pêlos. Me fez lembrar sensações que tive ao ouvir pela primeira vez GOLDEN SLUMBERS dos Beatles, o NOTURNO op. 9 n 2 de Chopin e NU COM A MINHA MÚSICA de Caetano. Ah, quantas vezes “Penso em ficar quieto um pouquinho / Lá no meio do som / Peço salamaleikum, carinho, bênção, axé, shalom / Passo devagarinho o caminho / Que vai de tom a tom / Posso ficar pensando no que é bom”. Estou certo de que - no seu mundo fantástico - Jimmy Jibbet é um cartunista feliz. Como sou feliz com a minha música. Hatuna Matata.


P.S. Nesta última imagem, Jules Feiffer desenha Jimmy e o tio Lester (observando os desenhos do sobrinho).

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