Foi também com a ajuda da família que o garoto Jimmy Jibbett encontrou sua vocação. O pequeno Jimmy sonhava em ser um grande cartunista. Desde cedo, criava seus próprios quadrinhos, com personagens e histórias próprias. Mas tinha uma frustração enorme: não conseguia desenhar mãos perfeitas. Tinha dificuldades em criar dedos próximos do real. E isso era um obstáculo para o sucesso dos seus quadrinhos. A família de Jimmy não era bem um exemplo e inspiração para o menino: o pai era uma figura ausente mesmo quando estava em casa. Sua mãe, vivia enfurnada no estúdio da casa, criando figurinos. A irmã mais velha tinha uma personalidade que dominava a cena – mandando em todos - e a mais nova adorava tudo que o irmão fazia. Este, por fim, sofria com estas “distâncias” e, conseqüência disso, fugia o quanto podia do carinho da caçula. O talento do menino para contar e desenhar histórias também era admirado secretamente pela irmã mais velha, mas ignorado pelos demais.
O único incentivador e espelho para a vida de Jimmy, de fato, era o tio Lester, um compositor brilhante, mas sem reconhecimento – o que o transformava num tipo perdedor para a família (menos para Jimmy). Foi exatamente este tio que incentivou o sobrinho a seguir em frente com o seu talento. A vida do pequeno Jimmy, seus problemas familiares, escolares, seus questionamentos pessoais sobre a sua vocação “precoce”, a busca da sua auto-afirmação e um monte de histórias curtas bem legais são os ingredientes que fazem o sucesso de O HOMEM NO TETO (Jules Feiffer, Cia das Letras) um livro pra lá de especial. Estão lá personagens como o MiniMan, o Cabeça de Bala e o Urso Sabido, este último, personagem de um enredo simples, criativo e genial. Não sei se foi por tratar das dificuldades que a vida oferece para quem quer se tornar um artista – acho que há dificuldades em todas as profissões – ou pela idéia de que o sucesso é a soma de muitos fracassos (acabo de ver a Maurren Maggi saltar para a medalha de ouro nas olimpíadas de Pequim). A verdade é que eu devorei as 200 páginas do livro com a rapidez e felicidade de quem saboreia um pedaço de pudim. Saborosa do início ao fim, a história de Jules Feiffer fala direto ao coração do leitor – seja adulto ou criança.
O texto, repleto de surpresas e metáforas, por vezes dá espaço para as ilustrações de Jules e para os desenhos do personagem (ilustrados pelo autor) e é assim – com uma imagem do pequeno Jimmy - que o livro termina. Vale por mil palavras. Me arrepiou os pêlos. Me fez lembrar sensações que tive ao ouvir pela primeira vez GOLDEN SLUMBERS dos Beatles, o NOTURNO op. 9 n 2 de Chopin e NU COM A MINHA MÚSICA de Caetano. Ah, quantas vezes “Penso em ficar quieto um pouquinho / Lá no meio do som / Peço salamaleikum, carinho, bênção, axé, shalom / Passo devagarinho o caminho / Que vai de tom a tom / Posso ficar pensando no que é bom”. Estou certo de que - no seu mundo fantástico - Jimmy Jibbet é um cartunista feliz. Como sou feliz com a minha música. Hatuna Matata.
P.S. Nesta última imagem, Jules Feiffer desenha Jimmy e o tio Lester (observando os desenhos do sobrinho).
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