quarta-feira, 7 de março de 2007

Ver para Crer em Vila Franca de Xira

Ontem o Bicho foi à Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, para realizar o atelier Ver para Crer, com uma turma do 3º ano do 1º ciclo. O grupo tinha manifestas dificuldades tanto ao nível da competência da fala (expressividade e clareza na dicção) como ao nível da leitura. Os índices de concentração dos alunos era muito baixo e a motivação, como se pode imaginar, limitada a estímulos imediatos. Por isso, o nosso atelier mais vezes trabalhado e com elevado sucesso, não surtiu os efeitos esperados.
Perante a apresentação dos livros e o suspense por mim criado em torno do desenvolvimento das narrativas, o grupo não reagiu de forma expansiva, e os votos foram escassos. «O Gato e a Rainha Só» (Carla Maia de Almeida, Caminho) despertou mais interesse que os restantes. «O Bebedor de Tinta» e «As Crónicas de Spiderwick» ficaram muito aquém dos 'rankings' habituais.
Todavia, este atelier permitiu-me analisar outros aspectos deveras importantes. Ao contrário do que normalmente acontece, estes alunos não estavam ainda formatados pela pressão da ideia certa e errada, pelo que reagiam em força e com naturalidade quando os estimulava a imaginarem a continuação de cada uma das histórias. Embora tenham bastante dificuldade em identificar a lógica narrativa, mesmo que esta lhes seja contada e não lida, facilmente imaginam razões para justificar os elementos pictóricos das capas. Repararam, por exemplo, nas chaves que a Rainha trazia presas ao cinto do vestido. Sabendo que o Gato passa por três Terras, imediatamente concluiram que as chaves pertenciam a cada uma dessas terras. Quanto ao nariz vermelho da rainha, este devia-se possivelmente a uma alergia ao próprio gato.
No exercício de correspondência entre as primeiras páginas, as capas e os títulos, os alunos foram mais céleres do que seria de supor, porque localizaram com relativa facilidade a informação de que necessitavam.
Localizar informação em scanning será muito útil aos alunos na sua vida prática, já que lhes vai permitir responder a instruções e necessidades do quotidiano. Isto significa que temos de adaptar o ensino da competência de leitura à realidade social do grupo que temos pela frente, e que o seu desinteresse e as suas fragilidades resultam mais do meio familiar em que estão inseridos do que de dificuldades cognitivas.
Para colmatar as deficiências que estas crianças vão sentir no que respeita a sensibilidade artística e cultural, uma estratégia poderá passar pelo estímulo através da imagem, da ilustração ou da pintura para chegar ao símbolo e à narrativa.
Este atelier ensinou-me mais. Apesar de não ter sentido o prazer do êxito, este grupo deu-me a possibilidade de reflectir e adaptar o nosso trabalho a outras realidades, que tanto precisam de atenção.

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