quarta-feira, 27 de junho de 2007

Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago

Embora tenha sido o seu romance "Evangelho Segundo J.C." aquele que tanto escandalizou e incomodou tanta gente santa e que tanto imbróglio criou, foi com o "Ensaio sobre a Cegueira" que Saramago mais mexeu com a consciência colectiva, a diferença é que este romance não toca em crenças ou na Madre Igreja (Amém) e, agora, Saramago também já era um escritor consagrado e era certo a asneirola que Lara havia feito quando correu com ele.
Pois quem ler este romance, de certo se sentirá incomodado, pelo menos irá pensar um bocadinho.
Assim e no seu estilo, aliás, no seu melhor estilo, Saramago põe a nu a porcaria que é a nossa sociedade, cheia de invejas, hipocrisias e cinismo, onde nem os políticos são poupados.
Exemplar e genial são as referências que Saramago vai usando ao longo do romance sem que demos conta disso. Apenas sobressaem quando paramos para pensar no alcance da obra e é aí que facilmente identificamos alusões aos campos de concentração nazis, à visão bíblica sobre os cegos conduzindo outros cegos, à obra "Peste" de Eramus e também presente está a obra de Homero "Ilíada" aquando das constantes referências à mulher do médico, pondo-a na pele de Eneias. E é precisamente na figura da mulher do médico que sobressai a grande heroína de Saramago, poderosa cuja identidade com Blimunda ou Maria Madalena é clara e onde Saramago completa o seu trio de heroínas.
Por fim gostaria de referir uma frase de José Leon Machado que caracteriza na perfeição o romance: "O livro marca de tal forma o leitor que difícil será para este livrar-se da visão e do cheiro de tanta miséria e de tanta merda que, no fundo, caracterizam este mundo. Mundo que, para não a ver e para não a cheirar, constrói tapumes de cartão e espalha perfumes à volta".
Ilucidativo!

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