quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

EM PRIMEIRA MÃO | "Gossip Girl" de Cecily Von Ziegesar


s tem um golpe de génio

— Para que ilha vamos, afinal? — perguntou Blair Waldorf à mãe. Eleanor Waldorf Rose estava empoleirada na beira da cama de Blair, observando a filha a arranjar-se para a escola enquanto discutiam as férias da Páscoa.
— Ah, querida, Oahu. Julgava que te tinha dito. Vamos para aquela estância na Costa Norte, para que os rapazes possam aprender a fazer surf. — Eleanor colocou as mãos em torno da barriga, de quase sete meses, e franziu as sobrancelhas na direcção das paredes pintadas de creme, como se estivesse a querer captar a preferência do bebé em relação ao papel de parede. O parto estava previsto para Junho e Blair entraria de férias pouco tempo depois. Hoje, Eleanor e o decorador iriam discutir o seu plano para transformar o quarto de Blair num quarto de bebé.
— Mas eu já estive em Oahu — lamentou-se Blair com um certo dramatismo. Há semanas que sabia que iam para o Havai durante as férias da Páscoa, mas, até agora, não pensara em perguntar para onde. Deu um pontapé na cómoda de mogno antiga para fechar a gaveta e deixou-se ficar em frente ao espelho colocado na parte de trás da porta do roupeiro, aperaltando-se. O cabelo castanho, muito curtinho, mantinha-se impecavelmente desgrenhado; a camisola de malha branca de decote em V era suficientemente sugestiva para mostrar um pouco do peito sem ter de se preocupar com a eventualidade de a Sra. M, a directora da escola, a poder mandar recambiada para casa por andar vestida como uma pega; e as suas novas sabrinas Sigerson Morrison azul-turquesa ficavam lindamente sem meias, apesar de o mês de Março se apresentar invulgarmente gélido e ir rapar um frio dos diabos. — Quero ir para um sítio diferente — acrescentou, reflectindo no espelho o seu ar contrariado, enquanto punha uma segunda camada de gloss Chanel nos lábios.
— Eu sei, bonequinha. — A mãe deslizou da cama e agachou-se para observar melhor uma tomada de electricidade com um ar particularmente perigoso junto ao rodapé, perto da janela. Uma vez terminada a decoração deveria mandar vir alguém para proteger todos os cantos da casa. — Mas nunca foste à Costa Norte. O Aaron diz que o surf lá é do melhor do mundo.
Para surpresa de Blair, a mãe envergava umas calças de fato de treino de veludo cremes com a palavra Suculento estampada no rabo.
Hello, inapropriado?!
— Será que já não conto para nada? — perguntou Blair. Tirou a sua sacola Dior de pele azul-bebé do roupeiro e colocou as coisas da escola lá dentro. — Primeiro tiras-me do quarto e agora não tenho nada a dizer acerca do nosso destino de férias?
— Os rapazes devem estar a comprar umas coisas de surf para a nossa viagem. Talvez queiras dar uma vista de olhos no computador do Aaron. Ver se gostas de alguma coisa — respondeu a mãe distraidamente. Estava de gatas agora, deambulando pelo quarto para verificar a existência de eventuais perigos que pudessem estar ao alcance do bebé. — Sabes uma coisa, estava a pensar em alperce para a paleta de cores — é um tom de menina, mas sem ser demasiado rosa. Mas agora estou a pensar que um amarelo-esverdeado talvez fosse ainda mais bonito. Endívia.
Blair já tinha que chegasse. Não queria ir para a Costa Norte de Oahu, não tinha qualquer interesse em comprar equipamento de surf, não queria falar sobre paletas de cores para o estúpido quarto do bebé e muito menos ficar a olhar por muito mais tempo para a palavra Suculento estampada no grande rabo de grávida da sua mãe. Colocando uma última borrifadela do seu perfume favorito Marc Jacobs, saiu para a escola sem se dignar a dizer adeus.
— Iô, Blair. Chega aqui! — gritou do quarto o filho do padrasto, Aaron, de dezassete anos, no momento em que passou por ele.
Blair parou e enfiou a cabeça no quarto. Aaron e o irmão dela de doze anos, Tyler, estavam a partilhar a cadeira de secretária de fibras naturais de Aaron — muito fraternalmente — enquanto iam encomendando online vários artigos de surf com o cartão de crédito de Cyrus Rose. Tyler tinha deixado de pentear o cabelo para ficar com os mesmos canudos de Aaron e parecia que tinha uma espécie de fungo capilar de aspecto horrível. Blair não queria acreditar que era este o quarto onde teria de viver até ir para a faculdade. A colcha de cânhamo e o tapete natural de fibra de algas de Aaron tinham por cima velhas capas de álbuns de reggae, garrafas de cerveja e as roupas sujas de Aaron, e o quarto cheirava a cigarros de ervanária, bem como a esses revoltantes cachorros de soja que ele estava sempre a comer — crus.
— Qual é o teu tamanho? — perguntou Aaron. — Podíamos encomendar uma camisola térmica para ti. Evita que a prancha se desgaste com o atrito.
— Há cores muito fixes — acrescentou Tyler com entusiasmo. — Verde-néon e tons do género.
Como se Blair fosse alguma vez apanhada de verde-néon, para já não falar de uma camisola térmica verde-néon.
Sentia o lábio inferior a tremer num misto de horror e imensa dor. Aqui estava ela, às sete e quarenta e cinco da manhã, quase à beira das lágrimas.
— Encontrei-os! — vociferou o seu horrífico padrasto, Cyrus Rose, atrás dela. Saíra do quarto principal e vinha a bambolear-se pelo corredor envergando apenas um roupão de seda vermelho atado com um nó perigosamente frouxo. O seu bigode ralo e grisalho precisava de ser aparado e a sua cara redonda apresentava-se vermelha e oleosa. Acenou para Blair com um par de calções de banho cor de laranja, tamanho gigante. Os calções tinham uns pequenos peixes azuis estampados e até que ficariam engraçados em qualquer pessoa menos nele.
— Gosto imenso deles. Meninos, podem encomendar-me uma camisola térmica a condizer? — anunciou com um ar feliz.
A ideia de passar as férias da Páscoa a ver Cyrus a fazer figura de parvo numa prancha de surf, vestido com os seus calções cor de laranja e uma camisola térmica a condizer, era suficiente para que Blair se pusesse a derramar lágrimas verdadeiras. Escapou pelo corredor até à entrada, tirou o casaco do armário e apressou-se a ir ter com a sua melhor amiga. Por certo que Serena pensaria nalguma coisa — qualquer coisa — para animá-la.
Como se isso fosse ainda possível.
__________
Cecily Von Ziegesar
Gossip Girl-É Assim que Eu Gosto (volume 5)
Bizâncio, 12,50€

Nenhum comentário:

Postar um comentário