Como todos os países do mundo, também Marrocos no início do século XX era bem diferente do que hoje conhecemos. No entanto, quando em 1919 Edith Wharton publicou a primeira edição do seu “Relato em Marrocos” já então antevia a enchente de turistas de hoje e o risco de desvirtuamento que poderia provocar. “Marrocos é um país demasiado curioso, demasiado belo, demasiado rico em paisagens e arquitectura e, acima de tudo, uma novidade demasiado grande para não atrair uma das principais correntes de viagens de Primavera assim que se possa retomar o tráfego de passageiros no Mediterrâneo. (…) Apesar dos esforços constantes da administração do general Lyautey para preservar os antigos monumentos de Marrocos e as artes e ofícios nativos da corrupção do mau gosto europeu, a impressão de mistério e distância que o país agora dá deve inevitavelmente desvanecer-se com o advento do ‘Bilhete Circular’», escreveu então no prefácio.Não se enganou a escritora norte-americana, autora de obras célebres como “A Idade da Inocência”, pela que recebeu, inclusive, o Prémio Pulitzer. Talvez por isso, ler “Relato em Marrocos”, resultado da viagem de Wharton em 1917, quando decorria ainda a I Guerra Mundial, é, mais do que uma viagem ao passado, um inevitável exercício de confrontação com o presente. Tudo mudou… mas terá mudado assim tanto?
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Edith Wharton
Relato em Marrocos
Publicações Europa-América, 14,90€
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