PREFÁCIO
A MAIORIA dos ensaios dêste volume foi escrita nos últimos
dez anos. O mais extenso, porém – O Dogma de Cristo –, foi
publicado pela primeira vez, em alemão, em 1930. O Professor
James Luther Adiams, da Faculdade de Teologia de Harvard,
traduziu-o há vários anos, sugerindo-me publicá-lo, num
volume, junto com outros trabalhos. Embora não concordasse
com muitas de minhas conclusões, o professor julgava que o
método e a argumentação tinham um interêsse intrínseco
bastante para justificar a publicação em inglês. Hesitei muito
em republicar esta manifestação antiga de meu pensamento, e
as razões são óbvias.
Em primeiro lugar, este ensaio foi escrito num período em que
eu era rigorosamente freudiano. Desde então, minhas opiniões
em Psicanálise modificaram-se bastante, e muitas das
formulações dêste ensaio seriam diferentes, se as escrevesse
hoje. Além disso, acentuei unilateralmente, neste trabalho, a
função social da religião como substituta da satisfação real e
como meio de contrôle social. Embora não se tenham
modificado minhas opiniões sôbre isso, hoje eu daria maior
destaque ao fato de que a história da religião reflete a história
da evolução espiritual do homem. Uma segunda razão está no
fato de ser-me impossível reestudar hoje a totalidade do
complexo material histórico analisado neste trabalho. Além
disso, muitos livros sôbre a história antiga do Cristianismo
foram publicados desde 1930, e qualquer revisão de O Dogma
de Cristo teria de levá-los em conta. Li muito do que se
publicou desde então, e alguns escritos, como The Formation
of Christian Dogma, de Martin Werner, pareciam apoiar, de
forma indireta, a minha interpretação. Reescrever, porém, a
totalidade dêste ensaio estava acima de minhas fôrças.
Concordei com a sua publicação na forma original quando
Arthur A. Cohen, da editôra Holt, Rinehart e Winston,
estudioso da Teologia e da Filosofia, insistiu, juntamente com
o Professor Adams, para que eu o apresentasse ao público de
língua inglêsa. Desnecessário dizer que a responsabilidade
dessa decisão cabe a mim sómente, e não a êles.
Ao que me consta, êste foi o primeiro trabalho em que se
procurou transcender a interpretação psicológica dos
fenômenos históricos e sociais, comum na literatura
psicanalítica. Estimulou-me o trabalho sôbre o mesmo
assunto, escrito por um de meus professores do Imstituto
Psicanalítico de Berlim, Dr. Theodor Reik, que empregou o
método tradicíonal. Procurei mostrar que não podemos
compreender as pessoas pelas suas ideias e ideologias, que só
podemos compreender ideias e ideologias compreendendo as
pessoas que as criaram e nelas acreditam. Para isso, temos de
transcender a psicologia individual e penetrar no campo da
psicologia psicanalítico-social. Assim, ao tratarmos das
ideologias, temos de estudar as condições sociais e
econômicas das pessoas que as aceitaram e procurar
identificar o que mais tarde chamei de “caráter social”.
Êste estudo se ocupa particularmente da análise da situação
sócio-econômica dos grupos sociais que aceitaram e
difundiram os ensinamentos cristãos. Sómente à base desta
análise tentamos uma interpretação psicanalítica. Quaisquer
que sejam os méritos dessa interpretação, o método de
aplicação da Psicanálise aos fenômenos históricos foi
desenvolvido em meus livros posteriores. Embora tenha sido
aperfeiçoado sob muitos aspectos, seu núcleo está em O
Dogma de Cristo de tal modo que, espero, seja ainda
interessante.
Examinei a tradução do Professor Adams, e compreendo a
dificuldade de passar para o inglês o meu alemão pesado e
acadêmico. Fiz pequenas modificações de palavras, mas resisti
sempre à tentação de modificar o conteúdo. Embora muitas
vêzes tivesse desejado substituir minha opinião antiga pelas
que hoje mantenho, pareceu-me que a revisão parcial não
teria sido honesta para com o leitor.
Os demais ensaios dêste livro não precisam de comentários.
Em A Medicina e o Problema Ético do Homem Moderno e O
Caráter Revolucionário, que na forma original eram
conferências, fiz pequenas modificações para a publicação
destinada a um público geral. Em Sexo e Caráter eliminei
simplesmente o que me pareceu ser repetição ociosa.
Agradeço ao Professor James Luther Adams pelo amor com
que traduziu para o inglês O Dogma de Cristo, e a Arthur A.
Cohen e Joseph Cunneet pela sua assistência editorial.
E. F.
Nova Iorque, 1963.
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