Foi exatamente no dia 19 de abril de 1994 que comprei o primeiro livro infantil para Ana Cecília, minha filha, então com seis anos. Lembro como se fosse ontem. Deliciosamente, foi um livro de Jô Oliveira: Kuarup, a festa dos mortos – lenda dos povos indígenas do Xingu. Ele era meu professor no curso de Artes Plásticas da UnB e convidou a turma para o lançamento do livro que aconteceu inusitadamente numa loja do McDonald’s aqui
Nossa sala, na Creche Comunitária da Criança, ainda está sofrendo os ajustes e, mais uma vez, recebemos as crianças na área externa, à sombra de uma árvore. A sombra quase foi completamente ocupada pois havia um número maior de crianças do que na semana passada, embora ainda não fossem as 30 desejadas. É que algumas ainda não souberam da retomada do projeto. Outras, mesmo sabendo, ainda não apareceram. Mas, novas crianças aportaram por lá. Com isso, o projeto segue enriquecido de olhares curiosos.
Comecei os “trabalhos” falando do meu reencontro com o livro infantil há 14 anos naquele lançamento do Kuarup. Mostrei o livro, o maracá e falei que dia desses vou levar o Jô Oliveira para mostrar seus livros no projeto. O livro passou de mão
Para encerrar a mediação, escolhi ler O Calça Molhada, do livro Amazonas – no coração encantado da floresta (Thiago de Melo, Cosac & Naify). O conto fala sobre o boto cor-de-rosa (ou avermelhado) e seu poder de sedução. Conversamos sobre outros mitos indígenas e as crianças puderam dividir conosco o que ouviram em sala de aula esta semana. A sombra da árvore nunca aprendeu tanto quanto naquela manhã.
Depois de tanta conversa, abrimos o baú. De lá, saíram vários livros, mas o que mais impressionou as crianças foi O Livro das Árvores (feito pelo povo indígena Ticuna, organizado por Jussara Gomes Gruber, Global). Os olhos brilhavam ao folhear as ricas ilustrações, porém não havia tempo para mais histórias. Foi então que saiu a frase que valeu o dia. Talvez, o ano.
Era hora das crianças escolherem os livros para levar para casa quando ouvimos: “Tia, um livro é pouco para uma semana”. E assim, a partir daquele sábado, elas passam a levar para casa dois livros por semana. Sobre isso a Edna escreveu: “Desde o princípio de nosso projeto, o livro foi apresentado das mais variadas formas no sentido de promover o gosto, o encantamento pela leitura entre essas crianças carentes de emoções prazerosas. Emoções essas que, sabemos, uma leitura pode proporcionar. Hoje, nossa alegria é real. Em nossas crianças, a leitura é fonte de prazer”.
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