Ele me chamou a atenção pela capa. Saltava aos olhos. Uma jóia visual no meio da seção de discos infantis com capas horríveis. Achei o nome óbvio demais porém, irresistível para quem gosta de histórias. Ao fundo, nenhuma informação concreta sobre o conteúdo. "Apenas" o aval de uma personalidade quando pensamos que é possível tratar a criança com respeito e inteligência: Sandra Peres, do Palavra Cantada. Ao final da breve apresentação ela afirma que "o CD Contos de todos os cantos é simplesmente encantador". Resolvi apostar na intuição e nas palavras de Sandra. O CD veio na sacola acompanhando livros e a minha curiosidade. Ao chegar em casa, rasguei o plástico e deitei o olhar sobre o encarte rico em informações. Mais um ponto para a produção. O disco em questão leva a assinatura de Renata Mattar, estudiosa de música popular, e de Giba Pedroza, contador de histórias que se apresentava a mim naquele momento.
Ao ouvir o disco, o tempo parou. Parou para ouvir comigo as histórias e as músicas que a dupla complilou. Histórias como O Par de Sapatos, do maravilhoso livro Contos da Rua Brocá, poemas pescados de Gianni Rodari em seu Livro dos Porquês, histórias de Nasrudim, O Pote Vazio, que conhecemos no texto de Demi e canções que vão deitando em nosso colo e nos embalando como Verde, Verde, Olará e Povero Grillo. A Produção Artística (assim em maiúsculas, mesmo) foi de Gustavo Finkler. O mesmo que ajudou a colorir com talento e qualidade os trabalhos do grupo gaúcho Cuidado Que Mancha como A Mulher Gigante e A Família Sujo.
Por uma coincidência daquelas que a gente não consegue explicar, encontrei Giba, Renata e Gustavo no último dia da minha recente visita à Porto Alegre. Meu anfitrião recebeu uma ligação de Giba, informando que, ainda naquela tarde, iria apresentar o espetáculo que deu o mote para o CD (ou vice versa) no espaço cultural do grupo Cuidado que Mancha. Incrível!!! Dias antes havia confessado a André a Lenice Gomes as delícias que a voz de Giba e as canções de Renata me fizeram provar ao ouvir o disco. Agora, eles estavam ali. Coisa de louco! Fomos à tardinha para lá e eu ainda iria me encantar com tanta coisa...
Primeiro, o espaço que o grupo Cuidado que Mancha coordena é incrível. Algo como um casarão daqueles antigos com dois andares, várias salas, pisos de madeira e um bom gosto raro na decoração. Me senti em casa. A sala de espera exibia fotos dos cursos que ali acontecem, figurinos, conforto e - principalmente - muita gente trabalhando antes do espetáculo para que tudo desse certo. Nada de amadorismo. Hora do show!!!
O público (talvez umas 20 pessoas entre pais e filhos e avós e nós) colou os ouvidos na voz hipnótica e nos gestos miúdos de Giba. O homem precisa de apenas dois metros quadrados para jorrar histórias e travalínguas que contagiam a todos. Na companhia de Gustavo Finkler ao violão e voz (impecável no papel da velha!!!) e de Renata Mattar no acordeon, na percussão e na voz, Giba Pedroza mostrou a força que uma história alcança na voz poderosa de um verdadeiro contador. Naquele fim de tarde só faltou o conto chinês O Velho (o meu preferido no CD), mas sobraram tantas outras coisas que eu posso afirmar a vocês: se os três aparecerem por aí para contar histórias, vá! Leve seus filhos, leve seus pais. Se, por acaso, eles demorarem a aparecer, leve o CD para casa, desligue a TV, apague a luz, encontre uma posição confortável, feche os olhos e aperte o play. O mundo vai entrar por seus ouvidos, parar o tempo e perfumar o seu dia com ótimas histórias. Hatuna Matata!!!
Por fim, encantem-se um pouco com a apresentação do CD que pesquei no youtube e deixo aqui embaixo:
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
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