Uma das coisas que eu adoro fazer é visitar depósito de distribuidor de livros. São neles que se encontram os recheios das prateleiras das livrarias e as bibliotecas escolares. Em Brasília tem um em especial, com dois corredores entupidos de estantes repletas de literatura infantil, de editoras diversas, que eu e Ana Paula visitamos sempre que possível para conhecer as novidades e também para comprar algum livro com desconto. Gosto muito de caminhar devagar por aqueles corredores e fuçar as estantes sentindo aquele cheiro de livro novo (sim, os Roedores de Livros percebem este perfume, assim como a maioria de nós percebe aquele cheirinho de carro novo). Sempre que isso acontece, a gente volta para casa mais feliz e com alguns exemplares. Em nossa mais recente passagem por lá trouxemos ótimos livros. Um em especial me despertou para escrever este texto: chama-se Muito pano pra manga (Maria Amália Camargo, com ilustrações de Sônia Magalhães, Girafinha).
O primeiro livro de Maria Amália Camargo que chegou por aqui foi o Laranja-Pêra, Couve Manteiga (ilustrações de André Neves, Girafinha). Desde então, nos encantamos com a maestria da escritora em brincar com os significados diversos que podem habitar numa palavra. Seu texto é uma deliciosa brincadeira que relaciona os produtos de uma grande feira alimentícia com diversos tipos de consumidores. Para o economista, melhor levar dois em um, é claro! Por isso, em sua lista de compras não faltam Banana-maçã e Tomate cereja. Na cesta do metereologista tem sempre lugar para Bolinho de chuva e Claras em neve. Ainda vão à feira de Maria Amália Camargo o pão-duro, o médico, o diplomata, a veterinária e outros tipos curiosos. Cuidadosa com sua xepa, ela ainda contruiu o texto com muito ritmo, rimas e bom humor. Por fim, as ilustrações de André Neves - que caprichou nas texturas e colagens – oferecem mais beleza ao livro.
Quando Muito pano pra manga saiu da sacola para pousar em meus olhos roedores de livros voltei – por alguns instantes – aos tempos de criança quando a sala de casa ficava repleta daqueles papéis com linhas coloridas, tracejadas ou não, que minha tia e minha mãe rapidamente transformavam em roupas numa alquimia estranha entre aqueles “mapas”, linhas e tecidos. Depois desta breve visita ao passado, motivada pelas ilustrações de Sônia Magalhães, rica em desenhos e colagens alusivas ao mundo da Moda, mergulhei nos achados de Maria Amália Camargo. Desta vez a feira do livro anterior deu lugar ao universo do bem-vestir. Mas aqui permanecem o ritmo, a rima e o bom humor. A excelência do texto lista uma série de associações criativas entre nomes de penteados, peças de roupa, maquiagem e o que fazer com elas ou o para quê serve. A gente passa a página e fica com um riso meio que preso no canto da boca meio que pensando: “quero me vestir com essas palavras no próximo passeio. Assim, me sentirei mais bonito, inteligente e elegante”.
O que dizer de “… faça chuva ou faça sol, não pode faltar bolero em casamento espanhol”. Para andar na moda, segue uma regra de etiqueta: “Para comer escargot, cabelo encaracolado”. Gostei do que li, vi e ouvi. Pois é. Ouvi! Logo na abertura do livro, dei de cara com um trecho de Com que roupa, composição de Noel Rosa, clássico da música brasileira. Um livro para exercitar a fantasia, para enriquecer o vocabulário, para passar o tempo em boa companhia, enfim, para não ficar esquecido na estante. Com o selo LIPTI dos Roedores de Livros: Livro Ilustrado Para Todas as Idades. Hatuna Matata!
P.S. Maria Amália Camargo tem um blog (Na contramão do pelo contrário) onde continua a levar a sério o seu ofício de brincar com palavras. Vale a pena visitar. Quem sabe a gente se encontra por lá.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
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