Não é sempre que a Grande Mídia abre espaço para falar sobre o universo da Literatura Infantil. Normalmente vivemos às margens das notícias "importantes" e dos cadernos de "literatura adulta". Quer um exemplo? O Menino que Vendia Palavras, Melhor Livro de Ficção de 2007, segundo o Prêmio Jabuti 2008, mal ganhou resenhas em seções de revistas do segmento infantil. Passamos à margem dos acontecimentos para o leitor "comum", embora este segmento de livros para a infância e juventude seja o que mais cresce no mercado editorial. Por isso, não podem passar em branco quaisquer referências ao nosso universo quando ocupamos algum espaço nestes veículos. A revista Carta Capital mais uma vez surpreende ao estampar na última página da edição nº 532, desta semana, uma foto do nosso querido Bartolomeu Campos de Queiroz (reproduzida acima), clicado pelo fotógrafo Eugenio Savio, com a seguinte legenda: "ARTE E TALENTO PARA INICIAR PEQUENOS LEITORES". A seção RETRATOS CAPITAIS povoada de personalidades da política e das artes deve ter deixado muita gente pensando: "Ué? Arte e talento para pequenos leitores? ... Cadê o Ziraldo?". Aqui no blog já publicamos um artigo que discutiu a ausência da literatura infantil nas grandes mídias, escrito por Milu Leite (leia aqui), estampado nas páginas da mesma Carta Capital.
Bartolomeu Campos de Queirós é um dos gigantes da Literatura Brasileira. Sorte dos nossos pequenos leitores ter vários dos seus livros na seção de títulos infanto-juvenis. Em compensação, os adultos perdem ao passar à margem da sua literatura. Conheci o Professor Bartolomeu antes de ler seus livros. Adorei a sua companhia em torno de um cafezinho e das suas deliciosas ironias. Mas também amo a companhia das suas palavras quando mergulho a minha solidão em seus livros, que venho descobrindo aos poucos desde que me envolvi mais profundamente neste universo. Minha mais recente descoberta foi o livro Sem Palmeira ou Sabiá (Bartolomeu Campos de Queirós, com ilustrações de Elvira Vigna, Peirópolis). Em suas páginas as lembranças do escritor/personagem da sua cidade de três ruas, quando este tinha três anos e buscava tocar o céu, conhecer o mar. A viagem ao tempo distante passa por memórias poéticas, cirandas e cantigas de roda. O menino quer saber quem enche o coco de água. O menino vê o futuro multiplicar seus anos e as ruas da cidade. Chega o progresso. O menino e a cidade engordaram com o tempo. Os meninos que agora se vê nas ruas não brincam mais de roda. Catam lixo. Sinto um aperto no coraçào ao ler que "As pessoas já não lhe desejam bom dia. Apenas abaixam a cabeça quando se cruzam." Minha cidade é assim. Bartolomeu me encantou e me entristeceu com sua realidade pintada em palavras mágicas. Fechei os olhos e me vi menino, brincando na rua. Livre, solto, criança. Hoje, meus filhos brincam vez em quando na rua, quando posso colar meus olhos nas suas travessuras. A cidade gorda de perigos me obriga a limitar seus vôos. Tenho medo do medo que eles não têm. Sem Palmeira ou Sabiá me arranhou a alma ao mostrar no espelho dela um pai engordado pelo tempo, assim como a minha cidade. Ao mesmo tempo, senti uma felicidade ao perceber que minhas crianças ainda dizem "Bom Dia". E eu também!!!
Não posso deixar de falar do projeto gráfico. As ilustrações de Elvira Vigna são montagens fotográficas de nuvens e cenas rurais. Um tremendo bom gosto que ajuda o leitor a visualizar o universo mágico das palavras do autor. O livro é uma viagem de ida e volta a um longínquo mundo. De difícil acesso às crianças e jovens de hoje, encerradas em seus muros, videogames, celulares e internet. Já ouvi o professor dizer que "Literatura não serve pra nada". Uma frase curta, cheia de metáforas e ironias para um uvinte mais atento. Mas, uma vez embarcados no trem das palavras de Bartolomeu Campos de Queirós, o leitor volta para casa diferente. Modificado pelo nada literário. Um nada cheio de sensações. Obrigado, professor. Quero mais!!! Hatuna Matata!
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