É natural que cada um, ao cabo de muitas leituras, experiências e reflexões acabe por sujeitar o acervo de conhecimentos assim constituído a um trabalho de síntese, de balanço, de busca ou consolidação do sentido da vida, dos valores que a orientam, do que a condicionou ao longo da evolução do Homem – e do patamar a que chegou/chegámos.
A Humanidade surge assim, em suma, como tema de uma obra que, a avaliar pelo currículo do autor, deveria incidir sobre “economia do desenvolvimento, sobre sistemas de informação, ou, por devaneio, um relato de viagens”, como preconiza no prefácio da obra Emílio Rui Vilar – sim, o ex-ministro dos primeiros governos constitucionais. E apresentador e apresentado partilham actualmente responsabilidades no Conselho de Auditoria do Banco de Portugal.
A surpresa sobre a temática de “A Humanidade, essa desconhecida” justifica-se com o facto de o seu autor, Rui Conceição Nunes, ser economista de formação, “professor de economia de muitas gerações de estudantes”, e ter tido “intervenção cívica e governativa”. Foi, por exemplo, secretário de Estado do Planeamento do IV Governo Constitucional, com Jacinto Nunes a ministro.
Daí que o prefaciador se revele espantado com esta longa interrogação sobre a trajectória da Humanidade, numa obra em que se traça “um fresco de multi-imagens dessa linha de claros e escuros, de grandezas e misérias, de barbárie de generosidade, de avanços e recuos”. Em suma, e citando George Steiner, “a complexidade trágica da vida humana”.
O autor, ele mesmo, recorre ao paralelo, por antagonismo, levantado por Alexis Carrell, em “L’Homme cet inconnu”, em que propunha, recorda, “a eliminação dos que não obedeciam a padrões determinados a priori”. “Essa não é, actualmente, a ideologia dominante quanto ao direito a existir, ressalva o autor.
Muitas são as questões levantadas por Rui Conceição Nunes ao longo de una viagem pela história (em grande parte) das ideias, da civilização, da política: “a herança greco-romana, o Cristianismo, a expansão árabe, as descobertas, a ética protestante, o Renascimento, a independência da América, a Revolução Francesa – e mesmo a revolução bolchevista, o nazismo e tudo o mais que moldou a civilização actual – no bom e no mau”.
É um livro de histórias e não de história, eis como nos é apresentado este trabalho. Sem uma moral evidente, como reconhece o autor ao confessar que “não é possível fazer um juízo definitivo sobre se os factos históricos (…) foram ou não benéficos para a Humanidade”. É que, reconhecidamente, “não é possível identificar de uma forma perfeita e eterna o que é bom ou mau” e, por isso, “em muitos casos, os ‘inimigos’ da Humanidade acabaram por lhe fazer bem”.
Talvez se aplique aqui o velho princípio de que tudo está bem quando acaba bem. E isso, o porvir, é que não cabe neste trabalho, esse é um caminho claramente recusado.
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Rui Conceição Nunes
A Humanidade, essa desconhecida
Bond, Books on Demand, 19€
A Humanidade surge assim, em suma, como tema de uma obra que, a avaliar pelo currículo do autor, deveria incidir sobre “economia do desenvolvimento, sobre sistemas de informação, ou, por devaneio, um relato de viagens”, como preconiza no prefácio da obra Emílio Rui Vilar – sim, o ex-ministro dos primeiros governos constitucionais. E apresentador e apresentado partilham actualmente responsabilidades no Conselho de Auditoria do Banco de Portugal.
A surpresa sobre a temática de “A Humanidade, essa desconhecida” justifica-se com o facto de o seu autor, Rui Conceição Nunes, ser economista de formação, “professor de economia de muitas gerações de estudantes”, e ter tido “intervenção cívica e governativa”. Foi, por exemplo, secretário de Estado do Planeamento do IV Governo Constitucional, com Jacinto Nunes a ministro.
Daí que o prefaciador se revele espantado com esta longa interrogação sobre a trajectória da Humanidade, numa obra em que se traça “um fresco de multi-imagens dessa linha de claros e escuros, de grandezas e misérias, de barbárie de generosidade, de avanços e recuos”. Em suma, e citando George Steiner, “a complexidade trágica da vida humana”.
O autor, ele mesmo, recorre ao paralelo, por antagonismo, levantado por Alexis Carrell, em “L’Homme cet inconnu”, em que propunha, recorda, “a eliminação dos que não obedeciam a padrões determinados a priori”. “Essa não é, actualmente, a ideologia dominante quanto ao direito a existir, ressalva o autor.
Muitas são as questões levantadas por Rui Conceição Nunes ao longo de una viagem pela história (em grande parte) das ideias, da civilização, da política: “a herança greco-romana, o Cristianismo, a expansão árabe, as descobertas, a ética protestante, o Renascimento, a independência da América, a Revolução Francesa – e mesmo a revolução bolchevista, o nazismo e tudo o mais que moldou a civilização actual – no bom e no mau”.
É um livro de histórias e não de história, eis como nos é apresentado este trabalho. Sem uma moral evidente, como reconhece o autor ao confessar que “não é possível fazer um juízo definitivo sobre se os factos históricos (…) foram ou não benéficos para a Humanidade”. É que, reconhecidamente, “não é possível identificar de uma forma perfeita e eterna o que é bom ou mau” e, por isso, “em muitos casos, os ‘inimigos’ da Humanidade acabaram por lhe fazer bem”.
Talvez se aplique aqui o velho princípio de que tudo está bem quando acaba bem. E isso, o porvir, é que não cabe neste trabalho, esse é um caminho claramente recusado.
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Rui Conceição Nunes
A Humanidade, essa desconhecida
Bond, Books on Demand, 19€
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