sábado, 6 de outubro de 2007

Brumas de Avalon (As) - Marion Zimmer Bradley

Apreciador de romances históricos, posso até afirmar que este é o meu género predilecto, há muito que ouvi falar nesta obra de Marion Zimmer Bradley "Brumas de Avalon", composta por 4 volumes com cerca de 300 págs. cada um. Obra de culto para milhares de pessoas, existindo inclusive clubes de fãs da obra, esta era, porém, uma obra que nunca me tinha despertado especial atenção, sobretudo e tenho de o admitir, por ser uma obra que aborda a lenda arturiana numa perspectiva mais ficcional ou, se quiserem, mais fantasiosa, usando a magia como algo de normal numa Era da qual não existem muitos registos, onde imperava a superstição, onde, de facto, tudo era visto como sendo realizado pelos Deuses ou de acordo com as suas vontades, e onde o paganismo começou a perder "terreno" para o cristianismo. Assim, facilmente se constata o muito material que está à disposição dos escritores, sobretudo a nível das lendas e da mitologias, numa época, repito, onde os registos são muito poucos, sendo conhecido inclusive pela época onde a Europa esteve mergulhada nas trevas. De salientar os muitos romances históricos realizados sobre o tema, principalmente a partir da 2ª metade do séc. XX, alguns deles, diga-se, excelentes.
Mas mesmo não sendo o meu estilo de romance, pois não aprecio obras de ficção que contenha magias e afins, houve aqui neste excelente site, duas ilustres e prezadas livrianas que me entusiasmaram com o seu entusiasmo e amor pela obra e, vai daí, lá resolvi meter olhos e cérebro à obra e li, de uma assentada, os 4 volumes.
Primeiro há que salientar a visão que Bradley imprime ao mito. Uma visão feminista, ou seja, toda a história é nos narrada tendo como principais protagonistas as mulheres que compunham a corte do Rei-Supremo. São elas que compõem o ramalhete, são elas que jogam no tabuleiro do poder e no destino da Grã-Bretanha. Igraine, mãe de Artur, Morgaine, a meia-irmã e amante por uma noite de Artur; Gwenhwyfar, mulher de Artur e amante de Lencelet; Viviane, a Senhora do Lago, mãe de Lencelet: Morgause, irmã de Igraine e Viviane, filhas de Taliesin. São estas as principais estrelas e são elas que fazem girar toda a história. Só por este facto o livro começou-me logo a interessar, pois aqui a expressão masculina é quase nula, raramente se sente a barbárie daqueles tempos, os relatos dos combates são inexistentes e tudo parece ser um mar de rosas, cheio de paz e tranquilidade.
Assente nas lendas celtas, nos mistérios obscuros e tradições sagradas que Avalon era a guardiã, Bradley constrói um cenário que tem de tudo no que respeita à lenda arturiana: O Rei Artur; Lencelet; a Távola redonda e os doze cavaleiros que a compunham; Gwenhwyfar; Morgaine; Taliesin o "Merlim"; Camelot; magia por todo o lado; Excalibur; inclusive os episódios de Tristão e Isolda e o atirar a espada Excalibur ao lago são aqui abordados; e sobretudo a doce inocência. Nesta obra todos são inocentes, até aqueles que são fanaticamente religiosos, que cometem continuamente adultério, incesto, sexo em grupo, assassinatos, são sempre inocentes.
No entanto e na minha opinião, a autora tentou fazer da luta das religiões o principal protagonista da obra. Em toda o romance é facilmente perceptível que o mal é o cristianismo que, de início ao fim, tenta-se impor ao paganismo. Bradley insiste continuamente nesta luta, repete a fórmula até à exaustão, as mesmas questões são levantadas n vezes, torna assim a obra algo enfadonha, pelo menos nesse sentido. Claro que sabemos que o cristianismo venceu as crenças pagãs, inclusivamente sobressai as influências que os cultos pagãos tiveram e têm nas tradições cristãs, mas o certo é que Bradleu exagera nessa insistência.
Quanto às personagens: Artur é um homem que promete fidelidade a Avalon e que por influência da diabólica/pura/inocente Gwenhwyfar, se vira completamente do avesso para o cristianismo, transformando-se num homem algo bucólico, fraco. Lencelet, um garanhão parte-corações, jura fidelidade a Artur mas passa a vida na cama de Gwenhwyfar. Gwenhwyfar, educada num convento muito casto, vê-se casada com Artur, no entanto quanto melhor Artur a trata, mais ela suspira por Lencelet e por uma gravidez de qualquer um deles. Morgaine, educada em Avalon e sacerdotisa com 18 anos, logo possuidora de conhecimentos superiores, passa a maior parte da sua vida como açafata de Gwenhwyfar, no entanto tem a visão sagrada mas apenas abraça o seu destino já perto da velhice. E dos restantes personagens nem vou falar porque, quanto a mim, estes são os principais.
Mas não se julgue que não gostei da obra. Li os 4 volumes em 3 semanas, fiquei deliciado com a história, no entanto não posso deixar de criticar o que não apreciei (acima descrito) e principalmente o pouco realismo Histórico da obra, pelo menos no que toca a acção e também no que toca às relações entre as pessoas, são todos sempre muito amigos, muito justos, parece que apenas existe pessoas nos castelos, o povo raramente é mencionado.
No que respeita às descrições dos locais e dos usos e costumes da época e embora também não seja um profundo conhecedor, pareceu-me correcta, embora também me tivesse parecido que existem algumas incongruências temporais entre a época descrita e alguns dos povos e lugares abordados, no entanto, não é nada que tenha grande relevância.
A exaustiva luta entre as religiões também me pareceu de acordo com a História, embora Bradley tenha abusado. Achei curioso as farpas que ela atira ao cristianismo.
Em suma, uma obra muito agradável, que se lê num ápice, com uma escrita fluida, detalhes e curiosidades históricas excelentes, contendo todos os condimentos necessários para o sucesso: Sexo, luxúria, religião, magia, guerras, jogos políticos, interesses, estratégia, enfim, se não fosse alguns excessos que tornam a obra algo repetitiva e previsível, poderia considerá-lo como uma Grande Obra, algo que e na minha modesta opinião, não é.

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