domingo, 14 de outubro de 2007

Lolita - Nabokov

Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade, meu pecado, minha alma. Lo-li-ta".

Assim se inicia um dos romances mais polémicos de sempre e aquele que marcou toda a carreira literária de Vladimir Nabokov.

Nabokov nasceu em 1899 na cidade russa de San Petersburgo no seio da aristocracia. Em 1919, devido à Revoilução Bolchevique, a sua família é obrigada a abandonar a Rússia, refugiando-se em Inglaterra. Nabokov matricula-se então na famosa universidade de Cambridge onde se licencia em 1922 em literatura russa e francesa. A partir daí, Nabokov saltita de lugar para lugar. Primeiro Berlim, depois Paris e em 1940 e para fugir aos nazis, parte para os Estados Unidos da América, onde se dedica a leccionar literatura russa, além de trabalhar em tradução de livros e no departamento de entomologia de Harvard.

Profundamente pedante, chegando mesmo a afirmar: "penso como um génio, escrevo como um autor distinto e falo como uma criança", Nabokov desprezava escritores que, segundo ele, escreviam literatura ideológica e politicamente correcta. Assim odiava escritores como Thomas Mann, Balzac, Dostoievski, Gorki e Kafka, dizendo insolentemente deste último que a sua obra "Metamorfose" era um excelente livro de dissecação de insectos... Em suma, tinha fama de misantropo, a mania da superioridade e era completamente intratável, ou seja, e digo eu, era um completo Palhaço!

E pergunto: Como é que este senhor consegue escrever uma obra que é considerada como um dos clássicos da literatura?

Mas após a leitura deste livro, entendi porquê.

Como classificar Lolita? Narrado em jeito de memórias, uma forma que torna sempre uma história credível, "Lolita" é uma trágica confissão de Humbert Humbert, o protagonista-narrador, que na prisão e antes de enfrentar um julgamento por homicídio, resolve contar as suas memórias em relação ao grande amor da sua vida. Narrado sempre na primeira pessoa, "Lolita" é um conto chocante que descreve os pensamentos e acções de um pedófilo.

Humbert é um pedófilo. Tem 42 anos, europeu, professor de literatura inglesa que, depois de algumas aventuras amorosas na Europa, chega à América com o intuito de apagar o seu passado no velho continente. Acaba por se instalar numa pequena cidade onde aluga um quarto em casa de uma viúva quarentona chamada Charlotte Haze, que tem uma filha ainda criança: Lolita, 12 anos.

Nessa altura e devido aos seus pensamentos, apercebemo-nos que Humbert gosta de crianças a quem ele chama de ninfetas e percebemos, dentro do possível, o porquê dessa paranóia.

Mas Humbert começa a desejar Lolita, pensamentos libidinosos começam a percorrer a sua mente. Só pensa nela e imagina-se já envolvido com ela. Posteriormente Humbert apercebe-se duma inclinação de Mrs. Haze em relação a ele e, é precisamente através desse casamento que ele se aproxima de vez de Lolita, pois passa a ter “poderes” sobre ela enquanto padrasto.

A narrativa segue o seu pervertido rumo com alguma sensualidade e humor, no entanto o tomo é sempre chocante, a paixão de Humbert é avassaladora, doentia, obsessiva. É curioso o pormenor com que Nabokov analisa a mente de Humbert. Ele efectua um exame profundo da mente do pedófilo, inquietando-nos com o que extraí, as conclusões vai-nos chocando, ferindo e é impressionante o seguinte contra-senso: tem a capacidade de nos convencer que a pedófilia pode não ser tão aberrante, tão doentia como podemos julgar, podendo mesmo ser uma forma de amor. É impressionante mas é verdade. Nabokov joga literalmente connosco, com os nossos preconceitos, com os nossos medos e, depois de entregar o jogo, volta a tirar as cartas e baralha novamente. Repara-se que ele atinge o auge do chocante e do aberrante quando descreve os diários e sucessivos abusos (quase violações) de Humbert a Lolita, [que diga-se também de passagem, não era nenhuma ingénua "colegial" de 12 anos] Humbert deseja até engravidar Lolita para que pudesse dar à luz uma ninfeta, para, obviamente, futuro deleite de Humbert. É asqueroso! Mas depois Nabokov dá completamente a volta a este sentimento.

Mas será "Lolita" um simples livro erótico, pedófilo, pornográfico ou psicológico?

Claro que não!

Este livro é escrito com um objectivo.

Nabokov (um autêntico palhaço) odiava Freud (o homem devia odiar toda a gente), considerava-o um bacoco primitivo que falava por clichés e sem pingo de inteligência. Assim criticava a psicanálise e a psicologia e este livro é simplesmente uma paródia a estas duas ciências. No livro, Humbert (Nabokov) goza com os psicólogos, indo ao ponto de afirmar que inventava sonhos para os psicólogos descodificarem. A forma como Humbert vai narrando os acontecimentos, os seus impulsos sexuais, a sua obsessão por crianças, é notoriamente uma paródia a Freud e à sua psicanálise. Existem também uma série de enigmas presentes em todo o texto, assim como frases com segundo sentido. No romance surge uma personagem feminina que se chama Vivian Darkbloom que é um anagrama de Vladimir Nabokov, ou seja, um autêntico jogo criado por alguém que era mestre de xadrez e que pretendeu fazer deste livro um género de quebra-cabeças. E repare-se que afirmo que isto pelo que fui lendo sobre a obra, porque eu próprio não dei conta de alguns pormenores que afirmam estarem lá colocados estrategicamente.

Independentemente de quaisquer considerações sobre esta obra, independentemente daqueles que afirmam ser este livro uma obra de arte escrito de uma forma genial, eu vejo-o como um livro onde um escritor arrogante brinca e manipula, brilhantemente é um facto, o leitor. Um livro onde o escritor mandas às malvas simples regras éticas e humanas, descrevendo a mente nojenta de um pedófilo com uma finalidade objectiva: Chocar e achincalhar outros personagens destacados doa sociedade da altura.
Por isso, para mim, Nabokov foi um palhaço!

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