sábado, 6 de outubro de 2007

A Clavícula seu Apertorium / A Chave Universal, de Raimundo Lúlio / Ramon Llull

Prefácio
Raimundo Lúlio, filósofo e alquimista catalão, nasceu em Palma de Maiorca no ano de 1235, sendo filho de uma família muito rica. Os seus contemporâneos chamavam-lhe o iluminado. Escreveu mais de duas centenas e meia de livros. Até à idade de trinta e um anos levou uma vida turbulenta e, por causa de uma paixão violenta e infeliz, mudou radicalmente de vida; voltou a Palma, em 1266, para levar uma vida ascética e virtuosa depois de repartir os bens entre os seus filhos.
Viajou muito, em 1277 esteve em Montpelier onde escreveu vários livros e, em 1286, esteve em Roma. Daí foi para Paris, onde também escreveu várias obras, prosseguindo os seus estudos de alquimia e tendo aí conhecido um alquimista famoso, Mestre Arnaldo Vila-nova. No ano de 1291, já com trinta e seis anos, dirigiu-se a Tunis para pregar mas estabeleceu controversas com o muçulmanos. Por isso, o sultão mandou-o prender. Fugiu da prisão e embarcou para Nápoles, onde viveu vários anos dando conferências. Voltou a Roma para falar com o papa Celestino V. Desde 1299 pregou aos judeus de Maiorca, Chipre, Síria e Arménia. Regressou a Itália e a França, por onde viajou de 1302 a 1305, falando sempre em público e escrevendo. Passou à Inglaterra, alojando-se no hospital de Santa Catalina, onde escreveu uma obra de alquimia. É muito conhecida a transmutação que fez para o rei Eduardo III, de mercúrio e estanho em ouro, com que o monarca fez cunhar moedas chamadas raimundinas ou rosas nobres.
Em 1307 voltou a pregar aos mouros e visitou Hipona, Argel e Bughiah, onde pregou na praça pública. O povo enfurecido quis matá-lo. Salvou-o o mufti, mas esteve preso durante seis meses, findos os quais o embarcaram para Itália. À chegada, o barco naufragou, mas ele salvou-se. Não obstante isto, voltou a África, desembarcando outra vez em Bughiah para pregar no deserto durante dez meses. Cansado de esconder-se, em 30 de Junho de 1315, saiu para pregar na praça pública mas o povo apedrejou-o fora de portas. O seu corpo ainda com vida, foi recolhido por uns genoveses que o levaram para o seu navio. Morreu à vista de Palma. Sepultaram-no nessa cidade, na igreja de São Francisco, onde ainda hoje se pode visitar o seu túmulo.
A Clavícula é a obra alquímica mais importante de Raimundo Lúlio. Tal como outros grandes alquimistas do passado, como Alberto o Grande no Composto dos Compostos, Basílio Valentim no Último Testamento e Nicolau Flamel no Breviário, o Mestre escreveu esta obra também em linguagem clara, o que não era e ainda não é usual fazer-se.
Não obstante, esta linguagem só poderia ser entendida pelos alquimistas seus contemporâneos ou pelos sábios e estudiosos, dentre os quais haveria, também, alguns nobres. À plebe, por falta de instrução, estavam vedados esses conhecimentos.
Apesar de todos os nossos conhecimentos actuais, a compreensão desta obra, mesmo em linguagem clara, continua, como outrora, vedada à maioria das pessoas, mesmo àquelas que possuam formação académica superior, inclusivamente em química.
Para a poder compreender, é absolutamente necessário conhecer a terminologia espagírica daquela época, isto é, os nomes comuns das matérias, dos vasos e utensílios e o modus operandi.
É por aqui que terão de começar aqueles que estiverem interessados em tentar fazer a obra alquímica de Raimundo Lúlio.
Por fim, não queremos terminar este prefácio sem dar alguns conselhos úteis aos filhos da Arte: todas as matérias referidas nesta obra alquímica, que, no nosso entender, nos parece verdadeira, deverão ser canónicas, quer dizer, ser tanto quanto possível de origem natural e tratadas como manda a Arte.
O vitríolo deverá ser extraído das águas dos pequenos lagos artificiais provenientes das águas pluviais infiltradas nas minas a céu aberto de pirite e de calcopirite; o cinábrio, proveniente do sulfureto natural de mercúrio bem como o respectivo azougue comum; o salitre de origem animal ou revivificado; o sal comum, tal como foi extraído das salinas marinhas; o tártaro, retirado directamente dos tonéis de vinho e tratado segundo a Arte e, por fim, o espírito de vinagre destilado a partir do vinagre forte de vinho.
Rubellus Petrinus.


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