sábado, 20 de setembro de 2008

Do Sexo à Divindade - As Religiões e seus Mistérios, de Dr. Jorge Adoum / Mago Jefa

TRECHO:
INTRODUÇÃO
1 – A palavra “homem” não significa o ser organizado que se encontra na terra.
Homem é todo ser formado de uma parte do Espírito e de uma parte da Matéria de que
está composta a esfera que ele habita e que é capaz de manifestar por atos morais a
parte do Espírito que está nele.
2 – A finalidade do Universo é o progresso. Logo, a finalidade de cada homem,
que é parte do Universo, não pode ser outra senão uma parte do progresso.
3 – Os planetas e as esferas não são, em si mesmos, suscetíveis ao progresso.
Somente é suscetível ao progresso o ser moral formado de uma parte do Espírito e de
outra parte da Matéria de que está formada aquela esfera.
4 – O ser moral metade Espírito e metade Matéria é o Homem.
5 – O Espírito e a Matéria contêm em si mesmos, desde o começo, o germe dos
feitos materiais e morais que foram, são e serão no futuro.
6 – A manifestação ou transformação tira a conseqüência necessária de um
princípio existente em estado latente no fato anterior. Desde a ação do Espírito sobre a
Matéria, nada foi produzido que não fosse em estado latente no princípio.
7 – O homem é a miniatura do Universo, por isso lhe chamam Microcosmos,
porque contêm todas as qualidades que foram dadas a todos os seres nascidos antes
dele.
8 – Tudo quanto foi feito antes do aparecimento do homem foi feito para o homem.
Logo, possuindo a quinta-essência de todas as qualidades dadas a todos os seres
anteriores a ele, o homem será o rei da criação – ou um Universo em miniatura. No
entanto, se o homem não é a última palavra da perfeição no caminho do progresso, é sem
dúvida o mais perfeito no estado atual.
9 – Todos os seres anteriores ao homem lhe serviram de duas maneiras: uns
foram organizados cada vez melhor para lhe darem caída e outros para lhe serem úteis e
servi-lo em suas necessidades.
10 – O homem recorreu aos animais, aos vegetais, aos minerais, aos gases etc.
para ter vida por meio dos alimentos, da roupa, da respiração, do abrigo etc. A terra o
carrega, a água lhe mata a sede, o ar move a sua respiração, o calor o abriga e o Sol lhe
conserva a vida, porque o Sol é a alma da Terra e de todos os planetas. Portanto, o
homem não poderia viver se não tivesse em si tudo isso. Logo, o homem é um resumo de
tudo quanto está no Universo até a sua aparição nele.
11 – Por conseguinte, o homem é o mais poderoso agente do progresso e o único
ser capaz da perfeição moral; porque o progresso moral coroa o progresso material, como
o homem coroa a escala genealógica dos seres organizados.
12 – O Espírito, ao agir sobre a Matéria, é incorporado nela. Antes da organização
do homem, o Espírito existia na Matéria em estado latente. Isso quer dizer que não tinha
poder para a manifestação moral ou livre.
13 – Durante a época cosmogênica, a Matéria impedia a manifestação livre do
Espírito. Isso está representado pela estrela microcósmica invertida, com a ponta para
baixo. Quando chegou a estabelecer-se o equilíbrio entre o Espírito e a Matéria – devido à
transformação contínua – então se manifestou a conseqüência de um progresso material
e vice-versa, isto é, todo progresso material exige progresso moral.
14 – A organização universal é completa: onde existe necessidade encontra-se o
que a ela possa satisfazer. Perto da dor está o remédio; próximo da fome, o alimento;
perto da ferida, o bálsamo. Esta ordem que combina e supre se chama com razão
Providência.
15 – A Providência é a harmonia entre o Espírito e a Matéria.
16 – A Providência interna não nos deixa caminhar às cegas na senda do
progresso, nem tem o poder de nos deter a marcha rumo à perfeição.
17 – A perfeição é indefinida porque o resultado do progresso é infinito e, como tal,
nunca pode ser alcançada. Certamente existe uma perfeição parcial, à qual se pode
aspirar: é a perfeição relativa que consiste em satisfazer a todas as necessidades de uma
época com todos os elementos postos à sua disposição e alcançar o ideal de bem-estar
mais possivelmente desejado.
18 – Para a alma humana, tudo quanto seja razoável é realizável; porque a razão
não pode desejar mais do que seja possível. Nada é impossível se os meios de execução
se encontram preparados para a obra.
19 – A alma concebe o progresso, e o corpo, que é o auxiliar da alma, tem de
caminhar rumo a ele. Logo, para manifestar o progresso desejado pelo espírito, o corpo
tem de empregar todos os meios de que dispõe e fazer trabalhar cada órgão ou a matéria
no sentido do seu destino e da sua orientação. É por esse motivo que chamam
corporações às sociedades, porque cada elemento tem de trabalhar numa coisa segundo
a sua aplicação e o seu lugar.
20 – O homem é o único ser, metade Espírito, metade Matéria, que pode e deve
descobrir e fazer conquistas no terreno da ciência, da arte; porém, descobrir não é criar.
21 – A diferença entre o homem e o animal é como a diferença entre o progresso e
a conservação, ou entre a consciência e o instinto.
22 – O meio de conservação que foi dado ao animal e ao vegetal é o instinto, sem
o qual seria inútil o dom da existência, porque nem o animal nem o vegetal teriam tido
qualquer meio de conservação.
23 – O instinto é o meio de conservação de todo ser animado – forçosamente tem
de ser fatal, irreflexivo e instintivo. Assim, a abelha constrói o seu reino sem consciência:
ela age sob a pressão da necessidade da sua natureza, à qual deve obedecer; seus
hábitos são, desde os tempos mais remotos, uniformes, segundo a necessidade que lhe
foi imposta.
24 – Do instinto irreflexivo não poderá haver progresso. Se o instinto pudesse
refletir, então poderia comparar; se pudesse comparar, poderia melhorar, se pudesse
melhorar, poderia progredir; e, se pudesse progredir, deixaria de conservar, porque não
seria instinto e se converteria em Espírito.
25 – Se o instinto (hoje chamado subconsciente) chegar a desaparecer da
Natureza, esta deixará de existir, porque, logo depois de cumprido um progresso, não
haveria outra força de resistência capaz de conservar o primeiro progresso para fazer
dele a base de um segundo. Tudo cairá novamente no Caos. O instinto é uma força de
inércia que modera o salto muito impetuoso do progresso. Por isso se diz: ‘A Natureza
não dá saltos’.
26 – Se o instinto não existisse como condição de conservação, não existiria a
consciência como condição de progresso; da mesma forma, não teria razão de existir o
corpo humano que vive materialmente pelo instinto e não poderia conservar a sua vida
animal, que é indispensável à vida moral da alma. E assim a matéria se desagrega; todas
as esferas voltam a ser átomos; as almas voltam ao estado de puro Espírito e a lei do
progresso se detém. O Espírito teria de recomeçar o trabalho da organização universal,
agindo novamente sobre a Matéria.
27 – Esta é a lei da transformação, a lei da Evolução ou desintegração: Quando
um corpo ou uma esfera deixa de ser útil à lei do progresso, desintegra-se, porque se
deteve no caminho do progresso. Pois bem, se a natureza não dá saltos, tampouco volta
atrás, nem se detém no seu adiantamento.
28 – O instinto é o correlativo da consciência. O instinto é o passivo da consciência
como a Matéria é o passivo do Espírito. Sem instinto não há consciência, como não
haverá Espírito, nem Vida, sem Matéria.
29 – O instinto, então, é para a vida material aquilo que a consciência é para a
vida moral. O instinto é feito para a consciência como a vida material é feita para a vida
moral.
30 – O Espírito é o princípio do progresso, a Matéria é o princípio da conservação.
31 – A consciência é a condição do progresso, supõe liberdade. O instinto é a
condição da conservação, supõe conservação; e supõe a fatalidade ou naturalidade.
32 – A liberdade atrai responsabilidade, enquanto a fatalidade não tem nenhuma
responsabilidade. Logo, todo ser que segue fatalmente o seu instinto cumpre a lei natural
e não pode ser responsável, ao passo que aquele que abusa da sua liberdade é
responsável por seus atos.
33 – O instinto do animal e o corpo do animal perecem com o animal; ambos se
transformam e entram em outros corpos.
34 – Somente o homem é perfectível, porque é livre e não necessita de nenhum
agente exterior para a sua perfeição.
35 – A matéria inerte sem iniciativa é imperfectível. O animal é imperfectível,
porque carece de liberdade e de vontade. Somente o homem pode aperfeiçoar-se.
36 – Se o homem é perfectível, é também suscetível ao progresso, porque o
progresso é o caminho que conduz à perfectibilidade indefinida.
37 – A inteligência, que alguns homens atribuem a certos animais superiores, nada
mais é do que o instinto que cada um deles possui em grau diferente. É o instinto
desenvolvido segundo a ordem de superioridade do ser organizado no qual reside. Não é
surpreendente que os animais que mais se acercam do homem para servi-lo tenham certo
entendimento que os capacite a ser mais inteligentes para executarem a sua missão
providencial.
38 – O homem, com seus corpos ou veículos, tem por objeto ajudar no progresso
indefinido do Universo. A ‘alma’ deve levar e guiar o homem no caminho da perfeição,
sem deixá-lo desviar-se.
39 – Todo desvio no caminho do progresso é abuso de liberdade. Logo, cada
alma, a parte do Espírito, tem por objeto aperfeiçoar cada corpo, a parte da Matéria.
Então a alma, no Universo, tem determinada porção de Matéria para aperfeiçoar,
transformando-a do estado grosseiro e denso ao estado mais sutil, isto é, até o estado
mais perfeito, que é o da Matéria calórica que se encontra imediatamente debaixo e perto
do Espírito infinito.
40 – Os corpos se modificam conforme a manifestação da alma. A manifestação
da alma é o resultado da sua ação sobre o corpo, que afinal de contas é o fato do
progresso para o melhoramento material.
41 – Se os órgãos do corpo destinado a manifestar as faculdades da alma não
funcionam, terão de desintegrar-se por serem inúteis à alma.
42 – O bem é o resultado da harmonia que existe entre os elementos humanos ou
entre a alma e o corpo. O mal se evidencia quando os atos conduzem à desarmonia.
43 – O corpo não torna má a alma; somente ele pode impedir a sua manifestação
num ou noutro ponto. Onde a alma não se manifesta, o corpo adquire a ação egoísta e
todos os desejos desenfreados da sua natureza.
44 – Quando o corpo impede a manifestação da alma em todos os seus pontos, o
homem se torna semelhante ao bruto, à besta, e não terá senão instintos animais, aos
quais obedece.
45 – As religiões e a educação têm por objeto remediar, tanto quanto possível, as
inclinações perversas. A instrução pode diminuir os desejos desenfreados, substituindo-os
por anelos elevados, segundo se verificou, historicamente, com cérebros de grandes
homens, que foram mudando de conformação à medida que idéias novas lhes ocupavam
a mente.
46 – A vida material é anterior à vida moral, e até se pode dizer que a vida moral
nada mais é do que o resultado do desenvolvimento da vida material do homem.
47 – Quando o homem era semelhante ao animal, não era moral, porque não
podia comparar os fatos entre si nem distinguir o bem do mal.
48 – As faculdades de apropriar-se, de comparar, julgar e escolher, isto é, a
inteligência, a memória, o juízo e a consciência não se foram despertando senão
lentamente. Uma faculdade foi a base de outra; mas uma faculdade não nasce de outra
senão depois de haver mediado longo intervalo. Este é o fruto proibido que o homem
consumiu voluntariamente quando desenvolveu em si as quatro faculdades e comeu
abusando de seus frutos.
49 – Defender-se para sobreviver não é um ato de razão; é um ato fatal, isto é,
natural e instintivo, como o de comer e o de dormir.
50 – A vida em sociedade, o amor conjugal, a educação dos filhos, o trabalho para
preencher as necessidades, aproveitar os frutos do trabalho, tudo isso é instinto. Pertence
à vida material. Tudo isso é fatal, instintivo e se efetua debaixo da pressão das
necessidades, porque é comum entre todos os homens e animais. Tudo isso é feito tendo
em vista a conservação da vida. Logo, tudo quanto é do instinto é da vida material, é fatal,
é instintivo, natural, que concerne ao corpo físico. E tudo quanto concerne ao corpo físico
tem por objetivo a conservação.
51 – Logo, o homem, no princípio, desenvolveu o instinto; depois começou a
desenvolver a consciência, porque, sendo o instinto o agente da conservação e a
consciência do progresso, a conservação deve preceder ao progresso.
52 – A conservação é a condição do progresso, o instinto é a condição da
consciência, como o corpo é a condição da alma; logo, a condição material deve ser
cumprida primeiramente para que se manifeste o resultado moral.
53 – Logo, as faculdades da alma se desenvolvem em razão proporcional aos
desenvolvimentos do instinto, isto é, dos órgãos e dos sentidos que nos servem para nos
apoderarmos dos objetos materiais que nos rodeiam.
54 – O homem primitivo era solitário e débil ante os perigos e por esse motivo teve
de associar-se aos seus semelhantes e viver em sociedade.
55 – Em sociedade, precisou então de meios para se comunicar, e foram
necessários a voz e os sinais que engendraram o linguajar. Logo, a linguagem é a
primeira manifestação da vida moral, isto é, da vida social.
56 – A vida moral ou social se compõe de deveres. Antes de viver em sociedade o
homem não tinha deveres, isto é, a necessidade foi o seu único móvel e o instinto o seu
único guia para satisfazê-lo.
57 – O fato de viver em sociedade, no princípio, era um ato de conservação
revelado pelo instinto, como fazem certos animais que se reúnem em manadas no
interesse da sua comum conservação. Desse modo, o homem foi lançado à vida moral,
contra a sua vontade, em vista do simples efeito da satisfação da necessidade material
mais imperiosa: a necessidade de viver.
58 – Se o homem tem faculdades morais paralelas às suas funções materiais,
deve-se concluir que as faculdades morais foram dadas para serem exercidas. O homem
não pode possuir nada que não tenha o seu objetivo. Logo, faculdades morais e
faculdades materiais são para obter resultados determinados.
59 – Mas, para que as faculdades morais tenham livre funcionamento junto às
faculdades materiais, foi necessário ditar leis sociais e implantar religiões para defender
os direitos do homem e ajudá-lo a cumprir os seus deveres para consigo mesmo e para
com os seus semelhantes.
60 – Esse foi a princípio da religião e o começo da legislação.
61 – A religião trata de melhorar a moral ou o social: Espírito, alma. A legislação é
para melhorar o material: Matéria, corpo.
62 – No quadro seguinte podem resumir-se os principais caracteres enumerados
anteriormente.
Princípios
Vida moral Espírito – Alma
Vida material Matéria – Corpo
63 – Meios
Vida moral Consciência – Liberdade – Eleição
Vida material Instinto – Fatalidade – Obediência
64 – Objetivos.
Vida moral Progresso – Melhoramento
Vida material Conservação – Estabilidade
65 - Caracteres
Vida moral Praticada pelo homem sozinho.
Vida material Praticada por todos os que têm vida.
Vida moral Não pode existir sem a vida material.
Vida material Pode existir sem a vida moral.
Vida moral Nascida no homem depois da vida material.
Vida material Nascida no homem antes da vida moral.
Vida moral Compõe-se de todas as faculdades que não funcionam
ao lado dos órgãos especiais, materiais e sensíveis que
trabalham na economia do corpo humano.
Vida material Compõe-se de todas as funções que exercem a ação de
algum
órgão, material e sensível na economia do corpo humano
Vida moral Tem o dever por agente.
Vida material Tem o direito por agente.
Vida moral Vida em sociedade que regula as relações.
Vida material Vida de indivíduos separados, sem relações sociais.
Vida moral Útil, confortável e abundante.
Vida material Indispensável, reduzida e necessitada.
Vida moral Com diversas sociedades, segundo os indivíduos.
Vida material Uniforme em todas as sociedades e todos os indivíduos.
Vida moral Responsável se abusa da sua liberdade contra o direito
alheio. Sanção.
Vida material Sem liberdade, sem responsabilidade. Se desobedece ao
direito tem sanção natural.
Vida moral Idéia moral; o verdadeiro Progresso, ideal, material, o belo,
perfeição.
Vida material Trabalho mecânico. Copiar, nada de aperfeiçoamento.
66 – Logo, a religião e as leis sociais são frutos da vida moral ou da vida social.
67 – Quando o homem cumpriu os atos de sobrevivência, quando assegurou sua
existência, começou a sonhar em desenvolver-se, em melhorar e progredir. Depois de ter
o indispensável, começou a procurar o útil.
68 – Logo, há duas classes de necessidade: a indispensável e a útil. Todos os
homens estão de acordo no que toca ao instinto, ao indispensável; mas estão demasiado
divididos no que toca à vida moral ou útil e por isso vemos que o Espírito de todas as
religiões é indispensável e uno, ao passo que as religiões, ao se converterem em úteis,
dividem-se.
69 – A necessidade é fatal ou instintiva; é por isso que todos os homens
obedecem fatalmente à necessidade que se faz sentir, e por isso também são idênticos
em fazerem direito para as suas prescrições.
70 – Na liberdade existe a diversidade. O indispensável é absoluto como a
necessidade material. O útil é relativo como a necessidade moral. A fatalidade impõe o
indispensável; a liberdade permite escolher o útil. O útil é como a religião ou a lei, não é
igual para todos; ao passo que a necessidade é comum. O útil é escolhido livremente e
por isso varia de indivíduo para indivíduo, segundo o caráter daqueles que o escolheram.
Logo, a religião deriva da vida moral do Espírito e por meio do Espírito exerce a
sua liberdade. O princípio da vida material é a necessidade ou fatalidade. Por
conseguinte, vida moral e vida material são correlativas e paralelas entre si, como são o
Espírito e o corpo, a liberdade e a fatalidade.

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