quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O caminho do arco, de Paulo Coelho

TRECHO:
- Tetsuya.
O rapaz olhou espantado o estrangeiro.
- Ninguém nesta cidade viu Tetsuya segurando um arco – respondeu. – Todos
sabemos que ele trabalha em carpintaria.
- Pode ser que tenha desistido, que tenha se acovardado, isso não me interessa
– insistiu o estrangeiro. – Mas não pode ser considerado o melhor arqueiro do país, se já
abandonou sua arte. E por isso viajei tantos dias: para desafia-lo e colocar um ponto final
em uma fama que já não merece.
O rapaz viu que não adiantava ficar discutindo: era melhor leva- lo até o
carpinteiro, para ver com seus próprios olhos que ele estava enganado.
Tetsuya estava trabalhando na oficina situada nos fundos de sua casa. Virouse
para ver quem chegava, e seu sorriso foi interrompido no meio. Os olhos se fixaram na
longa sacola que o estrangeiro carregava consigo.
- É exatamente o que você está pensando – disse o recém-chegado. – Não vim
aqui para humilhar nem provocar o homem que virou uma lenda. Apenas gostaria de
provar que, com todos os meus anos de prática, consegui chegar à perfeição.
Tetusya fez menção de retornar ao seu trabalho: estava terminando de colocar
os pés de uma mesa.
- Um homem que serviu de exemplo para toda uma geração, não pode
desaparecer como o senhor desapareceu – continuou o estrangeiro. – Segui seus
ensinamentos, procurei respeitar o caminho do arco, e mereço que me veja atirar. Se fizer
isso, irei embora e não direi a ninguém onde se encontra o maior de todos os mestres.
O estrangeiro tirou de sua bagagem um arco longo, feito de bambu
envernizado, com o punho situado um pouco abaixo do centro. Fez uma reverencia para
Tetsuya, caminhou até o jardim, e fez outra reverencia para um lugar determinado. Em
seguida, tirou uma flecha ornada com plumas de águia, abriu as pernas de modo a ter uma
base sólida para atirar, com uma das mãos trouxe o arco até diante de seu rosto, com a
outra colocou a flecha.

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