segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Duas Irmãs, Um Rei

"Este rei [Henrique VIII] pode dizer o que constitui um crime sujeito a enforcamento e o que não. Demos-lhe esse direito, quando negámos ao Papa o direito de governar a igreja. Demos a Henrique o direito de decidir tudo."


História sempre me interessou e, como todos sabemos, a da Inglaterra é particularmente rica. Este ano, a literatura e a televisão juntaram-se numa temática comum: a dinastia Tudor. Através das páginas de Philippa Gregory viajei até tempos conturbados, mas marcantes no futuro da nação inglesa. A descoberta/aprendizagem não parará em Duas Irmãs, Um Rei.

Primavera, 1521: Inglaterra continua à espera de um herdeiro de Henrique. As circunstâncias preocupantes para a nação levam as famílias mais poderosas a desenvolverem esforços para captar a atenção do Rei. As manhas e as intrigas que se tecem têm como objectivo levar o Rei para a cama, conseguindo assim um herdeiro (bastardo) como trunfo e favores monetários (dinheiro, títulos, casamentos melhores). Ana e Maria Bolena são as primeiras mulheres a serem lançadas a jogo, sem nunca se ter em conta os seus interesses ou os seus sentimentos. A escrita realista e detalhada da autora realçam a ambição da família Bolena, disposta a tudo pelo poder. Envolvido pela simplicidade de Maria e a sedução de Ana, Henrique começa um jogo perigoso que mudaria o rumo de Inglaterra e o tornaria um dos mais importantes reis.

À medida que o tempo avança, Henrique começa a preocupar-se com o facto de ter apenas uma filha, fruto do seu casamento com Catarina de Aragão. É este receio que Ana Bolena vai explorar para afastar Henrique da rainha e, assim, assumir um papel de maior relevância. Completamente apanhado na teia da família Bolena, Henrique decide divorciar-se, contrariando as ideias da Igreja Católica. Os contornos do contexto histórico, das razões que levaram à criação do Anglicanismo, a igreja de Inglaterra, às suas consequências políticas, torna a obra de Philippa Gregory ainda mais interessante e didáctica. Ana Bolena abriu um precedente, conseguiu a glória, mas não esperava que, mesmo depois da sua coroação, fosse viver com o medo constante de ser substituída.

Duas Irmãs, Um Rei é um retrato perfeito de duas faces da mesma moeda. Aqui se exalta o valor da família, sonegando-se os interesses do indivíduo. Maria e Ana são o rosto da dualidade de sentimentos - amor e ódio, simpatia e vingança - e a autora conseguiu dar-lhes uma força e profundidade próprias que nos apaixonam ao longo de toda a obra. Além do mais, Philippa Gregory apresenta-nos um lado da História, o de Maria Bolena, a que nem sempre temos acesso e isso, só por si, prende a atenção do leitor.

A escrita fluída e descritiva da autora transporta-nos para a Inglaterra do séc. XVI e integra-nos num ambiente cortesão extremamente apelativo. O que lemos parece verdadeiramente real, como se também nós fôssemos personagens na trama. Os tumultos, as paixões, as intrigas, os amores e os jogos de bastidores do reino de Henrique VIII são ingredientes mais do que suficientes para nos deleitarmos com esta obra.

9/10

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