segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Formar Leitores para Ler o Mundo - Maria Nikolajeva

1º Painel - Literatura para a Infância e Formação de Leitores

«Literacia visual e o leitor implícito nos álbuns para crianças»

Maria Nikolajeva (Univ. Estocolmo, Suécia) analisou os aspectos centrais da leitura de ilustrações em álbuns, evidenciando a urgência de formar crianças e adultos (especialmente os mediadores) para ler o texto visual. O álbum é um texto multimodal, com uma componente verbal e uma componente visual. De quanto tempo precisamos para ler um texto multimodal? Por que ordem o lemos? Que conexões permite estabelecer? De paralelismo, de complementaridade, de redundância, de confirmação. Dentro da lógica sequencial do enredo, o leitor pode antecipar e rever os elementos do enredo, pode inferir, a partir de pormenores, relações causais, temporais e espaciais. Mas as imagens podem igualmente sugerir enredos paralelos, e é o leitor quem decide, através da sua interpretação, se ocorrem em simultâneo ou se um é da ordem do real e outro da ordem do fantástico.
Por isso é importante dotar o leitor de ferramentas de interpretação do texto visual, e da sua relação com o texto escrito. Por exemplo, se uma personagem aparece várias vezes numa única página (que pode ser dupla), essa imagem sugere movimento, acção da personagem. Já se uma figura aparece na imagem com uma diferença exagerada de proporção em relação a outra, inferimos uma hierarquia de tratamento: a maior terá um ascendente sobre a mais pequena. Estes dois casos implicam uma interpretação do visual, mas a confirmação desta interpretação pode ser dada pelo escrito. O inverso também acontece e muitas vezes o visual funciona como esclarecimento para uma ambiguidade do texto escrito. Se um álbum tiver qualidade literária, surgirão diversos diálogos que só o treino permitirá ler. O literário é necessariamente polissémico, porque conta sempre com um nível de leitura literal e outros, simbólicos. Faz parte da semântica literária a presença do símbolo e a construção retórica. Para a sua descodificação, é preciso descobrir e reconhecer, para relacionar. A imagem de um lobo com um sorriso doce e um olhar meigo afastá-lo-á da história do Capuchinho Vermelho. Esta suposição resulta de uma relação de intertextualidade, só possível pelo domínio dos símbolos do Capucinho Vermelho. A leitura de imagens deve por isso ser estimulada, para que em cada álbum o leitor frua de todo o manancial de emoções que o álbum oferece.

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