quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Formar Leitores para Ler o Mundo - Sandra Lee Beckett

1º Painel - Literatura para a Infância e Formação de Leitores

«Ficção de cruzamento: criando leitores com histórias que tematizam as grandes questões»

Sandra L. Beckett abordou e analisou o conceito de «crossover»: a apropriação, por parte do leitor adulto de livros que são dirigidos ao público juvenil. O fenómeno ganhou visibilidade e importância com a saga Harry Potter, de J. K. Rowling, responsável pela introdução na leitura por muitos leitores incipientes e reticentes. Se por um lado criou hábitos de leitura junto dos mais novos, que assim afastaram o pânico dos livros com muitas páginas e descobriram o entusiasmo e a avidez de percorrer o texto em busca de mais e mais aventuras emocionantes, é certo que também os adultos sentiram o mesmo frémito. A autora do livro Crossover Fiction: Global and Historical Perspectives (Routledge, 2008), acrescenta outros autores que consolidam o fenómeno para além desta colecção. Philip Pullman, Carl Hiaasen, Mark Haddon e Tormod Haufen são também referenciados, assim como Eoin Colfer, autor de Artemis Fowl (D. Quixote), pouco divulgado em Portugal, mas igualmente cativante para quem o leu. O estranho caso do cão morto (Presença), de Mark Haddon, foi escrito a pensar no público adulto, mas o seu editor sugeriu que este fosse também promovido junto do público juvenil.
Assistimos então a um produto de marketing editorial? Também. Para Sandra L. Beckett, o crossover resulta da combinação de factores literários e de marketing. Por um lado, os adolescentes estão a ficar cada vez mais sofisticados no seu desejo por desafios. Por outro, a cultura de massas infantiliza os adultos, muitos dos quais não integram a verdadeira cultura do conhecimento mas apenas a da informação. Quer então isto dizer que os livros são maus? Não, pelo contrário. A investigadora afirma que muita da melhor ficção está actualmente a ser publicada para jovens e que é no universo infanto-juvenil que a literatura está a romper com as categorias estabelecidas pelo edifício do cânone e dos estudos literários. Apesar de ser, no momento, um fenómeno mais visível no género fantástico, a leitura cruzada (ainda que não orientada pelo marketing editorial) sempre existiu.

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