«O objectivo declarado para que confluem as obras do princípio do século é a formação do adulto; as intenções formativas e informativas procuram tirar prontamente a criança desse estado quase vergonhoso que é a infância em oposição ao estatuto todo-poderoso de adulto. (...)
O tom geral é de urgente didactismo, através de um estilo sentencioso e pesado (...) Aqui se evidencia mais uma vez a indefinição do público leitor destinatário da obra: a criança mais o povo - implicitamente, a população incluta - estão confundidos no mesmo grupo, talvez sob a nomenclatura não explicitada de "leitores pouco exigentes". (...)
É de registar que o pendor pedagógico deitou raízes tão fundas que hoje, já no século XXI, é ainda necessário fazer a defesa do elemento não-didáctico; a preocupação didáctico-moralista persiste em asfixiar a obra literária para crianças, impondo-lhe o desempenho de funções que não são exigidas ao trabalho literário para adultos. Poucos, pouquíssimos mesmo, são os autores suficientemente libertos dessa pressão para se entregarem à criação de obras tendo o valor estético como prioridade absoluta.»
Natércia Rocha, Breve História da Literatura para Crianças em Portugal, Caminho, pp. 47-49
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