«Quase no final do decénio - mais rigorosamente, em 1958 - entram em funcionamento as bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian. É uma nova dinâmica para o movimento que culmina no encontro leitor/livro; é este que vai em busca do seu leitor, levado pelas bibliotecas itinerantes - que percorrem pequenas povoações - ou pelas bibliotecas fixas que colocam o livro ao alcance de populações até então privadas de acesso a bibliotecas e de contactos fáceis com centros difusores de cultura. Para as crianças, as "carrinhas" da Fundação Gulbenkian são "a festa do livro". Quantas delas nunca teriam lido um conto de fadas ou uma história de aventuras se as "carrinhas" não fossem ao seu encontro! O livro escolar teria sido para elas o único livro e a leitura como actividade individual, como origem de prazer, ficaria fenómeno ignorado. É nessas bibliotecas - prontamente formando uma rede - que as crianças alfabetizadas na explosão escolar dos anos 60 vão encontrar a recompensa para o esforço de aprender a ler: nelas encontram de tudo e a possibilidade de escolher ou recusar livremente, sem pressões familiares ou escolares, realizando a aprendizagem de "ser leitor". (...)
A acção das bibliotecas fixas e itinerantes da Fundação Gulbenkian faz-se sentir pela sua repercussão em dois campos: por um lado, levam o empréstimo do livro - e, portanto, o acesso gratuito às obras - às crianças dos meios isolados onde nada chamava para a leitura; por outro, as aquisições regulares e substanciais da Fundação para abastecimento dessas bibliotecas são um aliciante para os editores, necessariamente atentos ao escoamento das edições e ao seu quantitativo.»
Natércia Rocha, Breve História da Literatura para crianças em Portugal, Caminho, pp. 90, 93
Recordamos mais uma vez que o trabalho das carrinhas itinerantes é hoje tão importante como nos anos 60, para chegar a populações isoladas, para levar livros, informação e as novas tecnologias aos mais e menos jovens.
O trabalho do Nuno Marçal comprova-o. A acompanhar, no Papalagui.
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